Há 50 anos morria Luiz Paulistano


21/02/2011


Há 50 anos o jornalismo perdeu na figura de Luiz Paulistano um de seus maiores expoentes, morto em um acidente de helicóptero, em 21 fevereiro de 1961, que teve também como conseqüência a morte, uma semana depois, de Roberto Silveira, então Governador do antigo Estado do Rio de Janeiro.
 
Paulistano — que fez amigos e discípulos na ABI, entre os quais seu Presidente, Maurício Azêdo — foi o responsável pela modernização da técnica de redação dos veículos diários do Rio de Janeiro, por meio da implantação do lead (abertura da notícia com dados relevantes do fato) adotado pela imprensa norte-americana. A partir dessa inovação, a redação das notícias deveria oferecer informações obedecendo a um esquema que nos Estados Unidos ficou conhecido como “os cinco Ws e um H” (Who, What, When, Where, Why and How), que na tradução para o português corresponderia às perguntas fundamentais do jornalismo: Quem? O quê? Quando? Onde? Por quê e Como?
 
O pioneiro na adoção dessa técnica jornalística foi o extinto Diário Carioca, sob a liderança de Danton Jobim e Pompeu de Souza, que observaram in loco as formas de redação da imprensa norte-americana. Pompeu foi redator, em Nova York, de programas jornalísticos instituídos pelos Estados Unidos no âmbito do programa de Boa Vizinhança, destinado a aproximar os Estados Unidos e o Brasil, nas vésperas da II Guerra Mundial. Na volta ao Brasil, foi um dos mais entusiasmados defensores desse novo sistema de redação de notícias e da modernização da titulação das matérias dos jornais.
 
Pompeu citava um exemplo dessas mudanças ao lembrar como foi apresentada a informação da substituição do Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, pelo General Pedro Aurélio de Gois Monteiro. Em depoimento ao antigo Boletim da ABI, predecessor do atual Jornal da ABI/I>, ele lembrou como o Diário Carioca noticiou esse fato: “Sai Dutra, entra Gois”. Pela primeira vez uma notícia dessa natureza era apresentada sem os rebuscamentos e formalismos que marcavam o jornalismo de então.
 
Nesse trabalho também teve um papel destacado Danton Jobim — duas vezes Presidente da ABI —, o qual formou gerações de profissionais como professor de Jornalismo da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, a famosa FNFi, o primeiro criado no País numa instituição universitária pública.
 
Luiz Paulistano também exerceu um papel de destaque no processo de modernização da imprensa do Rio de Janeiro, pois teve a iniciativa de criar o chamado sublead, resultante do desdobramento do lead ampliando e aperfeiçoando a técnica do lead trazida por Danton e Pompeu, para ajustá-la às necessidades de apresentação gráfica das notícias. Ele considerava que na abertura das matérias em duas colunas havia um desequilíbrio gráfico com a apresentação do lead e introduziu o sublead para tornar mais harmoniosa a apresentação visual da informação.
 
Paulistano era goiano doMunicípio de Jataí e trabalhou em inúmeros veículos impressos do Rio, entre os quais O Jornal, Jornal do Commercio e Manchete, além do Diário Carioca. Coube-lhe liderar, na segunda metade dos anos 50, a modernização do JC, que fora adquirido pelo Deputado San Tiago Dantas e ainda apresentava o mesmo visual gráfico que mantinha desde o início do século. Ele introduziu uma série de inovações no jornal fundado em 1827 e que era o mais antigo editado no Rio de Janeiro. Dentre as novidades surgiram a coluna de turfe, o noticiário esportivo e a introdução da fotografia. Quando o JC publicou sua primeira foto na capa, a novidade foi divulgada nos principais jornais do País, como o Jornal do Brasil, que iniciava a famosa reforma comandada por Odylo Costa, filho.
 
O acidente que matou Luiz Paulistano foi provocado pelas fortes chuvas que castigaram o Norte do antigo Estado do Rio, principalmente a cidade de Campos, onde ocorreram grandes enchentes. Secretário e assessor de imprensa do Governador, Paulistano acompanhou-o numa inspeção na região inundada onde se deu o acidente de que somente sobreviveria o repórter-fotográfico da antiga Agência Fluminense de Informação (AFI). Paulistano morreu no mesmo dia; Roberto Silveira; uma semana depois. Ele estava com 47 anos.