Protestos no Brasil são notícia pelo mundo


Por Igor Waltz*

18/06/2013


Insatisfação com os problemas sociais e os elevados custos das obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas. Essas foram as causas apontas pela imprensa internacional durante a cobertura, com amplo destaque, dos protestos em 12 capitais e grandes cidades brasileiras na noite da última segunda-feira, 17 de junho, que levou mais de 230 mil pessoas às ruas do País.

“Nossos vinte centavos são o parque de Istambul” foi a manchete do jornal espanhol El País. A matéria comenta que os jovens “saíram do Facebook” e tomaram as ruas das cidades como não se via desde o fim da ditadura e o impeachment de Fernando Collor. “O que começou na sexta-feira, 14 de junho, em São Paulo como um movimento contra o aumento da passagem do transporte público fluiu na segunda-feira, 17 de junho, em um grito histórico de indignação”, dizia a matéria.

Em outra matéria, intitulada “Brasil: um sonho ou pesadelo?”, a publicação espanhola aponta a perplexidade da classe política diante da magnitude dos protestos. A matéria afirma que os jovens atentaram contra símbolos do poder, pois os “políticos não os representa mais”.

A agência de notícias alemã Deutsch Welle também destacou que os protestos foram os maiores em mais de 20 anos, levando a Presidente Dilma Rousseff a se pronunciar pela primeira vez. Na versão online do jornal Süddeutsche Zeitung, um dos maiores da Alemanha, os protestos foram destaque na manhã desta terça-feira, 18 de junho, no alto de página, com a manchete “Uma nação futebolística combate a bola”, em referência aos gastos públicos gerados pelos grandes eventos. O diário sentenciou que “mesmo para os brasileiros, fanáticos por futebol, os custos [da Copa] são elevados demais, e os políticos e dirigentes [esportivos] corruptos demais”.

O jornal Le Monde, da França, que organizou uma cobertura minuto-a-minuto com vídeos e mensagens publicados por manifestantes na internet, comparou os protestos aos da Turquia, em que “manifestantes usaram extensivamente as redes sociais, tanto para organização dos atos quanto para divulgar suas reivindicações e tentar alertar os veículos de imprensa internacionais”.

Já o The Guradian, do Reino Unido, trouxe um mapa do Brasil apontando as principais cidades onde ocorreram as manifestações. Segundo o jornal, embora a maioria das manifestações tenham sido pacíficas, houve violência no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Para o The New York Times, as manifestações nas ruas se intensificaram depois que imagens de violência policial contra manifestantes pacíficos se espalharam pelas redes sociais. “Enquanto a dinâmica de táticas policiais, como o uso de spray de pimenta, gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes ecoa os recentes acontecimentos na Turquia – para não mencionar aqueles em Nova York e Oakland, em 2011, e antes disso, na Espanha, Síria, Líbia, Bahrein, Egito e Tunísia, no mesmo ano – as imagens da repressão policial que animou os ânimos foram capturadas não por manifestantes ou correspondentes estrangeiros, mas por repórteres de jornais locais e emissoras de televisão”, trouxe o jornal.

O USA Today levantou preocupações com a segurança, já que “os protestos vêm após os jogos de abertura da Copa das Confederações, apenas um mês antes de uma visita do papa, um ano antes da Copa do Mundo e três anos antes da Olimpíadas de 2016”.

Os argentinos La Nación e Clarín deram enfoque à invasão do Congresso, em Brasília, e à tentativa de depredação do prédio da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – Alerj. Já o jornal chileno El Mercúrio, que confundiu a Alerj com o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, explicou que os protestos organizados pelas redes sociais não contavam com nenhuma liderança política.

Os eventos foram noticiados também em veículos de países como Áustria, Austrália, Colômbia, Holanda, Itália, Paraguai, Portugal, Suíça e Venezuela.

ONU

Diante dos eventos, o porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Rupert Colville, afirmou nesta terça-feira, durante uma coletiva de imprensa em Genebra, que as Nações Unidas receberam relatos sobre “uma série de danos, ferimentos, prisões e detenções, incluindo o de jornalistas” que cobrem os protestos que acontecem no Brasil.

O escritório da ONU pediu que o Brasil tome “todas as medidas necessárias para garantir o direito de reunião pacífica e evitar o uso desproporcional da força durante os protestos”.

*Com informações da Deutsch Welle e jornal O Globo.