Austregésilo de Athayde: sinônimo de cultura


16/10/2008


O Casarão de Autregésilo de Athayde abre oficialmente suas portas neste sábado, dia 18, (Rua Cosme Velho, 599 — Rio de Janeiro-RJ) em homenagem à memória do jornalista, escritor e imortal, com o evento gratuito Arte em Laranjeiras e Cosme Velho, que inclui lançamentos de livros, exposições de gravuras, fotografia e esculturas e apresentações de grupos de teatro, dança e música.

Sob a direção de Clara Sandroni, neta do jornalista, e a coordenação da produtora Graça Gomes, o Casarão pretende se firmar como um centro cultural diversificado, referência para o desenvolvimento humano e social na cidade e no bairro onde o Austregésilo viveu com a família de 1942 até a morte, em 1993:
— O espaço representa a continuidade das idéias de Austregésilo. Abriremos as portas do Casarão com uma maratona cultural, das 10h às 18h, reunindo artistas de diferentes gêneros e expressões — destaca Graça Gomes.

Memória

O Casarão de Austregésilo de Athayde foi construído em fins do século XIX, originalmente como uma casa de cômodos. Nos anos 40, foi comprado e reformado pelo jornalista, que nele residiu ao longo de quase cinco décadas. Após sua morte, o imóvel permaneceu fechado por cerca de dez anos, até que a família decidiu fundar ali um centro cultural em homenagem à memória do patriarca.

Depois de uma reforma, em maio de 2006, o Casarão recebeu o título de Instituto Cultural Austregésilo de Athayde, e, desde então, tem sido cenário de saraus, eventos gastronômicos, oficinas de dança, ensaios teatrais, exposições de artes plásticas e cursos de gestão cultural, além de abrigar um espaço especialmente dedicado à vida e obra de seu antigo proprietário:
—Temos muitos projetos, muita coisa a fazer. E nos surpreendemos com o sucesso das iniciativas que surgiram ainda antes da inauguração — diz Clara Sandroni.

Entre os próximos projetos, a construção de uma biblioteca infanto-juvenil e um  portal que disponibilizará artigos, fotografias, correspondências e outros documentos que ilustram a trajetória do jornalista e acadêmico:
— Preservar a memória de Austregésilo é preservar a memória do Brasil neste último século — sublinha Graça Gomes.

História
 

Filho do Desembargador José Feliciano Augusto de Athayde e de Constância Adelaide Austregésilo de Athayde, Austregésilo nasceu em Caruaru, Pernambuco, em 1898.

Aos 12 anos, ingressou no seminário e cursou até o 3º ano de Teologia. Quando percebeu que não tinha vocação para o sacerdócio, iniciou o trabalho como professor e na imprensa.

Em 1919, chegou ao Rio de Janeiro, à época capital federal, onde continuou lecionando e passou a escrever com freqüência para o jornal A Tribuna.

Em 1921, estreou na redação do Correio da Manhã, dedicando-se à crítica literária. No mesmo ano, publicou “Histórias amargas”, seu primeiro livro.

Já formado em Direito, em 1924, aceitou o convite de Assis Chateaubriand para dirigir a redação de O Jornal, embrião dos Diários Associados.

Crítico ferrenho da Revolução de 1930, foi preso e exilou-se em países da Europa — Portugal, Espanha, França e Inglaterra — e na Argentina.

Ao retornar ao Brasil, reiniciou as atividades como jornalista nos Diários Associados. Foi articulista e Diretor do Diário da Noite e escreveu para  O Cruzeiro. Pelo trabalho na revista foi laureado nos EUA em 1952 com o prêmio Maria Moors Cabot.

Em 1948, como delegado do Brasil na 3ª Assembléia da ONU, em Paris, foi um dos membros da comissão que redigiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo reconhecido pelos próprios companheiros de mesa como o mais ativo colaborador na redação do histórico documento.

Em 9 agosto de 1951, foi eleito para a Cadeira nº 8 da Academia Brasileira de Letras, entidade que presidiu de 1959 até a sua morte, em 1993.

Austregésilo de Athayde atuou de forma incisiva no sentido de preservar e aumentar o prestígio da ABL como referência cultural brasileira. Defendeu e conseguiu a permanência da Academia no Rio de Janeiro, quando da mudança da capital para Brasília, e aumentou consideravelmente o patrimônio da instituição.

Durante toda a vida, esteve ligado profissionalmente à imprensa — presidiu o Jornal do Commercio já em idade avançada — e costumava dizer:
— Jamais escrevi um artigo que não expressasse a linha de minhas convicções democráticas. Nunca elogiei partidos, homens ou grupos. Sou incapaz de ser a favor de homens. Sou a favor de idéias, de pontos de vista. O que almejo mesmo é o pensamento democrático, a preservação de nossa unidade nacional e o bem do povo brasileiro.