Inédito no cinema, Sertânia, no Cine Macunaíma


02/03/2021


SERTÂNIA, INÉDITO NOS CINEMAS, É EXIBIDO NO CINE MACUNAÍMA

O Cineclube Macunaíma exibe hoje, às 18hs, o filme Sertânia (2020), de Geraldo Sarno, no canal da ABI do YouTube, seguido de debate, às 19h40, com o diretor do longa, além dos cineastas Erik Rocha (filho de Glauber) e Silvio Tendler; do ator e diretor Júlio Adrião; do diretor de fotografia, Miguel Vassy; e de Ricardo Cota (mediador). O filme, com 97 minutos e inédito nas salas cinematográdicas, passou pelo Festival de Havana, pela Mostra de Tiradentes e pelo Festival Ecrã e despertou tanto entusiasmo de críticos e cinéfilos durante a quarentena que voltou a ser exibido na plataforma online do Festival Olhar de Cinema, de Curitiba.

Sertânia tem referências ao movimento cinematográfico do Cinema Novo e Glauber Rocha; a fotografia em preto e branco e a montagem descontinua agregam maior valor ao filme, assim como as discussões raciais e a miséria nordestina. O delírio do cangaceiro Antão, ou Gavião, papel do ator Vertin Moura, estrutura o longa.  Sobrevivente da matança de Canudos, ele é levado ainda garoto para São Paulo onde faz carreira militar. Mas, ao perder a mãe, faz a viagem de volta e ingressa no bando do Capitão Jesuíno, interpretado por Julio Adrião, que invade a cidade de Sertânia. Começa na caatinga a agonia de Antão que, baleado, delira e vai à terra dos mortos em busca do pai executado pelos militares no arraial de Antonio Conselheiro. O cineasta Edgar Navarro vive o líder messiânico. Na figura do migrante, o sertão se desloca para o país industrializado.

Mais de 50 anos depois de realizar alguns dos melhores documentários sobre o cotidiano do sertão nordestino e da vida dos migrantes oriundos de lá, como Viramundo, Geraldo Sarno retorna a esse espaço com a liberdade e clareza que apenas a maturidade permite atingir. A história de seu protagonista costura com precisão Canudos, como nosso “pecado original”, com a vida migrante no Sudeste e o cangaço.

Em 1966, Sarno filmou o sertão pela primeira vez, dirigindo quatro curtas. Em mais de cinco décadas, sua imersão sertaneja produziu belezas como Vitalino/Lampião e Viva Cariri (1969), Casa de Farinha (1970) e Segunda-feira (1974). Sertânia foi filmado nas cidades baianas de Milagres e Brumado durante as chuvas de junho e ajustada às imagens áridas. A trilha são peças de Lindembergue Cardoso, um brilhante maestro baiano. Uma cena emocionante é quando Gavião Antão clama ao líder do bando para não matar os retirantes com fome. “O povo é inocente!”. No elenco estão ainda Lourinelson Vladmir, Igor de Carvalho, Gilsérgio Botelho, Kécia do Prado, Edgard Navarro, Isa Mei, Marcelo Cordeiro, Rogério Leandro, Marcos Duarte e Teófilo Gobira.

Nascido em Poções, na Bahia, o roteirista e diretor Geraldo Sarno, 83 anos, ficou conhecido por abordar temas como o movimento migratório brasileiro, as religiões e culturas populares. Ele recebeu o Prêmio de Mérito Cultural; em 2008, ganhou o prêmio de melhor direção pelo filme Tudo isto me parece um sonho, no Festival de Brasília, sobre a história do general pernambucano Ignácio de Abreu e Lima, que, ao lado de Simon Bolívar, participou de batalhas que resultaram na libertação da Colômbia, Venezuela e Peru da Coroa Espanhola no século XIX.