Pedaços da história do rádio no Centro do Rio


06/06/2008


 Bernardo Costa

Criado no dia 4 de março de 2004, por iniciativa de Augusto Ariston, então Presidente da Associação das Emissoras de Rádio e TV do Estado do Rio de Janeiro (Aerj), o Museu do Rádio reúne objetos importantes que contam a história do mais popular meio de comunicação. O acervo foi iniciado com doações da família do radioator Roberto Faissal, do Dr. Álvaro Alberto Gomes Estima, do próprio Ariston e, pouco depois, começou a receber também contribuições de visitantes do Museu.

Entre as curiosidades expostas, destaca-se um rádio galena da primeira década do século XX, de origem francesa. Feito em madeira, o modelo foi dos primeiros a serem fabricados e tiveram grande uso entre soldados durante as Grandes Guerras, por terem tamanho reduzido e não precisarem de corrente elétrica para transmissão — era necessário apenas esticar um fio de 20 ou 30 metros para captar estações situadas a quilômetros de distância.

Outra peça que merece destaque é um rádio em forma de pirâmide, que se abre e apresenta uma TV em seu interior. De origem japonesa, o aparelho, de 1978, é mostra da tentativa de fazer o rádio “conviver em harmonia” com advento da televisão, a partir da década de 50:
— O rádio teve que ir se adaptando. Quando surgiu a televisão, era comum as pessoas afirmarem que o rádio ia acabar, mas não foi isso que aconteceu. O veículo foi passando por transformações — diz Ângela Peixoto, curadora do Museu.

 Cauby, Denise e Dircinha

Alguns equipamentos que pertenceram à Rádio Roquette-Pinto, como um alto-falante dos anos 50, uma mesa de áudio de 1960 — ambos utilizados em transmissões externas, como as das partidas de futebol — e um microfone da década de 20 também estão expostos no Museu do Rádio:
— Esse microfone é interessante — comenta Ângela. — Ele aparece muito em filmes de época, geralmente aqueles de gângsteres dos anos 20 e 30.

Fotografias também ajudam a contar a história do rádio. Entre o material iconográfico encontram-se imagens de cantores que tiveram importante trajetória no veículo, como Cauby Peixoto e Orlando Silva, que integraram os quadros da Rádio Nacional; Nora Ney, famosa por sua interpretação de sambas-canção; Aracy de Almeida, considerada a maior intérprete de Noel Rosa; e Dircinha Batista, a primeira Rainha do Rádio eleita pela Associação Brasileira de Rádio. 

Novelas 

As radionovelas também estão materialmente representadas no Museu por diversas fotos antigas — como a do ator, autor e compositor Mário Lago e as dos integrantes da família Faissal, grandes representantes do radioteatro, como a escritora Denise — e por uma capa de disco que continha canções de trilhas sonoras das tramas na voz de Albertinho Fortuna, “o garoto que vale ouro”, alcunha que o cantor recebeu em 1936, de César Ladeira, então Diretor Artístico da Mayrink Veiga. A curadora destaca:
— É interessante percebermos que a TV sempre imitou o rádio. Todas as telenovelas hoje em dia têm seu CD com a trilha sonora nacional e internacional, mas isso começou com as radionovelas. 

Ao lado do disco de Albertinho Fortuna encontra-se ainda um álbum com o resumo dos capítulos da primeira radionovela do Brasil, “Em busca da felicidade”, que estreou em 12 de julho de 1941 e permaneceu na programação da Rádio Nacional durante três anos, com os protagonistas Alfredo e Alice Medina sendo interpretados por Rodolfo Mayer e Ísis de Oliveira.

Nos itens do mobiliário em exposição, o rádio do tipo console traz um pouco o clima da época, quando as famílias se reuniam ao redor do rádio para escutar seus programas prediletos e discutir assuntos suscitados pelas transmissões.

Acontecimento

   Rádio-televisão, de 1978

Alguns fatos importantes marcaram o ano de 1922, como a realização da Semana de Arte Moderna, a criação do Partido Comunista do Brasil, o levante dos 18 do Forte e o centenário de independência do Brasil. Para a comemoração deste acontecimento, no dia 7 de setembro, foi organizada a Exposição Internacional, em cuja abertura o então Presidente Epitácio Pessoa teve seu discurso reproduzido por um sistema de radiotelefones em forma de cornetas. Era a primeira transmissão radiofônica no País.

A demonstração foi organizada pela Western Electric, a Westinghouse e a Rio de Janeiro e São Paulo Telephone Company, por meio de uma pequena estação de 500W, instalada no alto do Corcovado. Além do discurso de Epitácio Pessoa, houve a execução da canção “O aventureiro”, da ópera “O guarani”, de Carlos Gomes. Os sons ouvidos na Exposição também foram captados no Palácio Monroe, no Palácio do Catete, nos Ministérios, em Niterói e na Prefeitura de Petrópolis, devido a 80 receptores que vieram dos EUA e foram distribuídos para políticos e personalidades da época.

Na imprensa

No acervo do Museu do Rádio o visitante pode acompanhar também a repercussão do veículo na imprensa. A primeira seção jornalística especializada no novo meio de comunicação foi publicada nas páginas da Gazeta de Notícias, em 19 de abril de 1923, com o título “Radiophonia”. Em 13 de outubro do mesmo ano, editada pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, surgiu a primeira publicação dedicada inteiramente ao veículo, a Revista Rádio. Publicada bimestralmente, podia ser adquirida também em Buenos Aires e Montevidéu e tinha como anunciantes empresas produtoras ou revendedoras de equipamentos de rádio.

 Aracy de Almeida

Mais tarde, outras publicações especializadas se destacaram, como a Revista do Rádio — que circulou de 1949 a 1970, com tiragem média de 50 mil exemplares — e a Radiolândia, lançada em 52 e editada durante dez anos. Em São Paulo, merecem destaque o Guia Azul, que circulou de 1939 a 1948, e a Radar, que teve mais curta duração, de 51 a 53.

O Museu do Rádio fica na Rua da Constituição, 78, no Centro do Rio, e está a visitação gratuita de segunda a sexta-feira, das 12h às 17h.