Makunaíma” ganha
Festival de Brasília


22/12/2020


Troféu Candango, do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro — Foto: Andre Borges/Agência Brasília

Makunaíma ganha Festival de Brasília

“Muita coisa está morrendo nesse país”. Com essas palavras o Secretário de Cultura do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues, fez o discurso de encerramento do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na segunda-feira, 21, cujo grande vencedor foi Por onde anda Makunaíma?, de Rodrigo Séllos  na Mostra Oficial de Longa Metragem, abocanhando o troféu Candango. O Prêmio especial do Júri foi para o veterano Jorge Bodanzki com o longa Utopia e Distopia e na categoria curtas, venceu Rosas do asfalto, de Daiane Cortes. Sílvio Tendler, o curador do evento, também foi homenageado com a estatueta.

Ivan, o terrível, de Mario Abadde recebeu o Prêmio Especial do Júri e República, de Grace Passô o de melhor curta-metragem. O Prêmio Cosme Alves Netto da Anistia Internacional ficou com A tradicional família brasileira KATU, de Rodrigo Sena. Longe do paraíso, único longa de ficção de Orlando Senna ganhou como Melhor Filme do Júri Popular e o curta premiado foi Noite de seresta, de Sávio Fernandes e Muniz Filho. Mais de 300 profissionais da área assinaram a Carta de Brasília, um documento de 17 itens com reivindicações culturais devido “ao descaso do atual governo” com essa área e que foi lido ontem durante a cerimônia pela cineasta indígena Graciela Guarani.

Premiações

Por onde anda Makunaíma? é uma produção de Roraima que pela primeira vez participar da mostra, o filme fala da origem indígena de um dos personagens mais marcantes da literatura brasileira, imortalizado por Mário de Andrade, evidenciando as influências e ramificações desta lenda em vários segmentos da cultura nacional, do teatro ao cinema, além de enredo de samba.

Os cineastas Ana Maria Magalhães e Joel Zito Araújo, além da produtora Ilda Santtiago, concederam o Prêmio Especial do Júri ao longa- documentário Ivan, o terrível, de Mario Abbade, uma homenagem  ao mestre do gênero terror Ivan Cardoso. E o Prêmio Abraccine de melhor longa-metragem ficou com Entre nós talvez estejam multidões, documentário da dupla Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito. Trata de um poderoso retrato sobre a luta de moradia e o pertencimento urbano na periferia de Belo Horizonte.

Além de melhor curta-metragem, República, de Grace Passô foi agraciado também com o Prêmio Abraccine no formato. A morte branca do feiticeiro negro, deu ao jovem Rodrigo Ribeiro o Prêmio de Melhor Direção. O curta de ficção paranaense Pausa para o café, filme de estreia da diretora Tamiris Tertuliano, abiscoitou três Candangos: o de melhor atuação para a dupla de atrizes, Maya e Rosana Stavis, de Melhor Montagem e de Melhor Roteiro.

O Troféu Câmara Legislativa de Melhor Filme da Mostra Brasília ficou com o documentário Candango: Memórias do Festival, de Lino Meirelles, também o preferido do público. Do outro lado, o curta de David Murad, recebeu o prêmio de melhor filme na categoria na Mostra Brasília.

Carta de Brasília

O ponto crucial do documento foi um painel do Festival de Brasília sobre a Cinemateca Brasileira “e a emergência de não deixarmos nossa memória trancada na masmorra da negligência de uma necrofilia política”.

Outro ítem dos 17 agendados é “a articulação política e apartidária do cinema brasileiro com frente parlamentar no combate ao desmantelo da Ancine, da Cinemateca e da política de fomento ao cinema nacional”. Além disso, pedem o incentivo do cinema feito por etnias indígenas, de criadores e criadoras de povos originários. E também o acesso de cineastas negras para desenvolvimento de seus projetos cinematográficos.

CINEMATECA BRASILEIRA – NOVIDADES NO FRONT

Moradores entram no processo e alertam para risco de incêndio na Cinemateca

O Tribunal Regional Federal da 3a. Região deu liminar favorável para que a Associação dos Moradores da Vila Mariana (AVM) ingresse na Ação Civil Pública (ACP) movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a União e em favor da Cinemateca Brasileira (CB). Graças a uma petição que detalhou os riscos de explosão dos depósitos dos filmes de nitrato em área residencial, os vizinhos conseguiram ser classificados como assistentes ativos no processo. A associação, que representa mais de 10 coletivos do bairro, recolheu várias provas que foram apresentadas ao Desembargador Federal, Marcelo Saraiva, que entendeu que “a falta da adequada manutenção do acervo da CB pode trazer sérios riscos – de incêndio – para os moradores e frequentadores da região da Vila Mariana, assim como ao meio ambiente em seu entorno”.

Com este despacho, a associação foi aceita como assistente no processo e pode atuar ativamente junto ao MPF, afim de que o patrimônio que a Cinemateca salvaguarda seja preservado e medidas efetivas sejam impostas ao Governo Federal para sua preservação e pela sua reabertura imediata. A CB está fechada ao público há mais de 300 dias e sem funcionários desse o dia 7 de agosto, quando a União tomou as chaves da Associação Roquette Pinto, OS que fazia a gestão do local através de um contrato encerrado em dezembro de 2019 que não foi não renovado. Todos os 41 funcionários técnicos que trabalhavam na instituição foram demitidos seis dias depois.Em busca de provas.

