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Jânio de Freitas: “Temos que conter esta marcha sinistra”


04/09/2019


“A ameaça que paira sobre o Brasil é aguda. Mas não é assim apenas pelo ataque das forças antidemocráticas. A ameaça é facilitada e engrandecida pela falta de resposta dos democratas ao ataque. O país está inerte, como se tomado pelo pasmo ou pelo receio.”

O alerta acima foi feito pelo jornalista Jânio de Freitas em carta encaminhada ao ato “Ditadura Nunca Mais”, que na terça-feira (03/09) reuniu mais de 500 participantes na Associação Brasileira de Imprensa – ABI, em um movimento que tem por objetivo preservar o Estado Democrático de Direito e se opor aos retrocessos que estão sendo impostos à sociedade pelos atuais governantes.

Freitas foi escolhido por unanimidade pelos organizadores do ato como o representante dos jornalistas na mesa do ato Ditadura Nunca Mais!, por simbolizar, independentemente da figura do presidente da ABI, Paulo Jeronimo, o Pagê, a categoria dos jornalistas.

Colunista da Folha de S. Paulo há mais de 30 anos informa, ele reflete e se posiciona sobre o momento político do País, de forma lúcida e independente.

Natural de Niterói, 87 anos, Jânio começou a carreira como desenhista e diagramador do Diário Carioca no início da década de 1950, foi repórter, repórter fotográfico e redator-chefe da revista Manchete, em 1959 migrou para o Jornal do Brasil, onde se tornou editor-chefe e um dos responsáveis pela reforma editorial e gráfica do JB, ao lado do artista plástico Amílcar de Castro. Depois assumiu cargos de direção no Correio da Manhã e na Última Hora. 

Em 2002, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, concedida pela ong Tortura Nunca Mais, a quem se destaca pela defesa dos direitos humanos e por uma sociedade justa e menos desigual.

Por estar adoentado, Jânio de Freitas não pôde estar presente à solenidade em defesa da democracia e da liberdade, nunca tão ameaçada quanto nos tempos atuais. Agradeceu o convite, lamentou a ausência imposta por seu médico, mas fez questão de escrever uma carta sobre o momento político brasileiro, que foi lida publicamente durante o evento, pelo seu amigo pessoal, o jornalista e professor, João Batista de Abreu, recém eleito para o Conselho Deliberativo da ABI que lembra: “Antes de se tornar jornalista, Jânio queria ser aviador, mas um acidente frustrou seu desejo. A vida mostrou que no jornalismo seus voos foram mais altos!.

Eis a carta:

Prezados democratas,

Se eu pudesse estar aqui, diria que a ameaça à democracia é permanente, como a Europa em vão nos mostra outra vez. A ameaça que paira sobre o Brasil é aguda. Mas não é assim apenas pelo ataque das forças antidemocráticas. A ameaça é facilitada e engrandecida pela falta de resposta dos democratas ao ataque. O país está inerte, como se tomado pelo pasmo ou pelo receio. É triste e necessário notar que a reação à Amazônia em fogo precisou vir de fora, para estar à altura da tragédia provocada.

Se eu pudesse estar aqui, diria que é preciso e urgente nos dirigirmos às consciências embotadas, uma a uma, em toda parte, para alertá-las sobre o que se passa a cada dia. Sobre a importância destrutiva dessa marcha sinistra sobre as suas vidas, sobre o futuro em que viverão seus filhos e netos. É preciso despertar o sentimento democrático hoje refugiado na perplexidade ou no desânimo.

Se eu pudesse estar aqui, lembraria que todo avanço da civilização foi fruto de inconformismo. A liberdade, os direitos humanos, a cultura, onde existam e nas doses a que aí chegaram, foram obras, todos, dos inconformados de todos os tempos.

Se eu pudesse estar aqui, faria um pedido: sejamos inconformados. O ser humano, a justiça entre todos e o Brasil democrático precisam do nosso inconformismo.

Jornalista Jânio Sérgio de Freitas