Morre Alípio Freire, um lutador pela democracia


22/04/2021


Alípio Freire

Falar de um amigo querido que acaba de morrer é sempre difícil. É como se uma parte da gente fosse embora.

Pois faleceu na manhã desta quinta-feira Alípio Freire, uma das melhores figuras que conheci ao longo de meus mais de 70 anos de idade.

Ambos militamos na resistência à ditadura militar, mas em estados e organizações diferentes. Só nos conhecemos pessoalmente depois da anistia.

Mas, logo em seguida, nos reconhecemos como se fôssemos amigos de infância. E dos grandes.

Algumas vezes fui a São Paulo e, outras, ele veio ao Rio só para que nos encontrássemos. No Rio, ele ficava hospedado na minha casa. Em São Paulo, eu ficava na dele.

Sempre entrávamos pela noite bebendo e conversando. De política e de assuntos gerais da vida.

Por coincidência, dois dias antes de ser colhido pela Covid-19, Alípio me telefonou. Como de hábito, falamos quase uma hora. E combinamos um novo reencontro logo que as condições permitissem.

Vá em paz, grande amigo.

O mundo fica menor sem você por aqui.

 Cid Benjamin, vice-presidente da ABI

 


Alipio Freire ao lado de autorretrato Foto: Daniel Garcia

Jornalista, escritor e artista plástico, Alípio Freire foi militante da Ala Vermelha, grupo dissidente do PC do B, que combateu a ditadura militar por meio da luta armada. Foi preso aos 23 anos pela Operação Bandeirantes (Oban). Depois de três meses de torturas e interrogatórios, foi transferido para o Presídio Tiradentes, onde ficou preso entre 1969 e 1974.

Após a prisão, seguiu com o jornalismo e a militância, sendo um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT). Anistiado pelo Ministério da Justiça desde 2005, escreveu vários livros, entre eles, “Estação Paraíso” e “Estação Liberdade”. Em 2013, lançou seu primeiro documentário, chamado 1964 – Um golpe contra o Brasil. O lançamento ocorreu no Memorial da Resistência de São Paulo, seguido de um debate com o diretor do filme. Ele próprio um dos lutadores contra o arbítrio e um herói da resistência. Freire era também representante da ABI em São Paulo.