Otávio de Moraes, uma saudade – I


11/11/2009


Quando chegamos, Otávio foi logo dizendo: “Entre, aqui tem muitas histórias para serem contadas”. Otávio Sérgio da Costa Moraes nos recebeu em seu apartamento na Rua Francisco Sá, em Copacabana, no dia 3 de março de 2004.Foram quatro horas de bom papo, belas recordações e muita emoção pela lembrança dos amigos que não se encontravam mais entre nós. Cinco anos se passaram e agora as saudades são do próprio Otávio. Ele nos deixou no dia 21 de outubro de 2009:

“Na minha infância já tinha uma grande ligação com o futebol, porque meu pai jogava no Paysandu. Ele foi fundador e jogou na primeira representação do clube no campeonato paraense. Na minha vida toda de garotinho, eu assistia os meus tios e o meu pai jogando futebol na rua. Nunca os vi jogar num campo, a não ser meu pai. Minha mãe também tinha irmãos. Era muita gente jogando bola. Eu fiquei apaixonado pela bola igual a eles.”

As lembranças da infância 

“Vim com meu pai para o Rio de Janeiro em 1931 com oito anos. Nós íamos para a praia do Flamengo e o velho adorava jogar bola. Era uma bola de borracha e ficávamos jogando um para o outro. Freqüentando a praia comecei a jogar na areia. Na praia tinham uns rapazes que após o expediente começavam uma pelada às 5 horas da tarde. No verão a pelada ia até mais tarde Eu era garotinho, com 14 anos, peruando um lugar. Eles não me deixavam jogar, porque eram rapazes de 23 anos. Uns eram jornaleiros, outros motorneiros. Naquele tempo os bondes tinham uma garagem no Largo do Machado. Depois eu entrei nessa e iniciei jogando bola na areia.
Minha família, posteriormente, se mudou para Copacabana e fiquei internado no Colégio Saleciano Santa Rosa. O colégio possuía cinco campos e não fiz outra coisa a não ser assistir aula e jogar bola.”

O primeiro time e a comparação com Romeu 

“Meu primeiro time foi o Boca Juniors que era dos rapazes do Largo do Machado. O time era organizado e a camisa era igual a do Boca, amarelo e azul. Jogávamos pelos subúrbios contra times de ruas da Tijuca e de outros lugares. Eles achavam que eu era um garotinho que fazia gol e me levavam. Eu chegava lá, fazia os gols e eles adoravam. Nessa época, eu já estudava no Santo Antônio Maria Zacarias, no Catete. O time do colégio era muito bom e no campeonato colegial, no campo do Flamengo, nós fomos campeões. No dia seguinte, o Globo Esportivo publicou minha foto com a seguinte legenda: “Otávio, o futuro Romeu das nossas canchas”. Primeiro, eu não jogava o futebol fantástico do Romeu; segundo, Romeu era armador e eu um finalizador. Para mim era um elogio”. 

O início da carreira foi no time amador de Fluminense, em 1942. Otávio é o sexto a partir da esquerda.

Das Laranjeiras para General Severiano 

O garoto revelação do futebol de praia, dos torneios nos subúrbios e do bom time do colégio passa a jogar num grande clube:
“Eu vivia no Fluminense como escoteiro, jogando bola também. Um dia me chamaram para jogar nos juvenis. Não era minha vontade. Eu queria jogar descalço na areia. Eu era peladeiro, queria jogar pelada. No Fluminense, passei para o time amador. Nessa categoria não tinha idade. Muitos profissionais quando paravam de jogar, iam para o amador. O Nascimento, reserva do Batatais, foi nosso goleiro. Depois de uma partida à noite, no campo do Fluminense, o Kanela e o Chico Barbastéfano, da Casa da Borracha, me chamaram para o Botafogo. O Botafogo era campeão e possuía um time fantástico. Falei com o Kanela que não tinha vaga para mim. Ele me disse que alguns estavam se formando em Direito, entre eles o José Américo, filho do José Américo, Governador da Paraíba, e não iam mais jogar futebol. O Togo que era uma figura extraordinária, antes de se despedir, virou-se para mim e disse: “Você vai receber um conto e oitocentos para jogar”. O que você falou? Respondi. Ele repetiu: “Um conto e oitocentos por mês”. Era uma fortuna. Perguntei: por que você não falou isso antes? Ele falou: “Porque a melhor notícia tem que ser dada no final. Lá todo mundo recebe. Nós jogamos um futebol profissional. Só não pagamos ao Paulinho Tovar.” Ele era a estrela do time e eu já sabia que o pai dele, o Dr. Tovar, Procurador Geral da República, era contra o profissionalismo. O filho dele não ia receber nunca. O Paulinho pouco se importava, ele queria é jogar bola”. 

