Bate-papo em português é sucesso nos EUA


25/01/2008


 Scott A Farber e Shirley Nigri

Quando foi a Israel em 2001, a jornalista brasileira Shirley Nigri não podia imaginar como a viagem mudaria sua vida: conheceu o executivo de marketing Scott A. Farber, casou-se e foi morar com ele nos Estados Unidos. Foi lá que, já usando o sobrenome do marido, lançou o canal de TV a cabo e a revista Bate Papo, que viraram a sensação entre imigrantes brasileiros, portugueses e cabo-verdianos no estado de Massachusetts.

Shirley Nigri Farber se formou em Comunicação Social na Faculdade da Cidade, no Rio de Janeiro. De 1997 a 2000, produziu um programa na Rádio Imprensa e, depois, retomou os estudos, fazendo pós-graduação em Jornalismo Impresso na UniverCidade.

De volta ao mercado de trabalho, tornou-se correspondente da agência de notícias JTA, onde redigia matérias para distribuição nos Estados Unidos e outros países de língua inglesa. Isto até embarcar para Israel, onde conheceu Scott:
— Quando fomos morar em Boston, cheguei a pensar em arranjar emprego como jornalista em algum veículo local — diz ela. — Mas, mesmo estando habituada a escrever em inglês, desisti. Seria difícil competir com os colegas norte-americanos.

Lançamento 

 Incentivada pelo marido, a jornalista diz que foi amadurecendo a idéia de lançar um veículo próprio, quando descobriu que pelas leis norte-americanas qualquer pessoa — desde que esteja devidamente legalizada — pode apresentar um projeto de produção de programas comunitários para exibição em TV a cabo. Outro dado relevante que pesou na decisão foi o fato de Boston — como quase todas as principais cidades de Massachusetts, no Nordeste dos Estados Unidos) — ter uma grande comunidade de imigrantes brasileiros — o português é o idioma de cerca de 1 milhão de pessoas na região.

Em 2005, Shirley inaugurou o canal Bate Papo TV, com o programa “Bate papo com Shirley”, em que artistas, líderes comunitários, autoridades e outras personalidades debatem temas de interesse da comunidade:
— Fomos ao ar pela primeira vez num dia 7 de setembro. Aproveitei para falar um pouco da Independência do Brasil, mas os maiores destaques foram assuntos locais, como as dicas sobre compras de imóveis, seguro-saúde e cidadania.

O programa começou a ser exibido na cidade de Stoughton, com cerca de 30 mil habitantes, 80% dos quais descendentes de portugueses. Hoje, tem grande audiência em mais de 14 municípios de Massachusetts, principalmente Somerville e Framingham, com maior concentração de brasileiros. O sucesso é tanto que Shirley vem recebendo pedidos de transmissão para outros estados:
— Apesar de ser o único em língua portuguesa é mostrado em um canal de TV em solo norte-americano, meu programa também é voltado para o público nativo. Por isso, sempre convido para as entrevistas gente como pastores, chefes de polícia e advogados, que falam aos telespectadores sobre comportamento, leis e outros assuntos.

Revista

Como o programa não pode ser exibido em emissoras e sites comerciais, a jornalista e o marido resolveram criar uma revista:
— Muita gente nos procurava, interessada em anunciar seus produtos na TV, mas a legislação não permite que um canal comunitário fature com anunciantes. Também recebemos pedidos de pessoas interessadas em receber notícias do nosso programa nos jornais que circulam nas comunidades de imigrantes. Então, resolvemos imprimir as entrevistas e assim nasceu a Bate Papo.

O primeiro número circulou em abril de 2006, com oito páginas e tiragem de 3 mil exemplares. Hoje, são 10 mil, todos para assinantes, fora os 3 mil e-mails que recebem o conteúdo gratuitamente, em pdf. A publicação conta com 400 pontos de distribuição — como restaurantes, butiques, lojas e associações de imigrantes — em Massachusetts, New Hampshire e Rhode Island — “é a única revista voltada para brasileiros que circula nos três estados”, diz Shirley.

Sucesso

Animada com o sucesso imediato de Bate Papo, a jornalista diz que se sente feliz por ter um projeto editorial que ajuda as pessoas em dois sentidos:
— Algumas ganham dinheiro anunciando com a gente e outras ficam contentes porque recebem informações sobre seu país de origem. Sem contar que há também o lado do entretenimento, mostrando que a vida para brasileiros nos Estados Unidos não é somente trabalho, nem sofrimento. Com a revista, conseguimos alcançar o meio-termo de falar de coisa séria e diversão.

Shirley confessa que, devido à concorrência, não esperava que a revista desse tão certo. E que a fórmula para o sucesso de Bate Papo é a qualidade:
— Ninguém investe em qualidade profissional e visual nos veículos para brasileiros. A qualidade de impressão é ruim e os textos são carregados de erros de português que me fazem sentir vergonha.

Igualmente empolgado, Scott Farber conclui:
— Nosso diferencial, além da seção de serviços de ajuda, é cobrir os eventos da comunidade brasileira e conectá-la com associações de imigrantes de língua portuguesa em outras cidades. Isso faz com que as pessoas não se sintam isoladas.