Villas-Bôas Corrêa aplaudido de pé na ABI


10/12/2008


Claudia Souza

Afonso Arinos, Bernardo Cabral, Maurício Azêdo, Murilo Melo Filho, Villas-Bôas e Teixeira Heizer

Os 60 anos de carreira de Villas-Bôas Corrêa foram comemorados na tarde desta quarta-feira, dia 9, com cerimônia especial na Sala Belisário de Souza, no 7º andar do edifício-sede da ABI, prestigiada por amigos, colegas de trabalho, admiradores e parentes do analista político mais antigo em atividade no País.

O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, abriu a solenidade convocando os membros da mesa formada pelo acadêmico e jornalista Murilo Melo Filho, o Senador Bernardo Cabral — sócios da Casa —, o jornalista Teixeira Heizer e o acadêmico e Embaixador Afonso Arinos de Melo Franco.

Em seguida foi exibido o documentário, realizado pela TV Uerj, “Memória da imprensa carioca”, que, nas palavras de Maurício Azêdo, “constitui não apenas a descrição de uma trajetória individual, mas também a fixação de momentos importantes da história do jornalismo do Rio de Janeiro e, por conseqüência, do Brasil e da vida pública nacional”.

    Maurício, Murilo Melo Filho e Villas-Bôas

Após a sessão, Maurício agradeceu a presença de nomes importantes da imprensa, como Herval Faria, Antonio Carlos de Carvalho, Paulo Stein, Geraldo Pedrosa, e Raul Quadros. Também participaram do evento, entre muitos outros, o fotógrafo Evandro Teixeira, o cartunista Chico Caruso, Diretores e Conselheiros da ABI — como Milton Coelho da Graça, Pery Cota, Jesus Chediak, Paulo Jerônimo e Orpheu Santos Salles — e parentes do homenageado, entre os quais a mulher Regina, os filhos Marcos e Marcelo Sá Corrêa e a neta Joana.

Relevância

O jornalista e acadêmico Murilo Melo Filho saudou Villas-Bôas resgatando sua trajetória na imprensa e a relevância da homenagem:
— A ABI, templo da imprensa fundado por Gustavo de Lacerda, completou um século na gestão de Maurício Azêdo, que foi antecedido por outros grandes Presidentes, como Barbosa Lima Sobrinho, Herbert Moses, Fernando Segismundo e Danton Jobim. A entidade abre hoje suas portas para homenagear um dos maiores nomes do jornalismo brasileiro, que no dia 27 do último mês completou 60 anos de carreira. Esta data é sobremodo importante para a imprensa, pois aplaude a carreira de um homem que continua esbanjando saúde, dignidade e empenho no exercício de sua formação. Em 1948, em A Notícia ele teve seu batismo de fogo no jornalismo, que durou dois minutos, ao fim dos quais o foca já estava redigindo uma nota de poucas linhas, que, no dia seguinte, viu com surpresa ser estampada na primeira página.

O imortal destacou os laços de amizade e de união com o homenageado:
— Amigos e colegas há 60 anos, somos nós dois os remanescentes dos anos dourados da política, um tempo em que se estabeleceu o modelo político forjado por grandes nomes como Heráclito Assis de Sales, Pompeu de Souza, Otacílio Lopes, Osvaldo Costa e outras dezenas de heróis do nosso jornalismo. Devotado à família e à profissão, Villas-Bôas é um homem de bem, honrado, digno, competente, por quem meu carinho e desvelo aumentam a cada dia. Um exemplo de vida para todos os seus contemporâneos. Sobre ele, tenho tanto a dizer e contar, e muito me enobrece, como membro da Academia Brasileira de Letras e jornalista, participar desta homenagem. 

                                                  

 Marcelo, Regina, Villas-Bôas e Joana

Quixote

Em seguida, o decano do jornalismo político foi presenteado com uma escultura de ferro de Dom Quixote de La Mancha, entregue pelo editor-chefe da revista Justiça e Cidadania Orpheu Santos Salles, que declarou:
— Villas-Bôas é o digno representante do pensamento do velho Cervantes, por sua dignidade, postura, caráter e tudo o que representa para nós.

Surpreso e feliz, o jornalista esbanjou bom humor ao receber a estatueta:
— Dom Quixote eu não tenho, mas uma Dulcinéia eu conquistei há 62 anos, né? — brincou, referindo-se à mulher Regina.

Dirigindo-se aos membros da mesa e à platéia, o analista político agradeceu a solenidade:
— Sou muito grato ao Maurício Azêdo, para mim o melhor Presidente de toda a história da ABI. O Murilo falou em seu discurso tudo o que eu pensara dizer. Tive sorte em minha vida de ter uma amizade como a dele, sem nenhum tipo de rusgas ao longo de 50 anos. Quando o conheci ele trabalhava no Correio da Noite, e desde então somos unidos e testemunhamos muitos episódios da história do País. Ele é um dos melhores profissionais de todo o mundo. Em relação a mim, asseguro que o Murilo exagerou nos elogios, mas elogio não faz mal a ninguém.

No discurso, lembrou ainda momentos significativos de sua carreira, como o período em que trabalhou como assessor do Ministro das Relações Exteriores, Magalhães Pinto:
— Foi em 1968, no Governo do General Arthur da Costa e Silva.
Quando surgiu a notícia sobre o AI-5, o Magalhães Pinto consultou 32 pessoas de sua confiança sobre a questão e eu fui o último a ser ouvido: “Se o senhor tem mesmo dúvida sobre este assunto, não deveria me consultar, pois sabe a minha opinião”, disparei.

Ao final, Villas-Bôas assegurou que pretende prosseguir firme com seu trabalho na imprensa e se disse realizado com a festa:
— Este é o tipo de homenagem de que a gente gosta. A comoção veio rápido desta vez, porque pode ser a última — concluiu, visivelmente emocionado.

O comentário foi imediatamente rechaçado em uníssono pela platéia, que o aplaudiu de pé.

Ética e seriedade

                     Orpheu Salles e Villas

Para Maurício Azêdo, a cerimônia reflete o reconhecimento da trajetória de Villas-Bôas e sua relevância para a imprensa brasileira:
— Ele é um companheiro admirado por todos e um exemplo de competência, dignidade e humildade no exercício do jornalismo político.

O imortal Afonso Arinos de Mello Franco enfatizou a experiência do analista como um modelo do que vem a ser a política nacional:
— Somos amigos desde os velhos tempos em que ele iniciou no jornalismo. Ainda hoje continuo aprendendo com ele.

Para Teixeira Heizer, o rigor ético é uma das características mais marcantes de Villas-Bôas Corrêa:
— Trabalhei com ele durante 20 anos no Estadão e somos amigos há 30. Não me lembro de um só deslize durante toda a sua carreira.

 Raul Quadros

O jornalista Raul Quadros lembrou emocionado de momentos em que contou com a ética e a seriedade do homenageado.
— Ontem mesmo, durante uma entrevista, comentei que em 1970 eu trabalhava no Estadão e tive um problema com Cláudio Coutinho, que chegou a me trancar em uma sala porque não gostara de uma matéria minha. Villas-Bôas e Teixeira Heizer me deram todo o apoio, demonstrando respeito ao meu trabalho.

Marcos Sá Corrêa, filho mais velho de Villas-Bôas e também jornalista, falou da influência do pai em sua escolha profissional:
— O filho do industrial herda a indústria; o filho do médico herda o consultório; e o filho do jornalista herda o exemplo. Sou jornalista porque cresci na casa de Villas-Bôas Corrêa.

Entrevista — Villas-Bôas Corrêa
Jornalistas saúdam Villas-Bôas Corrêa