Canais de TV fechados e funcionários presos após golpe militar no Egito


Por Igor Waltz*

05/07/2013


Fogos de artifício explodem sobre a praça Tahrir, no Cairo, após o anúncio da deposição do Presidente. Também houve manifestações pró-Mursi. (Crédito:AP)

Fogos de artifício explodem sobre a praça Tahrir, no Cairo, após o anúncio da deposição do presidente. Também houve manifestações pró-Mursi. (Crédito:AP)

Grupos de direitos humanos denunciaram nesta sexta-feira, 5 de julho, o fechamento arbitrário de canais de televisão, entre eles a sucursal egípcia da rede de TV Al-Jazeera, assim como a prisão de vários de seus funcionários, ao considerar que este ato é totalmente contrária à liberdade de expressão. A ação ocorreu poucas horas após o golpe militar que derrubou o presidente Mohamed Mursi no Egito, na última quarta-feira, 3 de julho. Diversos funcionários destas emissoras foram presos no que foi anunciado pela Mena, agência estatal de notícias do Egito, como medidas de precaução.

O anúncio foi realizado em um comunicado conjunto de seis organizações egípcias de direitos humanos. As instituições expressaram suas preocupações em torno das medidas “excepcionais” que estão sendo articuladas pelas forças de segurança contra estes canais, acusados de incitar a violência e causar a desobediência civil para apoiar o recém-deposto presidente Mohammed Mursi. “O fechamento dos canais é uma forma de castigo coletivo, que constitui uma violação à liberdade de expressão e dificulta a diversidade dos conteúdos”.

O canal Al Jazeera, responsável por larga cobertura da chamada Primavera Árabe desde 2011, anunciou em sua página na internet que o serviço ao vivo da emissora saiu do ar depois que unidades das Forças Armadas invadiram o prédio da rede e prenderam um apresentador, produtores e convidados.

A polícia irrompeu também os canais Misr 25, da Irmandade Muçulmana, e El Rahma, El Nas e Jaliguiya, de tendência salafista. A segunda edição do jornal do partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, também foi invadida pelos militares, denunciaram os grupos de direitos humanos.

A emissora Misr 25 vinha transmitindo ao vivo a cobertura de manifestações de milhares de partidários de Mursi no Cairo e em outras regiões do país, com discursos de lideranças de alto escalão da Irmandade denunciando a intervenção militar para derrubar o presidente eleito.

De acordo com a Mena, vários veículos das forças de segurança percorreram as dependências do centro midiático, já que vários desses canais recebem dirigentes das correntes que apoiam o presidente deposto. Fontes das televisões religiosas, citadas pela agência, destacaram que a polícia lhes comunicou que as prisões são medidas de precaução para impedir provocações aos manifestantes em favor de Mursi.

Golpe militar

Na última quarta-feira, 3 de julho, o Exército articulou um golpe de Estado que pôs fim ao governo Mursi, que está sob custódia militar e incomunicável. Outros líderes islâmicos também foram presos ou estão sendo procurados pela Justiça, a maioria sob a acusação de instigar à violência e criticar o Poder Judiciário.

Em pronunciamento feito na tarde da quarta-feira na TV estatal, o chefe das Forças Armadas do Egito, general Abdul Fattah al-Sisi, anunciou a suspensão da Constituição e a convocação de novas eleições presidenciais.

“As Forças Armadas consideram que o povo do Egito está nos pedindo apoio, não para tomar o poder ou governar, mas servir ao interesse público e proteger a revolução. Essa é a mensagem que os militares receberam de todos os cantos do Egito”, afirmou.

Segundo ele, Mursi “falhou em atender as demandas do povo egípcio”. Logo após o pronunciamento de Sisi, manifestantes reunidos no Cairo na Praça Tahrir – palco dos protestos que levaram em 2011 à renúncia do ex-presidente do Egito, Hosni Mubarak -, comemoram a saída de Mursi.

Os oponentes de Morsi dizem que a Irmandade Muçulmana está tentando implantar no país um regime com características islâmicas e exigiram sua saída do poder. Os protestos pela saída do presidente começaram no domingo, 30 de junho, e resultaram em 16 mortos e mais de 700 feridos. Na quarta-feira, após quatro dias de intensas manifestações no país e poucos momentos antes da deposição, o presidente havia reafirmado que não pretendia renunciar e repetiu uma oferta de criação de um governo de consenso.

Atenção internacional

O governo brasileiro declarou que acompanha com preocupação a situação no Egito, depois da deposição do presidente. “Ao insistir na busca de soluções para os desafios a serem enfrentados pela população egípcia em respeito à institucionalidade, o Governo brasileiro conclama ao diálogo e à conciliação para que as justas aspirações da população egípcia por liberdade, democracia e prosperidade possam ser alcançadas sem violência e com a plena vigência da ordem democrática”, informou o comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores.

O presidente Barack Obama disse que está profundamente preocupado com a decisão do exército egípcio e pediu que o país volte rapidamente a ter governo civil. A lei americana determina que a ajuda financeira seja encerrada em caso de golpe contra um governo eleito democraticamente – o que no caso do Egito representa R$ 2,6 bilhões por ano.

* Com informações da TV Globo, BBC, jornal O Globo, agência EFE e portal Terra.