Otávio no time do Botafogo bicampeão carioca de amadores de 1943: em pé, Alfredo, Rui, Dunga, Boliviano, Hélio e Cid; agachados, Zé Américo, Otávio, Augustinho, Tovar e René. O alvinegro foi tricampeão e Otávio liderou a artilharia dos campeonatos de 43 com 18 gols e de 44 com 22 gols.

A liderança de Kanela 

Otávio conviveu diretamente com Togo Renan Soares, o popular Kanela, e nos fala sobre essa figura polêmica e carismática, que se tornou o maior técnico na história do basquete brasileiro e, também, vitorioso no futebol:
“O Kanela foi um extraordinário treinador de futebol e de basquete. Ele sabia como puxar de dentro de você a vontade de ganhar que todo mundo tem. Mas, tem umas ocasiões que você está bem marcado, não consegue se mexer, o cara é melhor do que você. Batalha, batalha e não consegue nada. Você começa a ter certo desânimo e chega à conclusão que aquele não é o seu jogo. O Kanela era capaz de despertar a tua vontade de ganhar. Cada um ele tratava de modo diferente, o que é essencial num treinador. A mim, só notei muito depois, ele conseguia me irritar. Piadinhas no vestiário. No vestiário dizia: “Você não ganha uma daquele negão”. Eu no cantão zangado comigo mesmo e ele vinha: ”Quer sair?” Como eu quero sair. Ele prosseguia: “Você pegou o negão e não está conseguindo ganhar uma. Talvez, você queira fugir da raia e deixar o negão ir prá casa, dizendo que não deixou você andar”. Eu já meio irritado desabafava: eu não quero nada cara, quero voltar para o segundo tempo e arrebentar esse negão, você, todos juntos. Você ficava contra ele e jogava contra ele. E jogando contra ele, o melhor que você podia fazer era fazer três gols em cima do negão, depois chegar ao vestiário e dizer: viu cara, você encheu meu saco no vestiário e agora fica aí batendo palmas que nem um babaca. Ele respondia: “Pois é, eu fico batendo palmas que nem um babaca e você fica que nem um babaca quarenta e cinco minutos sem passar pelo negão, que não era tão difícil como você pensava”. Kanela tinha razão.
Os títulos de amador, que era “marrom”, foram muitos. O Botafogo foi tricampeão. Eu não fui tricampeão, porque quando entrei o time já tinha sido campeão antes. Quando acabou a divisão de amadores, entraram os aspirantes e fomos quatro vezes campeões da categoria. A equipe era a mesma e jogava por música.” 
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Na 3ª rodada do returno do campeonato carioca de 1948, no dia 17 de outubro, em Conselheiro Galvão, o Botafogo venceu o Madureira por 2 a 0 gols de Braguinha e Otávio. O goleador botafoguense leva perigo para o goleiro Milton.


