Brasileiros promovem manifestações no exterior


Por Igor Waltz*

17/06/2013


Dublin, na Irlanda, foi palco da maior passeata, com a presença de 2 mil pessoas. (Crédito: Fábio Gibelli).

Dublin, na Irlanda, foi palco da maior passeata, com a presença de 2 mil pessoas. (Crédito: Fábio Gibelli).

Estudantes e imigrantes brasileiros na Europa e nos Estados Unidos deram início, no fim de semana, a uma série de manifestações em solidariedade aos protestos no Brasil contra o aumento das tarifas do transporte público. Os atos aconteceram de forma pacífica, com autorização das forças de policiamento locais, em cidades como Dublin (Irlanda), Berlim (Alemanha), Washington, Nova York, Boston (Estados Unidos) e Montreal (Canadá). Estima-se que todos os eventos tenham reunidos aproximadamente 3 mil pessoas.

No domingo, 16 de junho, manifestantes ocuparam faixa central de uma das principais avenidas de Dublin, a Avenida O’Connel, em direção ao Stephen’s Green, parque público no centro da cidade. De acordo com a polícia local, o evento reuniu mais de 2 mil pessoas.

Segundo Andréa Cordeiro, uma das organizadoras do evento, a quantidade de pessoas que compareceram surpreendeu a organização. “Tínhamos pouco mais de 3.000 presenças confirmadas no Facebook, mas não imaginávamos que as pessoas de fato fossem para a rua”.

Os principais motivos para a manifestação, de acordo com os organizadores, são o fim da corrupção, o abusivo aumento da tarifa e a precariedade do transporte público, e o posicionamento contra a PEC 37, conhecida popularmente como “PEC da Impunidade”, que se aprovada, tiraria o poder de investigação dos Ministérios Públicos Estaduais e Federal.

Outra participante e organizadora do evento, a paulistana Carolina Valeis, conta que os manifestantes levaram flores para os policiais. “No final, fizemos uma homenagem para a polícia: sentamos no chão, agradecemos e aplaudimos”.

Segundo Valeis, que está na Irlanda há apenas um mês, a manifestação foi uma forma de apoiar os brasileiros que estão indo às ruas, “mesmo de longe”. “Se eu estivesse no Brasil eu iria para a rua, não apenas pelos vinte centavos, mas por tudo”, diz.

Alemanha

Manifestantes em Berlim, Alemanha, pediram um fim da violência policial contra manifestantes. (Crédito: Marcelo Avila)

Manifestantes em Berlim, Alemanha, pediram um fim da violência policial contra manifestantes. (Crédito: Marcelo Avila)

Também no domingo, cerca de 400 pessoas realizaram uma marcha em Berlim, na Alemanha. O ato contou com a escolta da polícia e não houve nenhum caso de tumulto. “Na sexta de manhã, depois da truculência da noite de quinta em São Paulo, a gente resolveu fazer a nossa parte por aqui também, para chamar a atenção da mídia internacional e dar apoio aos que estão apanhando no Brasil”, diz Juliana Rebelo Doraciotto, publicitária, de 25 anos, uma das organizadoras do evento, que mora em Berlim desde 2012.

A manifestação foi autorizada pela prefeitura da cidade e a polícia escoltou os manifestantes. “Aqui é tudo muito organizado e foi muito maior do que esperávamos. Cantamos o hino do Brasil nas ruas”, acrescenta Ana Paula Freitas, jornalista de 25 anos. Natural de Santo André, na região do ABC Paulista, ela vive em Berlim há um ano. “No final, um policial até tirou foto com a gente”, disse.

No módulo de manifestação acordado entre os brasileiros e a prefeitura da cidade, era permitido o uso de mega-fone e a possibilidade de cantar – o uso de máscaras e instrumentos musicais não estava liberado.

Apesar de cerca de 90% dos participantes serem brasileiros, os turcos também se destacaram no protesto em Berlim. A Turquia também passa por uma situação delicada, com a repressão violenta a manifestantes de rua e ameaça de greve geral. A Alemanha conta com a maior comunidade turca na Europa.

