Carta em Solidariedade à família do “Almirante Negro”


26/04/2024


Prezado Adalberto do Nascimento Candido, Candinho

Escrevemos esta carta para expressar nossa profunda solidariedade neste momento difícil que você e sua família enfrentam com mais uma agressão à memória de seu pai João Candido, o Almirante Negro, que liderou, em 1910, a rebelião de marinheiros contra castigos e práticas racistas que foram cometidos pela Marinha Brasileira.

No momento em que a Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados discute o PL 4046/21 que inscreve o nome de João Cândido Felisberto no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, nada mais inoportuno e preconceituoso do que o documento enviado pelo almirante Olsen aos deputados.

Ficamos consternados ao saber das declarações depreciativas feitas pelo Ministro da Marinha almirante Marcos Sampaio Olsen que, em um ato de desrespeito e leviandade, menosprezou e hostilizou a memória de seu pai. Chamar as atitudes de João Candido de “deploráveis” e qualificar sua liderança na Revolta da Chibata de um “flagrante exemplo de conduta reprovável” é não apenas insensível, mas também uma flagrante distorção da história.

João Candido foi um homem corajoso e dedicado à luta por justiça e igualdade. Sua liderança foi fundamental para garantir o reconhecimento dos direitos dos marinheiros brasileiros e marcar um capítulo importante na história do nosso país. As ações de João Candido, longe de serem reprováveis, devem ser celebradas como atos de bravura e compromisso com os direitos humanos.

As declarações do almirante demonstram uma profunda falta de conhecimento sobre a história e um desprezo pela memória de um homem que dedicou sua vida à luta por um Brasil mais justo. É lamentável que alguém com tão pouco apreço pela verdade e pelo respeito se sinta no direito de proferir tais palavras ofensivas.

Temos a certeza de que a maioria do povo brasileiro reconhece e admira a importância de João Candido. Sua luta contra os castigos físicos na Marinha continuará inspirando gerações de brasileiros que lutam por um país com mais justiça social.

Em nome de todos os seus colegas da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) que admiram e respeitam a memória de João Candido eis aqui o nosso protesto.

Obs: Adalberto do Nascimento Candido, Candinho, trabalhou na ABI por 62 anos.

Atenciosamente,
Luiz Paulo Lima
Jamile Barreto
Marcos Gomes
Diretoria de Igualdade Étnico-Racial da ABI