IHG-SP homenageia o centenário da ABI


29/08/2008


Em cerimônia nesta quarta-feira, 27, o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo prestou homenagem ao centenário da ABI e aos 200 anos da Imprensa Régia e fez a entrega solene do Colar Bicentenário da Vinda da Família Real para o Brasil ao Presidente da ABI, Maurício Azêdo; ao Vice-presidente da Associação, Audálio Dantas; e ao Presidente da TV Cultura, Paulo Markun.

A sessão foi mediada pela Presidente do IHG-SP, professora Nelly Martins Ferreira Candeias, que, ao saudar os homenageados, fez o elogio póstumo à primeira mulher a tomar posse na Presidência da instituição, Marie Rennotte, que assumiu em 4 de maio de 1801, quando tinha 49 anos:
— Belga de nascimento e radicada no interior paulista, Marie Rennotte inovou no ensino feminino, então voltado para corte, costura e cozinha, e introduziu no currículo matérias como Álgebra, Aritmética, Literatura, Línguas, Música e Botânica, um perigo para a moral da época — contou Nelly. — E, nos anos 1880, foi articulista da Gazeta de Piracicaba, órgão republicano dirigido por Prudente de Moraes.

Agradecimento

Ao agradecer a homenagem, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, ressaltou a vinculação de membros da Casa com os estudos e as pesquisas históricas, como o casal Marcelo e Cybelle de Ipanema, “que fez importantes pesquisas sobre o jornal Revérbero Constitucional Fluminense, um dos periódicos mais destacados nas lutas pela independência”.

O Presidente da ABI lembrou também que Barbosa Lima Sobrinho teve uma iniciação precoce na vida cultural do País, como autor, nos anos 1920, do estudo “O problema da imprensa”, “que, ainda hoje, preserva sua atualidade pela defesa que faz da liberdade de expressão, ameaçada pelo arbítrio do poder, expresso na Lei Adolfo Gordo, parlamentar de São Paulo que concebeu um projeto de castração da liberdade de imprensa”.

Maurício destacou ainda a atuação, no campo histórico, de outro Presidente da ABI, Fernando Segismundo, que, após a redemocratização de 1985, participou do grupo de intelectuais que produzia e divulgava obras destinadas à popularização de vultos memoráveis que tiveram participação nas lutas pela liberdade:
— Segismundo escreveu, então, o livro “Castro Alves explicado ao povo”. Nos anos seguintes, produziu outras obras históricas importantes, várias delas dedicadas à trajetória da ABI na vida nacional.

Por fim, ele falou da importância de outro membro da Associação, o jornalista e historiador Hélio Silva, que presidiu o Conselho Deliberativo da Casa nos anos 70:
— Hélio foi autor de obras sobre momentos traumáticos da História do Brasil a partir dos anos 20, produzindo uma série de volumes iniciada com “O primeiro 5 de julho”, no qual narra o levante dos 18 do Forte com um título em que o historiador deixava presente o talento do jornalista: “Sangue nas areias de Copacabana”. Ele chamou esses estudos de “O ciclo Vargas”, denominação a princípio vista com reservas nos círculos acadêmicos, que depois consideraram pertinente sua criação — contou Maurício.

Diploma

Por proposta da Comissão Organizadora do IHG-SP, integrada por Hernâni Donato, Lauro Ribeiro Escobar, Carlos Taufik Haddad e Rodolfo Konder, a instituição concedeu também, durante a cerimônia, o diploma Bicentenário da Imprensa no Brasil a Carlos Eduardo Lins da Silva, Gioconda Bordon, José Hamilton Ribeiro, Luthero Maynard, Mário Porfírio Rodrigues, Rosani Abou Adal, Caio Porfírio Carneiro, Geraldo Nunes, João Gualberto Meneses, José Marques de Melo, Lygia Fagundes Telles, Reginaldo Dutra e Sergio Gomes da Silva.

Além de Nelly Candeias e Maurício Azêdo, discursaram no ato solene os jornalistas Paulo Markun e Audálio Dantas, que lembraram momentos do dramático episódio do assassinato do jornalista Vladimir Herzog em outubro de 1975, numa prisão militar de São Paulo. Ambos destacaram a importância dos protestos da imprensa contra esse crime no fortalecimento da resistência à ditadura militar. Markun salientou ainda que dois jornalistas presentes, Rodolfo Konder e Sergio Gomes da Silva, não puderam participar desses protestos, pois estavam presos na mesma unidade militar em que Herzog foi morto.

Audálio Dantas recordou a resistência travada então pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo, que presidia à época, e o apoio da ABI às manifestações organizadas, que tiveram uma participação muito especial: a de Prudente de Moraes, neto, então Presidente da Casa do Jornalista. Emocionado, Audálio evocou o ato ecumênico em memória de Herzog, realizado na Catedral da Sé, com a presença de 8 mil pessoas, e que só não foi alvo de um massacre, como pretendiam os órgãos de repressão, em razão da serenidade de seus organizadores: o Cardeal D. Paulo Evaristo Arns, o pastor metodista James Wright e rabino Henry Sobel, que estava presente à solenidade e foi saudado pelo Vice-presidente da ABI. 

O IHG-SP concedeu o Colar do Centenário também ao Deputado estadual João Mellão Neto, em reconhecimento à sua iniciativa de apresentar na Assembléia Legislativa de São Paulo projeto que autoriza o Governo do estado a conceder auxílio financeiro aos Institutos Históricos e Geográficos. 

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