A despedida de Heleno, a liderança de Carlito e o título de 48
 

Em 1944, com vinte e um anos, Otávio assinou contrato, verdadeiramente, como profissional com o Botafogo que depois de seguidos vice-campeonatos chegou ao inesquecível título de campeão carioca de 1948:
“Quando completei vinte e um anos, meu pai achava que o contrato que o Botafogo pretendia era unilateral, e era. Meu pai falou para mim: “Você já tem vinte e um anos e resolva a sua vida. Eu não vou ser cúmplice do Botafogo. Por enquanto, você está jogando bola. Eu não acho que você joga toda essa bola, mas eles acham. Eles querem contratar você. Tudo bem. Mas, o que eles gastaram? Quem pagou médico fui eu. Quem pagou dentista fui eu. Quem fez de você um garoto forte prá cacete fui eu. Agora, quando eles venderem seu passe, o dinheiro vai ficar com eles. Você receberá o quê?”É verdade. Depois a vida inteira, nós como veteranos batalhamos pelo direito do passe e conseguimos vencer. Hoje o jogador tem pela lei participação na venda do passe. 

A seqüência de vice-campeonatos sempre passou pela cabeça de todos nós. O Botafogo tinha alcançado resultados muito bons, chegando aos vice-campeonatos com times excelentes. Se você analisar a escalação dos jogadores, verá que o Botafogo teve times individualmente sensacionais. Acontece que em 48, o fato mais importante de todos foi o aparecimento de um guia, de um estímulo. Carlito Rocha representou tudo isso. Ele com enorme dignidade era mais do que um presidente. Tinha um passado no clube e grande carisma. Nós já o conhecíamos, ele era um botafoguense quase da fundação, da geração depois da fundação. Ele nos cativou como um pai. Os jogadores que compuseram o elenco pareciam que tinham sido escolhidos pelo destino. Paraguaio tinha 19 anos e era o ponta-direita do juvenil. Vários jogadores atuavam na ponta-direita, no entanto aparece um menino, indiozinho com uma espontaneidade, uma explosão, rapidez, facilidade de ir à linha de fundo fantásticas. O Pirilo, dispensado do Flamengo pelo Flávio Costa, foi contratado pelo Carlito que acreditava nele. Pirilo era um jogador sensacional, mas estava com uma lesão no joelho. Jogava de joelheira, teria que operar, mas tinha medo. Chegou ao Botafogo estava muito sentido com o Flávio por tê-lo dispensado. É muito triste para o jogador que fez um nome ser dispensado, porque está velho, fora de forma, etc, etc… O cara não aceita. Acha que, ainda, pode dar. Era isso que o Pirilo sentia e queria provar ao Flávio que ainda podia jogar futebol. Jogou extraordinariamente e contra o Flamengo destruía. Somava a vontade de ganhar com a raiva. Ávila veio do Internacional, onde tinha conquistado oito títulos de campeão. Também dispensado, chegou como se o futebol dele tivesse acabado. Ele não concordava, queria jogar, era um jogador extraordinário e mostrou o seu futebol de grande categoria. A escalação do Rubinho por exemplo. Rubinho era half direito e jogava na areia. Jogava na Urca com o Paulinho Tovar. Atuou nos aspirantes, era baixo, mas muito forte. Escalado como half, saía do chão com facilidade com os seus 1,66 de altura. Era bom no chão e no alto. Apareceu o Nilton Santos que não tinha passado. Nunca vi no mundo inteiro jogadores com a história do Nilton Santos e do Garrincha. Ninguém ensinou nada para eles. Não tiveram treinadores e jogaram um futebol que ficou para história. Se você procurar não vai encontrar ninguém melhor do que eles no Brasil e no mundo. Entretanto com defeitos hilários. Nilton Santos bate na bola de “barroso”, isto é, bate na bola com o pé prá dentro. Um cara com aquela categoria que não sabe chutar. Ele aprendeu? Não. Quando ele chegou, fez um treino, tomou conta da posição e ninguém perguntou nada. Quem ensinou? Deus. 

