ABI lamenta morte de Adriano Barbosa


04/01/2010


A ABI, por meio da sua Diretoria, manifesta o seu pesar pela morte do jornalista Adriano do Nascimento Barbosa, que foi um dos mais importantes repórteres da cobertura policial do Rio de Janeiro. Ele morreu no dia 31 de dezembro, aos 87 anos de idade.

Ex-chefe de reportagem dos jornais Globo, Dia, Jornal dos Sports, Adriano Barbosa se destacou na imprensa carioca pelo seu especialíssimo senso de apuração, que o levou a desvendar um caso que chocou o Brasil nos anos 50 — conhecido como o crime da Sacopã —, quando era repórter do jornal O Mundo Ilustrado.

Foi a partir das investigações de Adriano Bandeira que a verdade sobre o assassinato de um funcionário do Banco do Brasil chamado Afrânio — acusado de aplicar golpes em meninas ricas da Zona Sul — veio à tona. O corpo foi encontrado na noite de 7 de abril de 1952, dentro de um Citroen preto, na Ladeira do Sacopã, no bairro da Lagoa, no Rio. 

A história foi contata por Adriano Barbosa no livro “Sacopã — Bandeira / Herzog / Delane. No túmulo da cidadania”. Segundo ele, a moça tinha um caso com um Coronel chamado Alencastro, que acionou seus contatos no Governo Vargas, cuja Polícia Secreta supostamente teria sido responsável pela morte de Afrânio. No entanto, quem acabou como bode expiatório sendo preso e condenado a 15 anos prisão foi um Tenente chamado Bandeira, que chegou a cumprir 7 anos de reclusão.

Para o jornalista Jorge Antônio Barros, do blog Repórter de Crime e subeditor da editoria Rio do Globo, Adriano Barbosa foi um dos mais importantes profissionais do jornalismo criminal e sua morte causa tristeza.

Em nota no seu blog nesta segunda-feira, 4 de janeiro, Jorge Antonio Barros conta que ficou sabendo da morte de Adriano Barbosa por intermédio de outro grande repórter policial chamado Ubirajara Moura Roulien, que inclusive foi o proponente de Adriano na ABI, na qual este ingressou como sócio efetivo em 27 de maio de 2003.

“Fiquei triste pela perda que ele representa para o jornalismo e porque fui desleixado e não gravei em vídeo o depoimento que teria que ter gravado com este homem que acompanhou uns 50 anos de reportagem criminal no Rio. Ele, por exemplo, me contou com detalhes a história dos mendigos afogados no Rio da Guarda, no Rio, na década de 50”, escreveu Jorge Antonio Barros, acrescentando que Adriano Barbosa foi um dos chefes de reportagem do Globo que mais tempo permaneceu no cargo.

Adriano Barbosa escreveu também o livro “Esquadrão da morte — um mal necessário?” (editora Mandarino, 1971). A obra foi prefaciada por Nelson Rodrigues, que trabalhou com Adriano na redação do Globo.

No texto, Nelson destaca a simplicidade de Adriano Barbosa e a sua vocação para exercer qualquer função dentro de uma redação, inclusive a de contínuo se fosse preciso. Eis um trecho do prefácio de Nelson Rodrigues:

“Quem foi uma vez repórter de polícia, será pra sempre repórter de polícia. É o caso, exatamente, de Adriano Barbosa. (…) Hoje, é muito mais da reportagem geral. Só que o repórter de polícia está enterrado nele como um sapo de macumba. Mas o sapo de macumba está morto, ao passo que Adriano Barbosa tem em si um sapo vivo… Adriano Barbosa tem em si um sapo vivo. É um homem que numa redação fará tudo, tantas são as funções profissionais que já exerceu. Só não foi contínuo, mas o seria pelo simples e desinteressado gosto de uma experiência nova.

E já uma dúvida se insinua no meu espírito. No nosso próximo encontro hei de perguntar-lhe: Já foste contínuo meu bom Adriano? Portanto, ficam vocês sabendo que o repórter de polícia é uma de suas dimensões definitivas. E, como tal repórter, ele tem uma ótica especialíssima, de implacável lucidez, para contemplar os fatos, as figuras, os mitos de sua época. No tempo da reportagem aprendeu a lidar com a catástrofe. Nada escapou ao seu metier: o patético, o sublime, o grotesco, a sordidez e a pureza da condição humana. (…) Nos Estados Unidos, Adriano Barbosa não seria nem Barbosa nem Adriano, mas gloriosamente Truman Capote.” 

O jornalista Pinheiro Júnior disse que trabalhava na Última Hora quando conheceu Adriano Barbosa, com quem se encontrou diversas vezes durante a produção de reportagens policiais. Surpreso com a notícia da morte de Adriano ele falou sobre o colega:
— O Adriano Barbosa era um repórter extraordinário, que eu digo que se equiparava ao estilo do Amado Ribeiro. Era um profissional que ia fundo nas suas matérias, apurava tudo até o fim apontando as chagas sociais, declarou Pinheiro Júnior.