“Voltem para a senzala, de esquerda, inúteis”: presidente da Palmares


31/08/2021


“Afromimizentos” no Twitter da Palmares

Após ler a reportagem de Dimitrius Dantas e Gustavo Cunha na primeira página do Segundo Caderno de O Globo de hoje, a Diretoria de Cultura e Lazer da ABI traz para o site mais uma vez as atitudes antidemocráticas do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que classificou de “afromimizentos” em 33 publicações do seu Twitter, os movimentos negros.  Sérgio Camargo escreveu: “Invasão massiva de afromimizentos na minha TL. Voltem para a senzala de esquerda, inúteis!”.

Desde novembro de 2019, Sérgio é alvo de uma ação da Justiça do Ministério Público do Trabalho (MPT), pedindo seu afastamento da presidência do órgão, e reagiu às acusações de assédio, perseguições ideológicas e discriminação –  movidas contra ele por 16 servidores e ex-funcionários do órgão – com mais polêmica.

Como foi revelado no programa do “Fantástico” da TV Globo no domingo, Camargo tem postado ataques e textos discriminatórios no Twitter desde janeiro de 2020, data de sua nomeação. Foram mais de 10,6 tuítes e quase 290 mil seguidores novos.

A ação do MPT exige, além de afastamento da presidência da autarquia, que Camargo pague R$200mil por danos morais aos funcionários, que revelaram uma rotina de humilhações e terror psicológico do órgão. Com 135 páginas a ação do MPT, a que O Globo teve acesso, justifica a saída de Camargo da presidência com base em relatos que apontam “processo de perseguição ideológica daqueles que trabalham na instituição”. Entre os pontos destacados estão a pressão do presidente para que os diretores “entregassem os esquerdistas das equipes” e a própria ação de Camargo vasculhando postagens de servidores e funcionários, para identificar seus posicionamentos políticos. E ainda há denúncias de exposição de trabalhadores “a situações humilhantes e constrangedoras”, além da perseguição “ ao povo do axé e a intimidação do trabalho técnico de quem trata no tema no âmbito da Fundação”.

E Camargo tuitou: “É minha PRERROGATIVA como presidente da instituição exonerar esquerdistas e nomear conservadores. Isso não é asssédio suas antas. É dever moral! Não tenho que trabalhar com esquerdopatas nem com militantes vitimistas”.

Sérgio Camargo sempre criou polêmicas em torno de seu mandato:. Em 2019 disparou que “a negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”. Em 2020, ao criticar o dia da Consciência Negra disse: “Zumbi era um filho da puta que escravizava pretos”. E em dezembro, excluiu 27 nomes de personalidades homenageadas pela Palmares com Gilberto Gil, Conceição Evaristo, Elza Soares e Martinho da Vila.

Em 2021: atacou Lázaro Ramos, colocou livros que classificou de esquerda na “Acervo da vergonha” junto do símbolo do comunismo. Ameaçou ainda processar Martinho da Vila que o criticou no “Roda Viva”; substituiu o machado de Xangô do logotipo da Palmares, achando que era símbolo comunista. Em 21 de agosto passado foi acusado na Justiça de assédio moral, discriminação e perseguição ideológica.