Equipe do Botafogo campeã carioca de 1948: em pé, Zezé Moreira, Rubinho, Nilton Santos, Osvaldo “Baliza”, Gerson, Ávila, Juvenal e o médico Dr. Nilton Paes Barreto; agachados, Paraguaio, Geninho, Pirilo, Otávio com a mascote Biriba e Braguinha

Começamos o campeonato perdendo para o São Cristóvão por 4 a 0. Primeiro, o adversário tinha um time muito bom. Depois, em minha opinião, nós estávamos mal escalados. Nilton Santos já devia ter jogado. Marinho, pai do Fred e do PC, foi deslocado da direita para esquerda. Ele era destro e do lado esquerdo ficou pior, porque pegou o Santo Cristo. Nilton Cascão não estava bem. Os gols foram surgindo até os 4 a 0.
Nós ficamos arrasados com a derrota. Aconteceu um fato muito importante que muitas pessoas não sabem. O Heleno tinha sido vendido para o Boca, e antes de viajar foi assistir a partida. Ele ficou nas cadeiras cativas localizadas naquele cantinho no lado do túnel do Pasmado. Nós vimos quando ele entrou, sempre bem vestido. A torcida o aplaudiu e gritava Heleno, Heleno! Seu Carlito tinha sido o responsável pela venda. Virou o 1o tempo 2 a 0 e o Neca, jogando um bolão, dificultava mais as coisa para nós. Neca depois jogou conosco no Botafogo e a sua presença foi importantíssima. Ele criou e foi o primeiro treinador de escolinha de futebol. O Dr. Ademar Bebiano, dono da Nova América, em Del Castilho, chamou o Neca quando ele parou de jogar e o convidou para criar a escolinha no campo da fábrica. Neca foi contratado e naquele momento estava fundada a primeira escolinha de futebol do mundo. Voltando ao jogo, quando eles fizeram 3 a 0 o Heleno saiu. Estávamos tomando aquele vareio e de repente ouvimos aquelas palmas. 

Quem conhece o Botafogo sabe que para sair daquele cantinho, basta descer às escadarias, virar à esquerda e chegar à portaria de entrada de General. Heleno não seguiu esse caminho. Abriu o portão que dividia às cadeiras cativas das arquibancadas e passou pelo meio da multidão sendo aplaudido de pé. Jogada de astro de Hollywood. O jogo parou e só se ouvia as palmas. Nós naquela situação terrível e o sacana fez o nome dele. Cumprimentado por todos, quase saiu carregado. Ficamos vendo a tristeza do Seu Carlito, vencido. Tinha vendido a estrela. Não chegamos a conversar sobre o fato. A reação veio espontaneamente e a partir dali ficamos trinta e seis partidas sem perder. Por incrível que pareça, pouca gente sabe que também é uma verdade e eu não sou o dono da verdade. Eu só sou um velho que se lembra. Só isso. Nós ganhamos trinta e seis partidas depois de perdermos de 4 a 0. E, tem mais, nunca jogamos na frente do marcador. Sempre demos a volta por cima. Isso eu não sei explicar. Parecia coisa feita. A gente entrava e pimba 1 a 0 contra. Cacete, nós tocamos a bola, dominamos o jogo, sai um vagabundo, mete uma porrada e gol. Não contente mais um. Aí a gente dois a um, dois a dois, três a dois, quatro a dois, cinco a dois. Fartamos de fazer isso. É só consultar. Sobre o time e o título tem explicação: Carlito Rocha. 

Artilheiro do campeonato carioca de 1948 com 21 gols ao lado de Orlando “Pingo de Ouro”, do Fluminense, Otávio recebe o prêmio instituído pelo Jornal dos Sports das mãos do jornalista Mário Filho.