Estados Unidos e Canadá

Em Boston, universitários e pesquisadores de outras nacionalidades se somaram à manifestação. (Crédito: Roger Koeppl)

Em Boston, universitários e pesquisadores de outras nacionalidades se somaram à manifestação. (Crédito: Roger Koeppl)

Na cidade de Boston, cidade que abriga universidades como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT e a Universidade de Harvard, um grupo formado por pesquisadores, trabalhadores, voluntários e estudantes se reuniu no domingo em frente ao prédio do MIT e caminharam até Boston Common, principal parque da cidade. O ato reuniu cerca de 200 pessoas, que contou também com estudantes de outras nacionalidades.

Ana Paula Alves, estudante brasileira de 24 anos, que está há quatro meses morando nos Estados Unidos para estudar inglês. Alves diz que ficou decepcionada com a falta de participação dos brasileiros, já que a cidade de Boston é uma das maiores comunidades brasileira nos Estados Unidos.

“Fiquei contente e triste ao mesmo tempo. Contente, pois é válida toda iniciativa a favor das manifestações e contra a repressão militar. Fiquei triste, pois Boston tem a maior comunidade brasileira e muitos não compareceram. Apenas os estudantes internacionais politizados e com uma situação boa no Brasil foram manifestar. Achei lamentável, pois moro no bairro brasileiro. Estou indignada em como o imigrante brasileiro e ilegal com sub emprego aqui não compareceu”.

Já em Nova York, os brasileiros não tinham autorização da prefeitura para fazer a manifestação. Eles, então, não puderam continuar o protesto iniciado na tarde de domingo. Com cartazes como “Primavera Brasileira”, “O povo acordou”, e “Chega de pão e circo”, os manifestantes tiveram que empreender uma tática diferente: combinaram de ir ao show de Preta Gil, que ocorre por conta do Festival de Cinema Brasileiro, e soltar gritos de ordem após o fim da terceira música da apresentação. Apesar de a maioria não ser fã da cantora, a ideia ganhou força entre um grupo basicamente de estudantes, grande parte de São Paulo.

Manifestantes também se reuniram em frente ao consulado brasileiro de Washington e colaram cartazes na entrada do prédio. De lá, se dirigiram até a Casa Branca, onde receberam o apoio de pessoas de vários países. A manifestação foi organizada por Ana Catharina Parra, que trabalha como babá na Virginia.

“Postei em um grupo na internet que estava me sentindo impotente depois de ver os vídeos da manifestação em São Paulo. Amigos me narraram a cena de guerra, então perguntei se alguém gostaria de me acompanhar até o consulado com cartazes”, contou.

O consulado brasileiro também foi o ponto de encontro de manifestantes em Montreal, Canadá. Apesar da chuva, cerca de 150 pessoas protestaram em frente ao prédio na Westmount Square. A caminhada que saiu da praça do Canadá até o Consulado ocorreu de forma pacífica, sem imprevistos. Como prevê a lei do país, o trajeto foi comunicado às autoridades locais, que concederam a permissão do protesto. Durante o trajeto, os manifestantes foram acompanhados pela polícia.

Manifestantes carregavam um grande cartaz, que dizia: ‘Democracia não tem fronteiras’, enquanto cantaram o hino nacional. Veja o vídeo:

Novos protestos

Estudantes brasileiros residentes em outros países também estão organizando, por meio das redes sociais, ao menos 30 atos de apoio às manifestações que ocorreram nos últimos dias em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os atos estão previstos para serem realizados em cidades da Valência, Barcelona e Madrid (Espanha), Londres (Reino Unido), Lisboa e Coimbra (Portugal), Munique e Hamburgo (Alemanha), Cidade do México (México), Tóquio (Japão), Buenos Aires (Argentina) e Sidney e Melbourne (Austrália). No próximo dia 22 de junho, sábado, é a vez dos brasileiros irem à rua em Paris, na França. 

*Com informações dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e Diário de Pernambuco, portal G1 e Agência Estado.