Morre o jornalista Washington Sidney Souza


14/02/2022


Publicado no portal IBI

Carioca e flamenguista, Washington Sidney vai deixar saudade aos amigos e ex-companheiros de profissão. O jornalista morreu nesta quarta-feira (9/2), em decorrência da covid-19, que foi agravada pelas comorbidades de cardiopatia e enfisema. Infelizmente o homem não resistiu.

Por: Fábio Costa Pinto / Jornalista Fonte: Correio Braziliense / Carla Lisboa

Washington Sidney, jornalista nasceu no Rio de Janeiro e veio para Brasília anos depois. Ele faleceu em decorrência da covid-19, nesta quarta-feira (9/2) / Foto: Reprodução de twnews.co.uk

A jornalista Carla Lisboa, escreveu uma matéria em homenagem ao ex-marido com exclusividade ao Correio Braziliense, que segue reprodução.

“Washington Sidney de Souza tinha 68 anos. Ele faleceu após ficar 4 dias, entubado por causa de uma covid-19 que já vinha infernizando a vida dele há alguns dias. Não haverá velório. Devido à Covid, haverá apenas uma despedida às 14h e o enterro será em Brusque. Ele se mudou em dezembro de 2021 para Santa Catarina e saiu de Brasília dizendo que iria para o Sul “viver o resto da vida dele feliz com às duas filhas, os netos e os genros”.

Nascido no Rio de Janeiro, ele trabalhou em quase todos os jornais cariocas. Contava que seu primeiro emprego foi de revisor, no Jornal do Brasil: “Naquela época, a gente entrava para a Redação de duas formas: ou pela Revisão, ou pela Editoria de Polícia. Eu entrei pela Revisão”. Na ditadura militar, quando atuava na Revisão do JB, considerado um dos maiores jornais do País, ele observava de lá da Revisão os jornalistas famosos da época atuando na Redação, como, por exemplo, Fernando Gabeira. E sonhava em um dia estar ali.

Washington era sobrinho da atriz Nancy Wanderley, primeira esposa do grande humorista Chico Anísio, e primo carnal do artista e humorista Lug de Paula. Dos três irmãos, somente Ana Paula, sua irmã mais nova, faleceu de covid-19 exatamente 6 meses atrás. William Sidney de Souza e Sandra Sidney de Souza, continuam no Rio. Excelente pai das únicas duas filhas, Débora Gregório de Souza Piano e Simone Gregório de Souza Carvalho, ambas advogadas, o que o orgulhava muito, ao fazer sua passagem, deixou três netos, um, filho de Débora, e, dois, filhos de Simone. E os genros, respectivamente, Alexandre Piano e Pedro Henrique Jotta de Carvalho Bezerra. As filhas são do primeiro casamento. Um longo relacionamento com Sandra Gregório Nóbrega, uma advogada. Aliás, seus casamentos foram duradouros. Viveu longos anos com Maria Luiza Pires Freitas, uma turismóloga. Seu último relacionamento, que durou mais de 15 anos, foi com a jornalista Carla Lisboa.

Contudo, o casamento perfeito foi com o jornalismo. Esse foi para vida inteira. Apaixonado pela profissão e pela literatura, também era um exímio contador de casos e de piadas. Aliás, ele também era uma calculadora ambulante: fazia qualquer conta de cabeça. Sobrinho de artistas, em suas veias também circulava a verve da interpretação: bastava vê-lo contando uma piada. Não havia quem não morresse de rir. Era escritor e personagem de suas próprias histórias. Encantado pela escrita correta, dedicou-se a transformar fatos simples do dia a dia em notícia e grandes matérias em textos literários. Tinha na ponta da língua a palavra certa para cada coisa.

Um dicionário de jornalismo. Um professor generoso. Ele tinha um olho de águia para detectar uma notícia, apontar uma manchete, escrever um lide. Fazia títulos como seu grande ídolo do futebol, Garrincha: na brincadeira. E mais: fazia do tamanho que o diagramador mandasse. Ele tinha uma sensibilidade a mais para titular. Dizia que o objetivo de todo jornalista era “levar o leitor no colo”. “Na hora de escrever a matéria, você tem de fazer o leitor entrar na cena, visualizar o fato e viver todas as emoções. Para isso, tem de usar a palavra certa na hora certa”, ensinava.

