Tizuca Yamazaki no 1º ano do Macunaíma


03/08/2021


Por Vera Perfeito, diretora de Cultura da ABI

Macunaíma exibe filme de Tizuca Yamazaki

O premiado filme de Tizuka Yamazaki (2017) é o12º longa de sua carreira e inspirado em fatos reais. A diretora conta a história de Zeneida Lima, que enfrentou os pais para seguir seu dom espiritual, e também a sociedade para levar adiante seus ideais, a defesa da natureza e a fundação de um instituto na Ilha do Marajó, com um programa educacional para atender crianças da periferia da região. Por suas crenças e convicções, ela sofreu preconceito, mas, certa de sua missão, transpôs barreiras e tornou-se uma líder e uma das importantes personalidades do Estado do Pará e do país.

O longa de 70 minutos é uma história de amor e encantos com os atores Thiago Martins, Dira Paes, Letícia Sabatella, José Mayer, Carol Oliveira, Ângelo Antônio, Anderson Muller e participações especiais das atrizes Cassia Kiss Magro e Laura Cardoso. O longa, teve pré-estreia no Pará, no final de 2017, e foi premiado na 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na categoria Festival da Juventude. Tizuka também conquistou o prêmio de melhor diretora pelo filme, no 31º Festival de Cinema de Trieste, na Itália.

Filme

Inspirada pelo livro O mundo místico dos Caruanas da Ilha de Mara, a diretora fez uma livre adaptação da história de Zeneida, focando num momento crucial de sua vida: a transição da menina para a adolescência, em que seus dons para curar com elementos da natureza se afloram em meio a um turbilhão de sentimentos e questionamentos característicos dessa fase da vida e a descoberta do primeiro amor.

Interpretada por Carolina Oliveira, Zeneida é a mais velha de oito irmãos, que moram com a mãe, Zezé (LetíciaSabatella), e com Cotinha (Dira Paes), uma cabocla, filha de criação da família, em Belém. No entanto, o advogado Angelino (José Mayer), pai dos oito filhos que teve com Zezé, sua amante, não quer que sua vida clandestina prejudique a carreira política e, por isso, decide mandar toda a família para sua fazenda na Ilha de Marajó.

Zeneida parte de Belém a contragosto, mas é na ilha que a adolescente vai vivenciar uma série de descobertas transformadoras. Lá ela conhece Antônio (Thiago Martins), um ser da natureza, um encantado. Esse amor, no entanto, não é aceito pelos pais, pois somente Zeneida pode vê-lo. Para os pais, Antônio pertence ao imaginário da filha. Acham que ela está enlouquecendo. Além disso, Zeneida precisa enfrentar os próprios conflitos, anseios e dúvidas, e desenvolver suas habilidades espirituais, com a ajuda de mestre Mundico (Ângelo Antônio) e de Cotinha, a única na casa que a entende.

O longa, que teve pré-estreia no Pará no final de 2017, foi premiado na 38.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na categoria Festival da Juventude. Tizuka também conquistou o prêmio de melhor diretora por ENCANTADOS no 31.º Festival de Cinema de Trieste, na Itália. A biografia romântica tem 70 minutos.

Diretora e debatedores

– Na verdade, eu não escolhi. Fui escolhida pela Pajé Zeneida que me mandou o livro escrito por ela. No início, rejeitei a temática, pois não estava aberta para esse assunto. Depois que minha casa em Jacarepaguá foi atingida por uma tromba d’água que destruiu muitas coisas sem que eu pudesse fazer nada para salvá-las, fiquei muito abalada. Vi a força da natureza e nossa fragilidade diante dela – diz Tizuca.

Coincidentemente, o ator Anderson Muller procurou a diretora para propor a direção de um filme que iria produzir e o tema era sobre o enredo da Escola de Samba Beija Flor. Ela leu o livro que o Anderson lhe dera e foi até a casa da escritora para conhecê-la. Saiu da casa com a certeza que o seu próximo filme seria sobre o livro, sem saber que a protagonista se tratava da mesma pajé que ela rejeitara anos atrás.

Tizuca levou anos para entender um pouco desse universo. Para tanto, esteve com Zeneida muitas vezes, no Marajó ou em outros lugares, presenciando pajelanças de cura, ouvindo suas músicas, suas histórias, comendo da sua comida feita e vestindo roupa costurada por ela. Aceitou suas energias para se manter apta para fazer seu filme. Parou até de fumar por um pedido dela.

Descobriu na Amazônia, ao rodar o filme, um universo encantador e estranho. Filmou na foz do Amazonas, na ilha Mexiana, com sucuris, guaribase e guarás, nos manguais e nos campos povoados de guarás de Soure, registrou igarapés e o amanhecer deslumbrante nos arredores de Belém. A equipe penetrou no rio Araguari, no Amapá, atrás da pororoca e aprenderam a lidar com as marés e as chuvas. Foram picados por muitos tipos de mosquitos, passaram noites sem dormir, enfiaram os pés na lama, mas todos do elenco e da equipe técnica viveram uma experiência de prazer, segundo a diretora.

– O fio condutor desse filme é a minha crença, as minhas raízes de fé e a minha integração com a natureza do Marajó”  – diz a pajé Zeneida Lima. Tizuka sempre retratou mulheres fortes, empoderadas, desde o clássico “Gaijin”, passando pelo sucesso juvenil “Lua de Cristal” e pela libertária Anayde Beiriz de “Parahyba Mulher Macho”, até o documentário “Tomie” que realizou sobre a artista Tomie Ohtake.

Os debatedores, além do cineasta Silvio Tendler, serão a diretora Tizuca Yamazaki, além de:

Dira Paes atriz conhecida nacionalmente por seus trabalhos no cinema e em diversos papeis na Rede Globo, ganhando notoriedade com trabalhos em telenovelas. Apresentou também o Oscar e estrelou dezenas de filmes.

Fernando Pimenta – é um dos maiores criadores de cartazes e vinhetas, tendo trabalhado em mais de duzentas campanhas de filmes brasileiros. Foi diretor de criação da Embrafilme e criou a Boa idéia comunicação, primeira empresa a atuar no marketing de lançamento para filmes brasileiros. Ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais por cartazes para filmes como Bye bye Brasil (1979), de Carlos Diegues e Eu sei que vou te amar (1986), de Arnaldo Jabor, além de prêmios pelo conjunto de sua obra. Seus cartazes ganharam exposições em diversos lugares do mundo, como Cuba, Paris e Nova York. Em 2004, lançou o livro de sua autoria O cinema brasileiro em cartaz.

Fabiano Canosa – diretor, diretor de festivais, documentarista, produtor e um dos responsáveis pela programação do Cine Paissandu, entre 1966 e 1970. Em meados dos anos 70, mudou-se para os Estados Unidos, onde passou a programar vários cinemas de Nova York. É um dos curadores do Festival do Rio, curador do Symphony Space de Manhattan e programador do Joseph Papp’s Public Theatre. Foi diretor de programação da Cinemateca do MAM (1965/70), do Cine Arte UFF (1968/70), e do The First Avenue Screening Room de Nova York (1973/75). E um dos articuladores das campanhas de lançamento nos EUA de vários filmes brasileiros, como Dona Flor e seus dois maridos (1976), de Bruno Barreto, e Bye bye Brasil (1979), de Carlos Diegues.