Antes da partida final nós viramos em cima do Olaria. Estávamos perdendo por 3 a 1 e faltando 16 minutos fizemos 4 a 3. Tivemos no decorrer do campeonato alguns contratempos devido a algumas contusões. Contra o Vasco fomos prá cima. Depois de dezesseis anos, tínhamos a possibilidade de sermos campeões. Zezé Moreira estava com muito medo. Nós jogadores, ao contrário, estávamos tranqüilos. O problema era o Gerson dos Santos que passou a noite com 39o de febre. Seu Carlito chegou com o Gerson e reuniu todo mundo. Comunicou que o Dr. Paes Barreto tirou a temperatura do Gerson e naquele momento ele estava com 38o e que iria jogar o Marinho. Carlito Rocha nos perguntou: “O que vocês acham?”. Ninguém disse nada. Carlito se dirigiu ao Geninho. Geninho possuía o maior QI que já vi na minha vida. O currículo dele era Cabo da Polícia Militar de Belo Horizonte. Ele e o Tim foram os maiores QIs que conheci. Que cabeça eles tinham. Os dois me dão um banho e eu sou universitário. Então, o que aconteceu: “Geninho, parece que você não está muito satisfeito”. Geninho com o seu jeito de mineiro falou: “Olha Seu Carlito, a gente não pode estar satisfeito sabendo que vamos perder o Dudu”. Era o apelido do Gerson porque nós achávamos que ele tinha cara de palhaço. Ele ficava puto. Carlito perguntou: “Você tem alguma sugestão?” Geninho prosseguiu: ”O que o senhor está dizendo é o que nós sabemos. Quero dizer que o pessoal do Vasco não sabe de nada. A presença do Gerson na nossa cabeça de área é fundamental e o senhor sabe disso” E era verdade. Carlito perguntou ao Gerson se ele jogaria e a resposta foi positiva. No jogo, ele teve um choque de cabeça com o Dimas. Quando o Dr. Paes Barreto foi socorrê-lo ele perguntou: “Onde é que eu estou”. Gerson teve que sair e nós passamos a jogar com dez. Só que o Rubinho queria ir para central de área, porque jogava nessa posição lá na Urca. O Paraguaio disse: “Não, eu sou o melhor central da minha terra e vou substituir o Gerson”. Eu cheguei e falei: vocês dois babacas discutindo quem vai ser o central de área. Geninho deu razão ao Paraguaio, porque nós mexeríamos em apenas uma posição. E fizemos apenas uma alteração. Futebol é um jogo, como qualquer esporte, inventado para inteligentes. Paraguaio cumpriu a missão sensacionalmente. O Pirilo voltou um pouco e eu fiquei na frente enfiado. Não ficava isolado porque o Pirilo sempre aparecia. Ele jogava xadrez. Se mexia bem, se deslocava bem. Quando eu pegava o marcador mano a mano, só ele aparecia. O marcador ficava numa merda muito grande, porque se viesse em mim eu dava para o Pirilo. O Eli não saía de dentro da área. Vamos esperar. Se ele sair nós metemos para o Otávio por cima e fica só o Wilson. O Augusto pode vir também, mas se passarmos pelo Eli vai ficar um buraco entre o Augusto e o Wilson. Com dez, nós cercávamos o time do Vasco. Eu não voltava. Quando queria ajudar, o Juvenal e o Geninho gritavam comigo: “Fica lá, fica lá”. Quando o Eli tentava sair, o Danilo alertava: “Volta, olha o Otávio lá”. Ficamos esperando, até que o Danilo ficou prensado e o Eli apareceu para receber. O Eli não sabia apoiar, meteu para o Maneca e o Juvenal cortou. O Juvenal deu para o Ávila que jogou por cima. O Augusto viu que eu entrava, mas chegou atrasado. Eu dominei no chão e não dei tempo para o Wilson chegar a mim. Correndo levei para perna direita, a boa, e pensei que ao passar pela linha da grande área ia chutar, para não ser alcançado. Olhei para o gol e o crioulo estava apavorado. Olhei e vi o olho do crioulo. Pensei, ele vai me dar um lado e ficar no outro. Como entrei um pouquinho para esquerda, ele abriu para esquerda. Levantei a cabeça, não precisei mais olhar para bola. Olhei novamente para o olho do crioulo. Comentamos depois sobre esse lance. Eu disse ao Barbosa: você como grande goleiro que é, deixou um canto prá mim e eu chuto no canto que você quer. Só que eu pensei o seguinte: esse crioulo é um grande goleiro. Se deixou um canto é porque vai lá. Então, vou dar uma pancada no gol e se pegar nele, eu mato. Dei uma porrada que passou entre ele e o travessão.”