Polícia vai reavaliar ações durante protestos no Rio


Por Cláudia Souza*

18/07/2013


Barricadas de fogo na rua Ataulfo de Paiva Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo

Barricadas de fogo na rua Ataulfo de Paiva Foto: Marcelo Carnaval / Agência O Globo

Representantes da Cúpula de Segurança do Estado concederam entrevista coletiva nesta quinta-feira, 18, no Palácio Guanabara, após a manifestação realizada nos bairros do Leblon e Ipanema, na noite desta quarta-feira. A ação de vândalos deixou um rastro de destruição e violência nas ruas.

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), convocou a reunião de emergência, da qual participaram o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, o comandante da Polícia Militar, coronel Erir da Costa Filho, os secretários da Casa Civil, Regis Fichtner, e de Governo, Wilson Carlos Carvalho.

Durante o encontro foram discutidas ações para conter a violência dos recentes protestos. Na noite desta quarta-feira, 17, cerca de mil pessoas participaram de uma manifestação pacífica perto da residência do governador Sérgio Cabral, no Leblon. A passeata culminou em cenas de violência causadas pela ação de vândalos, que atearam fogo em barricadas de lixo, saquearam lojas e depredaram bancos.

O conflito começou por volta das 22h45m, na esquina da Avenida General San Martin com a Rua Aristides Espínola, no Leblon, quando um grupo teria jogado pedras contra os militares. Os policiais revidaram com bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

Segundo a Polícia Militar, sete PMs ficaram feridos com pedradas, e uma policial foi atingida nas costas por uma bomba de fabricação caseira. Foram presas dezesseis pessoas, encaminhadas para a 14ª DP (Leblon). Seis delas foram enquadradas no crime de formação de quadrilha e pagaram fiança. Outras nove também foram liberadas incluindo dois menores. Um homem, que estava com três morteiros na mochila foi autuado por porte de explosivo e ficou preso.

Por volta de 1h30m, cerca de cem manifestantes se concentraram em Ipanema, na esquina das ruas Aníbal de Mendonça e Redentor, para protestar perto da casa do Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Eles foram dispersados pelo Batalhão de Choque com balas de borracha, jatos d´água e bombas de efeito moral.

Já na manhã desta quinta-feira, equipes da 14ª DP (Leblon) percorreram as ruas dos bairros em busca de imagens que ajudem a identificar outros suspeitos. Os policiais fotografaram os estabelecimentos depredados e orientam os proprietários a prestar queixa de crime de dano ao patrimônio.

Planejamento

Durante a entrevista coletiva, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que o planejamento da polícia para atuação em protestos terá de ser refeito:

— Vamos analisar criteriosamente o que aconteceu ontem (quarta-feira), refazer o planejamento para uma próxima manifestação, analisar as medidas que não foram aplicadas e executá-las num novo protesto. Temos que pensar no que vai acontecer daqui pra frente.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, afirmou que houve dificuldade em conter os vândalos porque não há um líder das manifestações:

—Vamos repensar nossa estratégia para voltarmos a atuar como antes. Não sabemos quem está por trás disso tudo, tem muita gente perdida, mas nós não estamos perdidos. E se a PM não estiver ali, é anarquia. Vamos ter que negociar virtualmente.

De acordo com o coronel, o pacto firmado com representantes da OAB, Defensoria Pública e ONGs, que tinha como objetivo evitar o uso, pela PM, de gás lacrimogêneo, “não deu certo” e que vai ser repensado. Questionado sobre os ataques à imprensa, o comandante-geral da PM disse que “a imprensa tem que ajudar a polícia.”

Presente à coletiva, a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha afirmou que não pode manter os vândalos presos porque a lei não permite:

— A Polícia Civil não parou de trabalhar, mas tenho que seguir o que determina a lei. Alguns vândalos foram presos por formação de quadrilha, mas o crime é afiançável. Identificamos 16 pessoas por incitação à violência desde o início das manifestações, só que ninguém pode ficar detido por isso. Além do mais, o crime de dano ao patrimônio depende de representação, ou seja, de que as vítimas se manifestem.

Adversários

O governador Sérgio Cabral acusa seus adversários políticos de serem os responsáveis pelos protestos em sua vizinhança, no Leblon. Segundo ele, há uma tentativa de seus opositores de antecipar o calendário eleitoral. A acusação, no entanto, foi rebatida por possíveis concorrentes à eleição em 2014. O vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) é o nome apoiado por Cabral para a sucessão no Palácio Guanabara.

No início da tarde desta quinta-feira, Cabral divulgou uma nota sobre o protesto, na qual afirma que os atos de vandalismo nos bairros do Leblon e de Ipanema “são uma afronta ao Estado Democrático de Direito.”

— O Governo do Estado reitera a sua posição de garantir, através das forças de Segurança Pública, não só o direito à livre manifestação, como também o direito de ir e vir e à proteção ao patrimônio público e privado, diz o texto.

*Com informações do jornal O Globo.