29/11/2006
Único telejornal diário e nacional criado especialmente com a proposta de levar informação à comunidade dos portadores de deficiência auditiva — estimada em 5 milhões de pessoas —, o “Jornal Visual”, da TVE, resiste há 18 anos. Com cinco minutos de duração, ele vai ao ar de segunda a sexta, às 12h25, antes do noticiário local e tem como editora-chefe (de texto e de vídeo), desde o início de 2006, Maria Helena Falcão.
Maria Paula Cunha |
O programa conta ainda com dois produtores, uma locutora, uma entrevistadora, uma equipe que faz externas sobre matérias específicas e duas intérpretes de Libras — a linguagem brasileira de sinais. Cláudia Jacob Belga, uma das intérpretes, é pedagoga, gosta de jornalismo e cria a maioria das pautas, cuja escolha está sempre ligada às questões de interesse dos portadores de deficiências (não apenas auditivas). A outra intérprete, Maria Paula Cunha, foi casada com um deficiente auditivo e, assim como Cláudia, tem grande envolvimento com o público-alvo do telejornal.
O programa vai ao ar com duas ou três matérias. Geralmente, são três VTs com “cabeças” (aberturas feitas pelo apresentador) enxutas. Uma voz em off narra as notícias, tendo na tela uma intérprete de Libras — nem todos os deficientes sabem o Português — que aparece em chroma key (efeito que permite a superposição de imagens) numa janela no canto direito do vídeo. O programa é pré-gravado, o que permite que as intérpretes assistam ao noticiário para saber o assunto e imprimir maior velocidade à interpretação.
Cláudia Jacob Belga |
Para não conflitar com o telejornal que entra no ar em seguida, o “Jornal visual” não aborda o factual, o que não impede, por exemplo, que exiba os gols da rodada de uma forma toda especial, como explica Maria Helena:
— Encontramos uma maneira de abordar o tema para este público. Passamos o lide, explicamos como foi a rodada e como ficaram os times na tabela, falamos sobre determinado jogo e os autores dos gols e concluímos com a expressão: “Veja o lance”. O espectador assiste à jogada sem se preocupar em perceber sinais. Ele vê o gol sem qualquer tipo de narração. Como o jornal é “visual”, ele vê. Quem não é surdo, ouve também o BG (ruído) da torcida.
Saúde, esporte e cultura são as pautas que mais interessam ao programa. Mas um assunto está fora de questão: música.
— Podemos falar sobre o lançamento de um livro, mas não de um CD, da mesma forma que não mostramos espetáculos musicais. Este é um assunto que só pertence a quem tem a capacidade de ouvir — diz a editora.
O “Jornal visual” aborda também personagens, como os portadores de deficiência que se destacam nas mais diferentes áreas. A artista plástica e poetisa Virgínia Vendramini, o recordista de medalhas e nadador Clodoaldo Silva, o judoca Antônio Tenório da Silva, o corredor do Rally dos Sertões 2006 Paulo Polido são personalidades sempre presentes na pauta do programa, pela imagem vencedora e positiva que passam ao espectador.
Segundo a editora-chefe, é muito grande o retorno do telejornal, gravado e exibido por escolas de educação de deficientes auditivos em todo o País:
— Nosso trabalho é usado como material didático. Já aconteceu de fazermos programas com entrevistas e “passagens” em Libras. Ficou muito interessante.
Além de exibir um noticiário como o “Jornal visual”, a TVE é a emissora que mais utiliza o sistema de close caption, que o espectador pode acionar em casa para ler os textos de qualquer tipo de programa:
— Só não usamos esse recurso direto na tela porque causaria uma grande poluição na imagem — explica Maria Helena.