Em busca de provas para convencer o Juiz da urgência dessa reabertura, descobertas preocupantes vieram à tona: a empresa contratada para fazer a manutenção do prédio tombado é uma Eireli (tem um único sócio). A limpeza ficou a cargo de uma companhia da área hospitalar. Nenhuma das duas é qualificada para assegurar a manutenção do arquivo. Além do mais, desde dezembro de 2017, a Cinemateca não teve laudo de vistoria estabelecido pelo Corpo de Bombeiros.

Os moradores, que há meses monitoram o prédio, dizem que lá só trabalham dois vigias: um na porta da frente e outro na de trás. “Todos estamos cientes da importância que a Cinemateca tem para o cinema brasileiro e latino-americano. E a memória do nosso bairro está depositada aqui. Filmes de antigos moradores, documentos, fotografias… A gente não quer perder isso.”
Os moradores pedem judicialmente a visita do juiz ao local, para que ele possa entender a real importância do que está em risco. A Associação Paulista de Cineastas (APACI), que também participa da ação como “amicus curiae” e realizadores que militam pela causa foram encarregados de municiá-los com uma “petição audiovisual” que será arrolada aos autos do processo.

Caráter de urgência
O caráter de urgência acolhido na decisão do Desembargador Marcelo Saraiva se impõe sobre a necessidade do retorno dos técnicos especializados à Cinemateca para a manutenção e manuseio dos filmes de nitrato, que possuem elevado potencial de autocombustão. Além dos filmes de acetato, que podem sofrer a “síndrome do vinagre”, processo de deterioração química que pode se disseminar pelo ambiente através dos gases expelidos e contaminar todo o acervo, acelerando a degradação dos demais rolos de filme. Ao Desembargador lembramos as piores memórias do incêndio ocorrido na Cinemateca Brasileira em fevereiro 2016, quando, durante a crise administrativa, o quadro de funcionários que cuidavam de seu acervo foi reduzido a duas pessoas. As condições físicas que provocaram o incêndio naquela época são similares às que podem provocar o atual: a autocombustão dos filmes de nitrato eliminou 1.005 rolos do acervo e da história nacional, consumidos pelo fogo, em 2016. Hoje o acervo audiovisual é composto por mais 250 mil rolos de filmes e um milhão de documentos relacionados ao audiovisual.

Chegada do verão
Como todo ano na cidade de São Paulo, o verão é marcado por eventos climáticos que se agravam. Em fevereiro de 2020, uma chuva torrencial deixou a cidade parada por 24hs (https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/02/11/chuva-acumulada-em-fevereiro-em-sp-ja-e-maior-do-que-o-esperado-para-o-mes-inteiro-diz-inmet.ghtml). Em junho, no outono, fortes chuvas atingiram a capital causando dezenas de derrubadas de árvores na Vila Mariana (https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2020/06/bombeiros-relatam-64-chamados-para-quedas-de-arvores-com-a-chuva-em-sp-ckb5eiqqh002z01ib510ntezf.html). Em evento recente, há uma semana, dia 1 de dezembro, mais uma vez, chuva forte, ventos acima do normal provocaram queda de energia e de várias árvores na Vila Mariana. Uma delas, atingindo um veículo com uma mãe e dois filhos, provocando a morte da mãe. Além disso, vale lembrar que a Cinemateca Brasileira não conta com AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros) e quando ocorrem as quedas de energia, as câmaras de refrigeração e climatização dos filmes ficam comprometidas.

Mais de 100 produtoras cobram do governo federal a implementação de plano emergencial para a Cinemateca
No dia 17 de dezembro, uma carta assinada pelo movimento S.O.S. Cinemateca-APACI e a AVM, até o momento apoiada por mais de cem produtores audiovisuais, responsáveis pela produção de cerca de 1,5 mil filmes, foi entregue à Secretaria do Audiovisual. Isso porque apesar das promessas do Secretário do Audiovisual, Bruno Côrtes, de que a Sociedade Amigos da Cinemateca seria contratada para executar um plano de trabalho emergencial de gestão do acervo, transcorridos 4 meses desde a entrega das chaves, a Cinemateca continua abandonada. A recente exoneração de mais um Ministro do Turismo e o infarto do Secretário da Cultura, Mário Frias, pressagiam mais imobilismo.

Polo audiovisual
Há um esforço da comunidade audiovisual e dos moradores da Vila Mariana em demonstrar os riscos a que a Cinemateca Brasileira está exposta sem o corpo técnico que garanta sua adequada manutenção. Buscando ajuda financeira junto à Câmara Municipal de SP e ao Plano Emergencial que foi construído com a SAC (Sociedade Amigos da Cinemateca), associações e grupos ligados ao audiovisual e a comunidade da Vila Mariana, por meio de mais de 10 coletivos da região, busca dar garantias de proteção ao acervo até que uma nova OS (Organização Social) possa ser escolhida para a nova gestão da Cinemateca.

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