PM emprega violência contra manifestantes no Centro do Rio


Por Claudia Souza e Igor Waltz*

11/07/2013


Tumulto entre manifestantes e policiais após um homem ter sido detido próximo à Igreja da Candelária (Crédito: Marcelo Carnaval / Agência O Globo)

Tumulto entre manifestantes e policiais após um homem ter sido detido próximo à Igreja da Candelária (Crédito: Marcelo Carnaval / Agência O Globo)

Cerca de 300 pessoas entraram em confronto com a Polícia Militar, no início da noite desta quinta-feira, dia 11, durante o protesto que marcou o Dia Nacional de Lutas com Greves e Manifestações, organizado por centrais sindicais e movimentos sociais.

A confusão teve início quando um grupo conhecido como Black Blocs provocou os PMs que acompanhavam a passeata na Avenida Rio Branco, na altura do Teatro Municipal. A polícia jogou bombas de efeito moral no grupo, que revidou com morteiros, fogos de artifício e coquetéis molotov. Uma agência bancária teve a fachada de vidro destruída pelos manifestantes. Houve muito correria e os organizadores encerraram o ato, que seguiu da Candelária à Cinelândia, e reuniu mais de 2 mil pessoas.

O grupo que entrou em confronto com a PM seguiu em direção à Avenida Almirante Barroso, onde quebraram fachadas de lojas. Para tentar dispersar o grupo, os policiais jogaram bombas de efeito moral. Pelo menos quatro focos de incêndio foram localizados na área. Uma cabine da PM foi saqueada na Avenida República do Chile, esquina com Lélio Gama. Uma agência do banco Santander também teve caixas automáticos danificados e os vidros foram quebrados. A polícia dispersou manifestantes com jatos d’água.

Na Avenida Presidente Vargas, uma equipe da TV Globo foi cercada por manifestantes e a polícia usou gás e spray para afastá-los.

Tumulto à tarde

Antes da marcha, que seguiu da Candelária à Cinelândia, houve um princípio de confusão após um rapaz ser abordado por policiais militares suspeito de quebrar vidraças da Igreja da Candelária. Outras informações dizem que o homem foi detido por portar maconha. O tumulto começou atrás da Igreja, quando os policiais abordaram o rapaz, que resistiu, foi derrubado e arrastado pelo chão.

Mediadores da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) protestaram contra a atitude dos PMs. Um grupo com cerca de 50 pessoas com máscaras e bandeiras pretas com o símbolo do anarquismo em vermelho cercou os policiais, que reagiram lançando bombas de efeito moral e gás de pimenta.

O Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM) fez um cordão de isolamento em torno dos outros policiais. Os manifestantes lançaram pedras e outros objetos. Um PM foi atingido. Os policiais, então, lançaram três bombas de gás e dispersaram o grupo com spray de pimenta, lançado a curta distância. O confronto deixou o clima tenso entre os 2,5 mil participantes da manifestação.

Protestos pela cidade

Após a confusão, os manifestantes seguiram em passeata pela Avenida Rio Branco, no sentido Cinelândia. Participaram dos atos grupos sindicais UGT, CTB, Nova Central, CGTB, CUT, Força Sindical, representantes de movimentos sociais, estudantes, aposentados e pessoas sem ligações com sindicatos ou partidos.

Houve protestos nas zonas Sul e Portuária da cidade. Manifestantes se reuniram no Largo do Machado e seguiram em um ato segue pacífico até o Palácio Guanabara, sede do governo do estado, no bairro de Laranjeiras. Por volta das 20h, cerca de 150 homens da PM foram deslocados para monitorar a manifestação no local.

Mais cedo, um outro grupo de manifestantes realizou uma passeata na Zona Portuária do Rio. Eles seguiram pela Avenida Rodrigues Alves, no sentido Praça Mauá, e ocuparam duas faixas da via.

Durante a greve geral convocada para esta quinta-feira, 11, o transporte público funcionou normalmente no Rio de Janeiro, assim como hospitais e algumas escolas. Diversas lojas cercaram os estabelecimentos com tapumes, temendo a violência durante a passeata no Centro da cidade, onde boa parte das agências bancárias não funcionou ou encerrou o expediente mais cedo.

Reivindicações

Na região metropolitana, um protesto fechou parcialmente faixas da BR-463, em Itaguaí. Manifestantes atearam fogo em pneus em frente à Nuclebras Equipamentos Pesados, que fabrica cascos de submarino e equipamentos para plataformas de petróleo e para usinas nucleares. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o protesto durou cerca de 30 minutos e a pista foi liberada.

No norte fluminense, manifestantes bloquearam no início da manhã uma ponte que liga os municípios de Rio das Ostras e Macaé e atearam fogo em pneus. O protesto, coordenado pelo Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), teve a participação de outros movimentos sociais. Além das pautas nacionais, os manifestantes de Macaé pedem a redução dos gastos da prefeitura e da Câmara Municipal e saneamento básico em todo o município.

Em Campos dos Goytacazes, segundo o vice-presidente do Sindicato dos Bancários de Campos, Eder Reis, os bancários aderiram à greve. De acordo com o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), os eletricitários aderiram à paralisação, mas não houve interrupção no fornecimento de energia. Além das pautas nacionais, os manifestantes pedem investimentos municipais em saúde e educação e mais transparência no uso dos royalties do petróleo.

Em Volta Redonda, no Vale do Paraíba, o Movimento Passe Livre convocou a paralisação dos transportes do município, e a categoria aderiu. A cidade ficou sem ônibus até aproximadamente 10h, quando os veículos voltaram a circular.

Manifestações pelo País

Em São Paulo, manifestantes bloquearam durante a manhã a Ponte Estaiada, na Zona Sul da cidade. À tarde, 7 mil pessoas fecharam a Avenida Paulista nos dois sentidos, após concentração em frente ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, e caminharam em direção à Praça Roosevelt.

Já em Santos, um grupo de cerca de 250 estivadores e manifestantes invadiu no início da tarde um terminal da Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport), no Porto de Santos, e tomaram um navio Maersk La Paz, de bandeira de Hong Kong. Até as 18 horas desta quinta-feira, cerca de 50 trabalhadores avulsos se mantinham dentro da embarcação.

Em Belo Horizonte, houve greve geral de ônibus e metrô durante a manhã. À tarde, as linhas de ônibus voltaram a circular normalmente. Houve paralisação total dos transportes também em Porto Alegre e na região da Grande Vitória, onde médicos, bancários e professores aderiram à greve.

Bloqueio de Rodovias

Manifestantes bloquearam 35 rodovias em todo o País. No Rio Grande do Sul, estado com mais vias bloqueadas, foram registradas ocorrências no quilômetro (km) 164 da BR-386, próximo a Carazinho; e no km 80, na BR-468, no município de Santo Augusto. No Paraná, dois trechos da BR-376 foram paralisados – km 568 e km 626 -; na BR-277 também teve interdição no km 68, todos próximos à capital, Curitiba.

Em Alagoas, os pontos em que houve mais bloqueios foram na BR-10 e na BR-104. Também foram registrados bloqueios no km 107 da BR-423, próximo a Delmiro Gouveia e no km 241 da BR-316.

No Espírito Santo, foi fechado o km 120 da BR-262, próximo a Conceição do Castelo. No Rio Grande do Norte, o km 94 da BR-101, próximo a Natal, foi bloqueado. Em São Paulo, foi fechado o km 150 da BR-153, no município de Promissão.

*Com informações da EBC e dos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo e O Dia.