Por Cláudia Souza
07/03/2015
O veterano jornalista e escritor é o novo ocupante da cadeira 32, que pertenceu ao dramaturgo, romancista e poeta Ariano Suassuna, que morreu aos 87 anos, em 23 de julho de 2014, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico. A cerimônia de posse foi realizada na sede da Academia, no Centro do Rio, na noite do último dia 6.
Zuenir Ventura, aos 83 anos, é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras(ABL). Visivelmente emocionado Zuenir discursou sobre o papel relevante da Academia para a cultura nacional.
— Estou alegre e tenso. O peso simbólico deste fardão é muito maior que o real. O principal peso é entender essa imortalidade. Jamais imaginei que a ABL tivesse tanto carinho por mim, declarou antes do início da solenidade.
O novo imortal revelou ao público que nos últimos meses debruçou-se sobre a obra do paraibano Ariano Suassuna, seu antecessor na ABL:
— Nessa releitura de Ariano, ele tornou-se maior para mim. Se eu puder tornar o Ariano ainda mais acessível aos jovens, já vou me sentir realizado, porque vou sucedê-lo e não substituí-lo. Ele é insubstituível. Pretendo ajudar a difundir a obra dele.
Ao longo de seu discurso, Zuenir destacou a grandiosidade do estilo e da personalidade de seu antecessor:
— Fazer um discurso sobre Ariano Suassuna é muito difícil. Ele é um homem pelo qual sinto profunda admiração. O insuperável Suassuna debochava quando era chamado de anacrônico. Costumava usar o senso de humor como antídoto ao trágico
Confrade
O novo membro da ABL foi recepcionado pela imortal Cleonice Bernardinelli, da qual foi aluno na Faculdade Nacional de Filosofia.
— Relembrando versos do velho amigo Manuel Bandeira, um confrade que aqui nos precedeu, digo convicta: entre Zuenir, pois aqui você não precisa pedir licença. Na sequência, Zuenir recebeu de Eduardo Portella a espada dos imortais, o colar por Merval Pereir, e o diploma por Domício Proença Filho.
— A ABL está enriquecida com a presença de um observador arguto da contemporaneidade brasileira, reconhecido pela postura generosa e gentil que tão bem o caracterizam, declarou Geraldo Holanda Cavalcanti, presidente da ABL
Trajetória
Bacharel e licenciado em Letras Neolatinas, Zuenir Ventura lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Escola Superior de Desenho Industrial(Esdi), e na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Atualmente colunista do jornal “O Globo”, Zuenir ingressou no jornalismo como arquivista, em 1956. Nos anos 1960 e 1961 conquistou bolsa de estudos para o Centro de Formação dos Jornalistas de Paris, França. Entre 1963 e 1969, atuou em diversos veículos de comunicação, entre os quais o “Correio da Manhã”, as revistas “Fatos & Fotos”, “O Cruzeiro”, e “Visão-Rio”.
No fim de 1969, o jornalista escreveu para a Editora Abril uma série de 12 reportagens intitulada “Os anos 60 – a década que mudou tudo”, posteriormente publicada em livro.
Em 1971, Zuenir retornou à ” Visão”, permanecendo até 1977, quando passou a integrar a equipe da revista “Veja”.
Em 1981, aceitou o convite para atuar na revista “IstoÉ”. Em 1985, transferiu-se para a revista “Domingo”, do” Jornal do Brasil”.
Em 1988, Zuenir lançou o livro “1968 – o ano que não terminou”, com mais de 400 mil exemplares vendidos. Um ano depois, Zuenir escreveu para o JB a série de reportagens “O Acre de Chico Mendes”, pela qual recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo e o Prêmio Vladimir Herzog.
Em 1994, o jornalista lançou o livro “Cidade partida”, vencedor do Prêmio Jabuti de Reportagem. Em 1998, Zuenir publicou as obras “O Rio de J. Carlos”, e “Inveja – Mal Secreto”, e “Chico Mendes – Crime e Castigo”
As obras mais recentes são “Minhas histórias dos outros, 1968 – o que fizemos de nós”, “Conversa sobre o tempo”, escrita em parceria com o jornalista e escritor Luis Fernando Verissimo, e “Sagrada Família”.
Em 2008, Zuenir Ventura recebeu da ONU um troféu especial como um dos cinco jornalistas que “mais contribuíram para a defesa dos direitos humanos no País ao longo dos últimos 30 anos”. Em 2010, foi eleito “O jornalista do ano” pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros.