Jovem é preso e admite ter acendido rojão que atingiu câmera da Band


12/02/2014


Caio Silva de Souza (Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo)

Caio Silva de Souza (Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo)

Caio Silva de Souza, 22 anos, suspeito de ter acendido o rojão que atingiu o cinegrafista da Band Santiago Andrade, na manifestação contra o aumento das tarifas de ônibus, na quinta-feira, 6, foi preso em Feira de Santana (BA), durante a madrugada desta quarta-feira, 12.

O delegado que investiga o caso, Maurício Luciano de Almeida e Silva, três agentes da 17ª DP (São Cristóvão) e o advogado Jonas Tadeu acompanharam a prisão, que contou com o apoio de agentes da polícia baiana. Caio Souza chegou ao Rio às 8h42, no voo 06211 (Salvador-Rio, da Avianca), no Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.

O suspeito foi encaminhado para a Cidade da Polícia, conjunto de unidades policiais no Jacarezinho, Zona Norte do Rio, onde os investigadores que efetuaram a prisão concederam uma entrevista coletiva à imprensa para informar detalhes sobre o caso.

Caio Souza, que passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal, não confessou o crime no primeiro depoimento. Contudo, em entrevista à TV Globo, o suspeito admitiu ter acendido o rojão que atingiu o cinegrafista Santiago Andrade, cuja morte cerebral foi anunciada nesta segunda-feira, dia 10.

No final da tarde, o preso foi submetido a exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal, e, em seguida, encaminhado à Cadeia Pública José Frederico Marques, no Complexo de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste, onde já está preso Fábio Raposo.

Caio Souza e Fábio Raposo, ambos defendidos pelo advogado Jonas Tadeu, estão sendo indiciados por homicídio doloso qualificado por uso de artefato explosivo e crime de explosão. Se forem condenados, podem pegar até 35 anos de prisão.

O corpo de Santiago Andrade, segundo informações da família, será velado e cremado na manhã desta quinta-feira, 13, no Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária.

Aliciamento

Auxiliar de serviços gerais de uma empresa prestadora de serviço do Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, Caio Souza tem quatro registros na polícia do Rio: em 2008, deu queixa dizendo ter sido agredido pelo irmão; em 2010, foi encaminhado duas vezes à delegacia por suspeita de porte de drogas, mas não chegou a ser acusado; em 2013, foi à polícia dizer que tinha sido agredido em um protesto no Centro do Rio.

O delegado Maurício Luciano de Almeida e Silva informou que no ambiente de trabalho ficaram surpresos de saber do envolvimento do Caio no episódio:—Segundo os relatos de pessoas próximas, Caio é uma pessoa completamente diferente do que demonstrou na manifestação. As pessoas dizem que ele é calado, tranqüilo, o que leva a crer que, sob efeito da multidão, ele se transforma, observou o policial.

Fuga

Caio contou que pretendia fugir para a casa do avô, no Ceará, mas que foi convencido por telefone pela namorada a se entregar à polícia na Bahia. Ele disse que não sabia que o artefato que matou Santiago era um rojão, e que acreditava tratar-se do explosivo conhecido como “cabeção de nego”. Caio pediu desculpas pela “morte de um trabalhador, como ele próprio, sua mãe e seu pai”.

Presente à coletiva de imprensa, o chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, afirmou que o advogado de Caio, que também representa o outro envolvido no caso preso, Fábio Raposo, intercedeu para agilizar a entrega.  “As equipes estavam empenhadas em diferentes frentes e o advogado intercedeu no sentido de demovê-lo da ideia de se evadir. Se não fizesse isso a polícia ia acabar encontrando-o, porque a Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil já monitorava o deslocamento dele para o Nordeste. Estamos convencidos de que a participação de Caio nessas manifestações de forma efetiva com emprego de violência não se restringiu ao fato que agora já sabemos, e temos provas contundentes de ser ele o autor da morte do Santiago, disse Veloso.

Aliciamento

Na entrevista concedida à TV Globo, Caio Souza disse que há jovens que são atraídos por terceiros a participarem do protesto: “Alguns vão aliciados sim, outros não”. O advogado Jonas Tadeu confirmou a versão.

—Em cada manifestação que participava, com intuito de ‘vamos fazer um quebra-quebra, Caio ganhava R$ 150. Esses jovens recebem fomentos financeiros de organismos que organizam estes protestos com o objetivo de desarticular o governo, em vez de fazer uma oposição correta. Tem que ir atrás das pessoas que aliciam outros jovens. Eles desgraçaram a família de outros jovens e do Santiago, disse o advogado, sem, contudo, informar quem seriam os responsáveis pelo suposto aliciamento.

O chefe de Polícia Civil do Rio afirmou ainda que o aliciamento de manifestantes por organizações políticas será investigado por uma força-tarefa. O grupo composto por policiais de diferentes delegacias foi criado no ano passado, na época em que uma onda de protestos tomou conta do Rio, a maioria terminando em atos de vandalismo.

—Há inquéritos em andamento para investigar o aliciamento de manifestantes por organizações políticas ou criminosas. Uma força tarefa que envolve várias delegacias foi formada para isso.

*Com Extra e G1, TV Globo, Globonews