Indústria naval homenageia João Cândido


11/05/2010


O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta sexta-feira, dia 7, da cerimônia de batismo do navio petroleiro João Cândido, no Complexo Industrial e Portuário de Suape, na Ilha de Tatuoca, em Pernambuco. Participaram do evento, cerca de 3,7 mil funcionários do Estaleiro Atlântico Sul(EAS) e 2,5 mil convidados, entre os quais, os Ministros Paulo Sérgio Passos, dos Transportes; Eloi Ferreira, das Políticas de Promoção da Igualdade Racial; Augusto Wagner Padilha Martins, dos Portos; a ex-ministra Dilma Rousseff, o Governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o Vice-governador João Lyra Neto, os Presidentes Ângelo Belellis, da EAS; Sérgio Machado, da Transpetro; José Sérgio Gabrielli, da Petrobrás; José de Lima Andrade Neto, da Petrobrás Distribuidora; deputados federais e estaduais e Adalberto Nascimento Cândido, filho de João Cândido.

O navio, do tipo Suezmax, foi batizado com o nome João Cândido em homenagem ao marinheiro conhecido como o Almirante Negro, léder da Revolta da Chibata, movimento de militares da Marinha do Brasil que completa cem anos em 2010, contra a aplicação de castigos físicos a marinheiros.
—Vamos homenagear brasileiros que lutaram, sofreram e têm importância, mas, não são reconhecidos, afirmou Lula.

O Ministro da Igualdade Racial, Eloi Ferreira, tendo ao lado Adalberto Nascimento Cândido, também sublinhou a trajetória de João Cândido:
—É uma figura que tem grande importância histórica para todos os trabalhadores brasileiros. 

Adalberto Cândido ao centro de camisa rosa próximo ao presidente Lula

Adalberto Nascimento Cândido, que há mais de cinco décadas é funcionário da Associação Brasileira de Imprensa(ABI), agradeceu a homenagem em nome da família:
—Esta é uma maravilhosa celebração à trajetória de meu pai, especialmente neste ano de 2010, quando a Revolta da Chibata chega ao centenário. Agradecemos a todos que trabalharam em prol deste reconhecimento e continuamos aguardando uma decisão favorável também em relação à indenização da nossa família.

Encomendado pela Transpetro, braço logístico do grupo Petrobras, através do Programa de Modernização e Expansão da Frota-Programa de Aceleração do Crescimento (Promef-PAC), o navio de 274 metros de comprimento foi construído pelo Estaleiro Atlântico Sul ao custo de R$ 300 milhões, e tem capacidade para transportar um milhão de barris de petróleo.

Símbolo da retomada da indústria naval brasileira e do início da atuação pernambucana nesta área, o Suezmax João Cândido, que vai começar a operar no fim do próximo mês de agosto, é o primeiro petroleiro de grande porte construído no Brasil a ser entregue ao sistema Petrobras em mais de 13 anos.
Outras 49 embarcações contratadas pela Transpetro já estão em construção. A previsão é que até dezembro seja entregue o segundo navio, e até 2014, a totalidade da frota.

—Lembro quando especialistas do outro lado diziam que construir navios era impossível. Isso demarca claramente como as pessoas veem o seu País. Hoje, nós estamos aprendendo a ter de novo orgulho da gente, e o lançamento desse navio representa isso. Além de gerar emprego e renda, o estaleiro deve ser levado a sério como autoafirmação de um povo que por muito tempo foi esquecido, afirmou o Presidente Lula.

José Sergio Gabrielli, Presidente da Petrobras, destacou a retomada do setor naval:
—Este navio representa o primeiro de uma série de muitos outros que serão feitos aqui. Ele abre novas oportunidades de investimento. É o início de um ciclo virtuoso.

O Presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ressaltou o salto de produtividade na área:
— O Brasil entrou no mapa da indústria naval mundial, de onde tinha desaparecido. Agora é o quarto país em encomendas de navios petroleiros.

Ângelo Belellis, Presidente do EAS, comemorou também o nascimento da indústria naval em Pernambuco:
—Estamos marcando o fim de um jejum de 14 anos sem a construção de um navio no Brasil. O João Cândido é o primeiro de uma série de 22 que nascerão em Pernambuco. Vale lembrar que cerca de 90% dos trabalhadores que atuaram na construção do João Cândido são pernambucanos.

Simbolizando os mais de 3.700 empregados do estaleiro, a soldadora Josenilda Maria da Silva foi escolhida como madrinha da embarcação.
—Nunca imaginei trabalhar em um estaleiro, não tinha perspectivas, mas hoje estou aqui. É uma honra ter sido escolhida madrinha de um navio tão importante, disse Josenilda.

A contribuição dos operários para o avanço da indústria naval foi sublinhada pelo Presidente Lula.
—A construção do navio é a auto-afirmação de um povo. E foram esses cidadãos que estão aqui, que um dia eram vistos apenas com os altos índices de violência, ou mão de obra no Sudeste e no Sul, que fizeram nascer esse bem tão importante para o Brasil.

Revolta

Filho de ex-escravos, João Cândido Felisberto liderou a “Revolta da Chibata” em 22 de novembro de 1910, quando os marinheiros, em sua maioria, negros e mestiços filhos de ex-escravos, se revoltaram contra os constantes castigos físicos imputados pelos oficiais, membros da elite branca e aristocrática do Brasil.

Milhares de marinheiros se rebelaram e ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro. Durante os seis dias do motim seis oficiais foram mortos. João Cândido foi designado à época, pela imprensa, como Almirante Negro.

A rebelião terminou com o compromisso do Governo federal em acabar com o emprego da chibata na Marinha.

Dias depois, ocorreu uma nova revolta. João Cândido, apesar de haver assumido posição contrária ao movimento, foi expulso da Marinha, e preso na Ilha das Cobras.

Em abril de 1911, foi transferido para o Hospital dos Alienados, como louco, mas recebeu alta e voltou para a Ilha das Cobras, de onde foi solto em 1912, absolvido das acusações juntamente com nove companheiros.

João Cândido sofreu grandes privações, vivendo como estivador e peixeiro. Discriminado pela Marinha até o fim da vida, João Cândido morreu pobre e esquecido em 6 de dezembro de 1969, aos 89 anos de idade, vítima de um câncer.

Na década de 70, sua memória foi homenageada pelos compositores João Bosco e Aldir Blanc, no samba “O mestre-sala dos mares”.