Truculência policial durante a noite no Rio


Por Igor Waltz*

12/07/2013


Confronto entre forças policiais e manifestantes deixou um rastro de destruição nas adjacências do Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro. (Crédito: Pedro Monteiro / Agência O Dia)

Confronto entre forças policiais e manifestantes deixou um rastro de destruição nas adjacências do Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro. (Crédito: Pedro Monteiro / Agência O Dia)

Depois do início pacífico, terminou em violência o ato realizado na Rua Pinheiro Machado, no bairro de Laranjeiras, em frente ao Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro. O confronto entre policiais e manifestantes acabou se alastrando para bairros vizinhos, como Flamengo e Botafogo. A tropa de choque atacou pessoas com gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha, que revidaram disparando rojões e ateando fogo em sacos de lixo.

O ato chegou a reunir cerca de mil pessoas. A área foi cercada por aproximadamente 240 PMs, de três batalhões. Por volta das 22h, a polícia fechou a Rua Pinheiro Machado nos dois sentidos, na altura do palácio. Para tentar dispersar manifestantes, policiais jogaram jatos de água e atiraram balas de borracha a esmo contra a multidão.

Após o confronto, cerca de 30 pessoas foram detidas nas imediações do Palácio. Muitos foram detidos sem saber o motivo. Os policiais, em sua maioria do Batalhão de Choque, estavam com os nomes cobertos na farda ou máscaras nos rostos.

Em protesto, moradores de prédios vizinhos bateram panelas em janelas e a PM reagiu atirando contra os edifícios. Morador do terceiro andar de um prédio da Rua Esteves Júnior, próximo à Praça São Salvador, em Laranjeiras, o jornalista Carlos Macedo foi surpreendido com o lançamento de uma bomba de gás lacrimogêneo, que atingiu a cozinha de seu apartamento. Ele e a família se abrigaram num dos cômodos da residência, para se protegerem.

“A gente ouviu o barulho de um choque na janela e uma fumaceira tomou conta do ambiente. Como conseguiram acertar a nossa janela é um mistério. Todo mundo estava correndo no chão. É por isso que a gente entende porque tanta gente morre de bala perdida”, lamentou Macedo, acrescentando que todos em casa estão com os olhos irritados. “Tentamos fotografar a ação. Agora estamos ilhados no único cômodo suportável”.

No vídeo abaixo, um morador da Praça registra o momento em que policiais atiraram contra os prédios do local.

Quem tentou se abrigar na Casa de Saúde Pinheiro Machado, que fica na rua, foi obrigado a subir para o segundo andar do prédio, pois o cheiro do gás invadiu o primeiro andar. O local teve ainda vidraças quebradas pelas balas disparadas pela PM. Algumas pessoas passaram mal.

Entre os que se abrigaram na clínica está Pedro Guimarães Lins Machado, de 27 anos, que recebeu atendimento por volta das 21h com quadro de traumatismo crânio-encefálico. Segundo nota, Pedro está lúcido, não corre risco de morte, mas deve continuar no CTI por mais 24 horas em observação. Ainda não há informações sobre como a vítima acabou ferida.

Em nota, o governador Sérgio Cabral defendeu a ação policial e afirmou que atos de vandalismo não serão tolerados no estado: “Grupos que vão para as ruas com o objetivo claro de gerar o pânico e destruir o patrimônio público e privado tentam se aproveitar das recentes manifestações legítimas de milhares de jovens desejosos de participar e aperfeiçoar a democracia conquistada com muita luta pelo povo brasileiro”.

Átila Roque, representante da Anistia Internacional no Brasil, e que também foi atingido por spray de pimenta em Laranjeiras, criticou a ação da PM na Praça São Salvador. “É uma tragédia que está acontecendo no Rio de Janeiro. A PM está mostrando que está despreparada. O que parece é que os policiais estão sem comando e agindo por conta própria”, afirmou Átila, em entrevista à Mídia Ninja, um grupo alternativo de comunicação pelas redes sociais.

Mais cedo, durante a tarde, um cinegrafista do canal de TV Band foi atingido por uma pedrada enquanto cobria o ato organizado por centrais sindicais no Centro do Rio de Janeiro. Houve confronto entre policiais militares e manifestantes na Avenida Rio Branco, próximo ao Clube Militar, no fim do protesto. A polícia agiu com bombas de gás lacrimogêneo. Os organizadores da passeata pediam em carro de som que os manifestantes se acalmassem e lembravam que o movimento era pacífico.

*Com informações dos jornais O Globo e O Dia e do site SRZD.