Zuenir Ventura é eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL)


Por Cláudia Souza

30/10/2014


Zuenir Ventura (Reprodução juruaonline.com.br)

Zuenir Ventura (Reprodução juruaonline.com.br)

O jornalista e escritor, de 83 anos, conquistou 35 dos 37 votos possíveis para ocupar a cadeira de número 32, que pertenceu ao dramaturgo, poeta e romancista Ariano Suassuna. A eleição foi realizada na tarde desta quinta-feira, dia 30 de outubro.

Zuenir Ventura concorreu com Thiago de Mello, John Müller e Olga Savary. Os ocupantes anteriores da cadeira 32 foram: Carlos de Laet ( que escolheu como patrono o jornalista, diplomata e escritor Araújo Porto Alegre), Ramiz Galvão, Viriato Correia, Joracy Camargo e Genolino Amado.

A vaga foi aberta com a morte do dramaturgo, poeta e romancista Ariano Suassuna, 87 anos, em 23 de julho último, no Recife (PE). Ele havia sido internado dois dias antes, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do tipo hemorrágico.

– O Zuenir é querido por sua dedicação, lucidez e argúcia com que acompanha a vida social e econômica do Brasil. A Academia está muito contente em recebê-lo, declarou o presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti.

Ao lado de amigos e parentes, Zuenir Ventura acompanhou a votação com muita expectativa:

— Este momento representa uma consagração dos pares. Uma instituição como a Academia Brasileira de Letras, secular, com a tradição, e que se renova sem romper com a tradição, disse o acadêmico recém-eleito.

Biografia

Zuenir Carlos Ventura, filho de Antônio José Ventura e Herina de Araújo, nasceu em 1º de junho de 1931, em Além Paraíba (MG). N adolescência trabalhou como contínuo no Banco Barra do Piraí, como faxineiro do Bar Eldorado, como balconista da Camisaria Friburgo, entre outras atividades.

Em 1954 mudou-se para o Rio de Janeiro e entrou para a Faculdade Nacional de Filosofia, atual UFRJ, formando-se em 1958 em Letras Neolatinas.

No ano de 1955 exerceu o cargo de assistente do filólogo Celso Cunha na disciplina de Língua Portuguesa, na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em 1956 tornou-se redator de “A História em Notícia”, obra paradidática dirigida por Amaral Netto, que abordava os fatos históricos em linguagem jornalística.

No ano de 1957, indicado por um professor da faculdade, consegue uma vaga de arquivista na “Tribuna da Imprensa”.

Em 1959 ganhou uma bolsa de estudos do governo francês para estudar no Centro de Formação de Jornalistas, em Paris e conjuntamente com os estudos trabalha como correspondente da “Tribuna”, fazendo coberturas históricas, como a passagem de Jango por Paris antes de se tornar Presidente e o encontro de cúpula entre Kennedy e Kruschev, em Viena.

Ao retornar ao Brasil conhece Mary Akiersztein, na redação da “Tribuna”, casa-se com ela e passa a trabalhar como editor internacional no “Correio da Manhã”, além de dar aula de Comunicação Verbal na Escola Superior de Desenho Industrial, da qual é um dos criadores. O casal tem dois filhos: Elisa e Mauro.

Em 1964 Mary, grávida e acompanhada pelo marido participa da cobertura do Festival de Cannes, “JB”. Na época o casal estava sendo procurado pela polícia como “subversivos”.

Após o retorno ao Brasil, Zuenir assumiu, em 1965, o cargo de chefe de reportagem da revista “O Cruzeiro”; em 1967 foi convidado a chefiar a sucursal carioca da Revista “Visão”.

Em 1968, Zuenir é preso e passa três meses em uma cela ao lado de Hélio Pellegrino, Ziraldo, Gerardo Mello Mourão e Osvaldo Peralva.

Zuenir deixou a prisão por influência de Helio Pellegrini, que impôs como condição para sua própria liberação a soltura do jornalista, ocorrida em março de 1969. No mesmo ano, o jornalista lançou para a Editora Abril uma série de 12 reportagens intituladas “Os anos 60 – A década que mudou tudo”.

Em 1975 colaborou com o roteiro do documentário “Que país é esse?” de Leon Hirzsman; em 1977 assumiu o cargo de chefe da sucursal da Revista Veja, época em que se uniou a dois outros jornalistas para investigar a morte de Cláudia Lessin Rodrigues, matéria vencedora do Prêmio Esso.

Em 1981 assumiu a direção da sucursal carioca da “Revista Isto É”.

Em 1968 afastou-se por dez meses do jornal para escrever o livro: “1968 – O ano que não terminou.”

Em 1989, como repórter especial do JB, investigou no Acre o assassinato o crime do ambientalista e seringueiro Chico Mendes, ocorrido em dezembro de 1988. A série de reportagens que lhe conferiu os prêmios Esso de Jornalismo e Vladimir Herzog de Direitos Humanos.

Em 1983, após as chacinas da Candelária e do Vigário Geral, participou da criação da ONG Viva Rio, dedicada a projetos sociais e campanhas contra a violência; em 1984. Após nove meses de convívio com a comunidade de Vigário Geral, lançou o livro “Cidade partida, um retrato das causas da violência no Rio” vencedor do Prêmio Jabuti de Reportagem.

Em 1988, Zuenir recebeu o diagnóstico de câncer na bexiga, e, tempos depois, publicou o livro “Inveja – Mal secreto” no qual relata a luta e a vitória contra a doença.

Em 2003, retorna ao Acre para escrever “Chico Mendes – Crime e castigo”.  Seus livros seguintes foram “Crônicas de um fim de século e 70/80 Cultura em trânsito – da repressão à abertura”, com Heloísa Buarque e Elio Gaspari. No cinema, codirigiu o documentário “Um dia qualquer e foi roteirista de outro”, “Paulinho da Viola: meu tempo é hoje”, de Izabel Jaguaribe. Suas obras mais recentes são “Minhas histórias dos outros, 1968 – o que fizemos de nós” e “Conversa sobre o tempo”, com Luis Fernando Verissimo. Seu livro mais recente é o romance “Sagrada Família”.

Em 2008, Zuenir recebeu da ONU um troféu especial por ter sido um dos cinco jornalistas que “mais contribuíram para a defesa dos direitos humanos no País nos últimos 30 anos”. Em 2010, foi eleito “O jornalista do ano” pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros.

É colunista do jornal O Globo.