8M: A hora da estrela  de Clarice Lispector é o filme do Macunaíma


08/03/2022


Novela de Clarice Lispector é tema de filme do Macunaíma

O Cineclube Macunaíma exibe amanhã (3ª feira), a partir das 10h e por 24 horas, A hora da estrela, dirigido por Suzana Amaral e baseado no romance da escritora ucraniana naturalizada brasileira Clarice Lispector. O filme de 1985 aborda a história de Macabéa (Marcélia Cartaxo, melhor atriz do Festival de Berlim), uma nordestina de dezenove anos, orfã de pai, mãe e da tia que a criou, que vai para São Paulo ser datilógrafa. Ela começa a namorar Olímpico de Jesus (José Dumont), mas a relação não se sustenta e Olímpico troca Macabéa pela colega dela, Glória (Tamara Taxman), que, por recomendação de uma cartomante (Fernanda Montenegro), rouba o namorado de Macabéa.

Às 19h30, haverá debate sobre a obra com o cineasta Silvio Tendler; a produtora do filme Assunção Hernandez; a documentarista Nicole Algranti, sobrinha de Clarice Lispector; e a pernambucana Taciana Oliveira que dirigiu o documentário sobre a escritora, “Clarice Lispector , a Descoberta do mundo”. O mediador será o crítico Rodrigo Fonseca. Assistir ao filme e o debate pelo canal da ABI no YouTube. Link: bit.ly/3uZn84f.

Clarice

Nascida Chaya Pinkhasivna Lispector (em ucraniano: Хая Пінкасiвна Ліспектор), em  Chechelnyk, na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920, a escritora Clarice Lispector morreu no Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1977, naturalizada brasileira. Autora de romances, contos, e ensaios, é considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia desde Franz Kafka. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, reputando-se como uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano. Quanto às suas identidades nacional e regional, declarava-se brasileira e pernambucana.

Nasceu em uma família judaica russa que perdeu suas rendas com a Guerra Civil Russa e se viu obrigada a emigrar em decorrência da perseguição a judeus, à época, a qual resultou em diversos extermínios em massa. Especula-se que a mãe de Clarice teria sido violada por soldados russos durante a Primeira Guerra Mundial. A futura escritora chegou ao Brasil, ainda pequena, em 1922, com seus pais e duas irmãs. Ela dizia não ter nenhuma ligação com a Ucrânia – “Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo” – e que sua verdadeira pátria era o Brasil. Inicialmente, a família passou um breve período em Maceió, até se mudar para o Recife, onde Clarice cresceu e onde, aos oito anos, perdeu a mãe. Aos quatorze anos de idade transferiu-se com o pai e as irmãs para o Rio de Janeiro, local em que a família se estabilizou.

Estudou Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, apesar de, na época, ter demonstrado mais interesse pelo meio literário, no qual ingressou precocemente como tradutora, logo se consagrando como escritora, jornalista, contista e ensaísta, tornando-se uma das figuras mais influentes da Literatura brasileira e do Modernismo, sendo considerada uma das principais influências da nova geração de escritores brasileiros. É incluída pela crítica especializada entre os principais autores brasileiros do século XX.

Suas principais obras marcam cada período de sua carreira. Perto do Coração Selvagem foi seu livro de estreia, publicado quando Clarice tinha 24 anos de idade; Laços de FamíliaA Paixão segundo G.H.A Hora da Estrela e Um Sopro de Vida são seus últimos livros publicados. Faleceu em 1977, um dia antes de completar 57 anos, em decorrência de um câncer de ovário. Deixou dois filhos e uma vasta obra literária composta de romances, novelas, contos, crônicas, literatura infantil e entrevistas.

Suzana Amaral – a diretora de A hora da estrela Suzana Amaral foi uma cineasta e roteirista paulistana, falecida em 2020, aos 88 anos. É conhecida por seu trabalho nesse filme, pelo qual venceu dois prêmios no Festival de Berlim. Ela já acumulou duas indicações ao Grande Otelo, ambas na categoria de melhor roteiro adaptado, por Uma Vida em Segredo e Hotel Atlântico. 

A Hora da estrela, lançado em 1985, foi o primeiro longa-metragem e a obra mais conhecida da cineasta,  Baseado no romance homônimo de Clarice Lispector, o filme centra-se na vida de uma jovem protagonista problemática, Macabéa, interpretada pela premiada atriz Marcélia Cartaxo, residente em São Paulo.

O filme quebra muitos estereótipos ao apresentar a protagonista feminina, que não é bonita nem de classe média. Anti-heroína, carente de afeto e respeito, ela vagueia pela vida em busca de uma imagem que pode adotar e adaptar. O filme foi bem recebido em seu lançamento e a produção escolhida do Brasil para submissão ao 59º Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Além disso, foi inscrito no 36º Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde a atriz Marcélia Cartaxo ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz.]

No Festival de Cinema de Brasília de 1985 o filme ganhou o prêmio de melhor filme e Amaral o de melhor diretor. Além disso, o filme também ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Havana de 1986. Amaral foi escolhida como melhor diretora no Festival Internacional de Cinema da Mulher de 1986. A Hora da Estrela foi filmado em quatro semanas com um orçamento de US$ 150 mil, 70% dos quais financiados pela Embrafilme. O sucesso de A Hora da Estrela levou Amaral à notoriedade imediata, embora nenhum de seus outros filmes tenha alcançado tanto sucesso.

Suzana Amaral teve nove filhos, um dos quais nasceu enquanto ela cursava cinema em São Paulo. Ela disse que foi “totalmente dedicada à maternidade por 10 anos” antes de decidir perseguir seu sonho de fazer filmes. Era divorciada. A cineasta era uma ávida seguidora de filmes de Bollywood que dizia querer que os filmes indianos chegassem ao Brasil em grande estilo. Amaral era seguidora do Budismo. Morreu em junho de 2020, de causas não divulgadas.

Debatedores

Além do cineasta Silvio Tendler e do jornalista e crítico de cinema Rodrigo Fonseca, estarão no debate:

Assunção Hernandez – produtora cultural e de audiovisual, produziu 26 filmes, entre eles, A Hora da Estrela e O homem que virou suco. É vice-presidente da Federação Íbero-Americana de Cinma Audiovisual.

Taciana Oliveira – é de Recife (PE) e atua em direção e produção cinematográfica, coordena as publicações na revista digital Laudelinas. É editora-chefe da plataforma Mirada e do Selo Editorial que leva o mesmo nome. Dirigiu o documentário “Clarice Lispector – A descoberta do mundo” que estreou em dezembro passado na 16ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. Tem no prelo Coisa perdida, livro de poemas.

Nicole Allgranti – documentarista e roteirista é também sobrinha da escritora. Dirigiu e produziu 12 filmes e, entre eles, Retratos Brasileiros: Rubem Fonseca e Clarice Lispector.