Justiça decreta prisão de suspeito pela morte de cinegrafista


11/02/2014


Caio Silva de Souza, de 23 anos, teve prisão temporária decretada pela Justiça do Rio. (Crédito: Divulgação)

Caio Silva de Souza, de 23 anos, teve prisão temporária decretada pela Justiça do Rio. (Crédito: Divulgação)

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou na noite desta segunda-feira, 10 de fevereiro, a prisão temporária de Caio Silva de Souza, de 23 anos, suspeito de ter ateado fogo ao rojão que atingiu a cabeça do cinegrafista Santiago Andrade. A Polícia Civil do Rio está fazendo buscas em diversos pontos do Estado para cumprir o mandado de prisão de Souza, que está sendo indiciado por homicídio doloso qualificado por uso de explosivo.

O delegado Maurício Luciano de Almeida, titular da 17ª DP (São Cristóvão), havia pedido a prisão do suspeito ao longo do dia após a identificação feita pelo manifestante Fábio Raposo Barbosa, que estava preso desde domingo, dia 9. Barbosa e Souza podem ser condenados a até 35 anos de prisão. O advogado de Raposo tentará enquadrar o cliente no crime de lesão corporal seguida de morte, com pena de 4 a 12 anos de prisão.

Segundo o delegado, os dois acusados não se conheciam e se encontraram durante a manifestação. Ele afirmou que o inquérito aponta os suspeitos por crime de homicídio intencional, mas que não seria um atentado contra a liberdade de imprensa.

“O objetivo deles era atingir as forças policiais, mas o cinegrafista estava ali no meio do fogo cruzado, infelizmente”, afirmou Almeida.

De acordo com as informações fornecidas pelo tatuador Fábio Raposo, de 22, preso na Penitenciária Bandeira Estampa, em Bangu, zona oeste, ele é uma pessoa violenta. “Além do grande porte físico, ele se envolveria constantemente em brigas durante as manifestações”, afirmou o delegado da 17ª DP.

A polícia chegou até Souza depois que o advogado de Raposo, Jonas Tadeu Nunes, repassou à polícia nome, codinome e CPF do suspeito. Segundo o delegado, as informações do advogado confirmaram os dados obtidos pelo serviço de inteligência da Polícia Civil.

Senado

O presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu nesta segunda-feira a punição “exemplar” dos envolvidos na morte de Santiago e se comprometeu a colocar o Legislativo para “agravar o crime”.

“Vamos telefonar para a família do cinegrafista, e o Congresso Nacional vai fazer a sua parte no sentido de agravar qualquer punição que possa ser dada, para que isso não volte a existir”, disse.

“Agravar o crime para que você puna exemplarmente. É preciso esclarecer e agravar para que essas coisas não voltem a acontecer. Quando você pune levemente você passa a ideia para a sociedade que o crime compensa e o crime não pode compensar”, acrescentou, sem deixar claro se pretende sugerir uma legislação mais dura para crimes cometidos contra jornalistas ou sobre crimes violentos em geral.

A morte do cinegrafista ocorre no momento em que o Senado coloca como destaque de sua pauta o projeto que prevê pena de 15 a 30 anos por atos de terrorismo. Opositores ao texto acreditam que a proposta pode ser uma tentativa do governo em reprimir as manifestações durante a Copa do Mundo de 2014. O projeto deve ir à votação até semana que vem.

Notas de repúdio

Em nota divulgada nesta segunda-feira, a TV Bandeirantes afirmou que o responsável pela morte de Santiago é “exemplo de baderneiro” e que vai acompanhar de perto as investigações, mas não informou porque o profissional não estava de capacete e coletes protetores na cobertura da manifestação.

Diz a nota:
“A tragédia que envolve a morte do cinegrafista Santiago Andrade – e que nos deixa arrasados diante da perda de um companheiro querido – é mais uma evidência de que a desordem está imperando nas ruas de nossas cidades. O desvairado que soltou a bomba assassina é um exemplar conhecido de baderneiro, como tantos que vêm espalhando o terror, infiltrados entre manifestantes. A força de reação que encontram não tem sido suficiente para intimidá-los. Pelo contrário, estão cada vez mais ousados e seguros nas suas ações violentas. A Band vai acompanhar e exigir, passo a passo, as investigações, o processo e a condenação desse assassino e de seu grupo. E, ao fazer isso, estará solidária não só com a família de Santiago Andrade. Mas com toda a família brasileira, que já não suporta viver cercada de tantas e variadas ameaças, sentindo-se numa terra de ninguém.”

Outras entidades também manifestaram seu apoio. Nesta terça-feira, 11 de fevereiro, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (SJPERJ) e do Rio Grande do Sul (SindJor/RS) emitiram comunicados em que demonstram seu pesar pela tragédia.

“O SJPERJ considera a ocorrência atentatória à liberdade de expressão tão duramente conquistada pelo povo brasileiro. Os jornalistas e demais cidadãos brasileiros repudiam qualquer tipo de violência, parta de onde partir, e exigem que a cobertura jornalística das investigações não seja objeto de manipulação da informação para fins inconfessáveis e que sirvam de pretexto para a criminalização dos movimentos sociais”.

“O SindJor/RS se solidariza com os familiares e colegas de Santiago Andrade. Esperamos que os fatos sejam apurados e os envolvidos respondam pelo ato, sem que isso impeça as manifestações realizadas no país”, afirma o presidente do SindJor/RS Milton Simas.

*Com informações dos jornais Valor Econômico e Estado de S. Paulo, e do portal Terra.