O Rio ficou pequeno para tanta criatividade. Fã do estilo literário de Nelson Rodrigues, chegou um dia em que, depois de muitas negativas que o impediram de ingressar na reportagem, decidiu ir embora. Além disso, não bastava ler os romances, era preciso conhecer o País para poder aprofundar seu conhecimento e dar vida, nas matérias, às mazelas dos governos . Quando conheceu a baiana Maria Luiza e se casaram, foram para as terras de Jorge Amado, outro autor que admirava. E foi ali que ele conquistou seu lugar no jornalismo, a oportunidade que sua terra natal lhe negou sucessivamente.

Em Feira de Santana e em Salvador, sua carreira deslanchou. Atuou em todas as editorias de todos os jornais e ganhou vários prêmios. Fez grandes amizades que conservou até hoje como se guardam os melhores vinhos. Todas as memórias da Bahia são hilárias porque por onde ele passou, fez revoluções, subverteu a ordem e deixou muito ensinamento.

Ele assinava “Sidney de Souza” (em homenagem a seu grande ídolo, o seu próprio pai). E quem conviveu com ele afirma que aprendeu todo dia muita coisa. Um intelectual disfarçado de repórter. Conhecedor profundo de futebol, carteado e outros esportes, era um flamenguista doente. Ai de quem atravessasse a frente da TV na hora do jogo! Um dia, quando ainda vivia em Salvador, descobriu que já era um craque no texto e que havia chegado o tempo certo para alçar novos voos. Resolveu mudar para Brasília, afinal, era na capital do País que ele planejava transformar o jornalismo em fonte de renda.

Mudou-se para o Distrito Federal, em 1989, e aqui viveu 33 anos. “No dia que cheguei em Brasília, as Redações estavam em greve e eu não sabia. Levei meu currículo ao Correio Braziliense e fui chamado para começar na reportagem no dia seguinte. Trinta dias depois fui elevado a repórter especial. Depois me tornei editor”, contava satisfeito. Fez grandes amizades ali. Um deles, Levi Pereira, que já faleceu há muitos anos.

Foi escrevendo matérias para o Correio Braziliense que ele também deslanchou no Distrito Federal, trabalhou em vários jornais e ganhou outros prêmios. Um deles lhe rendeu uma viagem a Miami. Daí só cresceu na profissão e amadureceu o texto. Como quase todo virginiano, era perfeccionista. Os amigos diziam que ele era tão perfeccionista na edição que editava até o prato de comida. Era tudo desenhado. O jornalismo era o sangue que circulava nas suas artérias.

Washington era destemido e gostava de música. Estudou partitura e sabia tocar violão e cavaquinho. Sempre declarava que não tinha medo de morrer. Mas não dava mole para o azar. Evitava adoecer. Cuidava da (saúde) todo dia. Parou de fumar e de beber há anos. Fez de tudo para não pegar a Covid-19. Ele sabia que tinha comorbidades violentas, capazes de fazer suas três doses de vacina não valerem nada perante o coronavírus.

No entanto, tudo o que fez não foi o bastante. A doença, que se não fosse a politização já poderia estar banida do planeta, o abateu. Na tarde desta quarta-feira (9), uma parada cardíaca retirou o eterno repórter, o cronista do dia a dia, Washington Sidney de Souza, de cena. Nesta quarta, o jornalismo do Distrito Federal ficou muito mais pobre ao perder Sidney de Souza, uma eminência e sua excelência: o repórter e editor”.

Grande perda para todos nós, jornalistas, leitores e amigos. Meus sinceros sentimentos, minha amiga Carla Lisboa. Que Deus o receba na redação divina e em paz! — (Coletivo IBI — Inteligência Brasil Imprensa).