Polícia identifica suspeitos pela morte de fotógrafo


18/04/2013


Por Igor Waltz*

A Polícia Civil de Minas Gerais identificou dois suspeitos de executar o repórter fotográfico do jornalVale do Aço Walgney Assis Carvalho, morto a tiros no último domingo, 14 de abril, em Coronel Fabriciano, Minas Gerais. Os nomes dos acusados, no entanto, não foram revelados.
A Secretaria de Defesa Social – Seds investiga a relação do caso com o assassinato do jornalista Rodrigo Neto, morto há 45 dias na mesma região. Os dois profissionais trabalharam juntos no Vale do Aço, onde fizeram reportagens em parceria. O Seds ainda avalia se há ligação com outros 14 homicídios ocorridos nos últimos anos.
Os assassinatos disseminaram um clima de pânico e insegurança na cidade de Ipatinga. As duas vítimas eram especializados em coberturas policiais e morreram de formas semelhantes.
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência está avaliando se outros jornalistas estão “marcados para morrer” para incluí-los no Programa Nacional de Proteção a Vítimas e Testemunhas.
“Os crimes contra profissionais da comunicação em todo o País, mas muito especialmente no Vale do Aço, neste momento, representam um atentado à liberdade de expressão e aos Direitos Humanos. O Brasil, como país democrático e com uma imprensa livre, não pode conviver com essa realidade”, afirma trecho do comunicado.
Segundo um repórter experiente em coberturas policiais na região, que pediu anonimato, “a barra está pesada”. “Com as informações de que outros jornalistas estariam numa lista de morte, a situação hoje chegou ao limite. Não se fala em outro assunto na cidade, mas o assunto só rende nas rodas de conhecidos, pessoalmente. Por telefone, é bom evitar”, disse.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas defende que Carvalho foi morto porque teria informações sobre o assassinato do colega, e que a execução de Neto tem relações com pelo menos 20 homicídios cometidos na região desde 1992. A comissão suspeita ainda da existência de um grupo de extermínio formado por policiais.
Para o presidente da Comissão, Deputado Estadual Durval Ângelo (PT/MG), a Polícia Civil, responsável pela investigação da execução do repórter Rodrigo Neto, foi negligente a não dar proteção ao fotojornalista Walgney Assis Carvalho.
Segundo Durval Ângelo, a Polícia Civil foi informada de que Carvalho corria risco de morte. O alerta ocorreu no dia em que a Ministra de Diretos Humanos, Maria do Rosário, esteve em Ipatinga (MG). “Em uma reunião a portas fechadas com a Ministra, os representantes da Polícia Civil de Belo Horizonte e a Corregedoria, eu informei a eles sobre a denúncia anônima que eu havia recebido, dizendo que Carvalho tinha a informação de quem matou Rodrigo”, disse o Deputado.
Ele pediu à polícia que realizasse uma interceptação telefônica do aparelho celular de Carvalho para protegê-lo. “Foi uma negligência da parte do delegado responsável pelo caso, pois ele foi avisado por mim, que Carvalho corria risco por saber demais. O que foi feito?”, comentou o deputado.
Quem comanda as investigações é o chefe do Departamento de Investigações de Homicídios e Proteção à Pessoa – DHPP, Wagner Pinto, que conta com outros quatro delegados, dez investigadores e três escrivães.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil de Minas Gerais informou que, no depoimento, Carvalho negou qualquer envolvimento na execução de Neto e disse não ter informações sobre os assassinos. “Carvalho não solicitou proteção da Polícia por se sentir ameaçado”, declarou o órgão.
Preocupação da ONU
O diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (Unic), Giancarlo Summa, disse que a ONU está “extremamente preocupada” com a segurança dos jornalistas brasileiros. De acordo com ele, já são quatro jornalistas assassinados este ano, o que coloca o Brasil entre os mais perigosos do mundo para a prática da profissão.
“Isso faz do Brasil um dos países mais perigosos do mundo para a imprensa. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, entre 2008 e 2012, 22 jornalistas brasileiros foram assassinados. Assim, com os casos deste ano, são 26 mortes”, explicou Summa.
O diretor da Unic afirmou que este número é bem elevado visto que o Brasil não vive um momento de guerra. “É uma evidente tentativa de calar os profissionais desta região conhecidos por reportar crimes não solucionados”, ressaltou.
*Com informações do Portal Imprensa e do Comunique-se.