Thereza Eugênia, a fotógrafa de estrelas


01/09/2021


Fotógrafa de artistas no Encontros extra

O Encontros da ABI com a Cultura acontece, hoje, de forma diferente, embora sempre ligado à Cultura. No centro das atenções está a fotógrafa baiana Thereza Eugênia que nas décadas de 1970 e 1980 fotografou os mais famosos cantores brasileiros em shows e na intimidade, tornando-se um ícone na área musical. Portanto, nada melhor do que ocupar o horário do Claquete Musical, programa do Paulinho Figueiredo, para falar e mostrar fotos de cantores.

Cerca de 100 fotos dessa época estão no livro Thereza Eugênia Portraits 1970-1980, recém lançado com apresentação do escritor  imortal Antônio Cícero que também está no livro, ao lado da irmã, a cantora Marina Lima. Há belíssimas fotos de Maria Bethânia, Rita Lee e Roberto Carvalho, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Chico Buarque, Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléa, Ângela Rorô, Zizi Possi, Simone, além de grupos em festas. E Thereza, que jamais deixou de fotografar mesmo enquanto trabalhou como enfermeira até 1990, será entrevistada hoje, às 19h30, pelas jornalistas Regina Zappa e Vera Perfeito e o cineasta Sílvio Tendler.

A fotógrafa

A história de Thereza Eugênia Paes da Silva, a Thereza Eugênia, também está contada no livro que levou seis anos para chegar às livrarias. Ela descobriu o gosto pela fotografia no laboratório escuro que a avó mantinha em casa, em Serrinhas, na Bahia. Herdou a paixão, mas formou-se enfermeira e levava as fotos como hobby. Só foi entender que o talento poderia se tornar profissão nos anos 1970, quando retratou sua irmã e se impressionou com o resultado. Já vivendo no Rio de Janeiro desde 1964, começou a fotografar artistas da MPB – que ela adora – em shows. “Minhas câmeras não eram profissionais, mas Bethânia e Maysa amaram o trabalho. Só que os agentes achavam que os cliques não eram comerciais. Tudo mudou quando fotografei Roberto Carlos”, conta ela.

Uma de suas fotos, feita com uma câmera emprestada, foi escolhida pelo próprio cantor para estampar a capa do disco que levava o nome dele, lançado em 1970. A partir daí, as portas se abriram definitivamente para Thereza. Ela se tornou figura tão importante da música popular brasileira quanto os cantores. Seus retratos tinham clima intimista, eram tirados na casa dos artistas, e, assim, ela acabou fazendo amizade com eles. “Os tempos eram outros. Conseguia acompanhá-los em momentos de lazer e até os levava para minha casa. Essa confiança aconteceu também porque nunca fiz registros comprometedores ou polêmicos”, explica a fotógrafa, hoje com 81 anos, mas continua fotografando paisagens quando faz suas caminhadas na praia de Copacabana, no Posto Seis.

Ao longo das décadas de 1970 e 1980, Thereza reuniu enorme acervo. Alguns retratos estão em seu Instagram (@therezaeugenia) e agora muitos dos registros desse período histórico da MPB estão reunidos no livro organizado pelo arquiteto Augusto Lins Soares.

Em 1970, foi convidada a fotografar Roberto Carlos no palco. Como não tinha o equipamento apropriado, pegou uma câmera emprestada do Canecão (onde o cantor se apresentaria). O gerente da casa ralhou: “Como vocês chamam uma garota que mal sabe pegar no equipamento?”. Mas Roberto gostou e escolheu uma das imagens para estampar seu disco de 1970, uma das capas preferidas que Thereza clicou.

“Sempre usei muita luz ambiente e de palco. Minhas fotos têm um certo senso de intimidade, entrava na casa dos artistas. Na memória dos meus fotografados, fiquei como uma pessoa que nunca fez imagens comprometedoras ou polêmicas deles”, diz. Amiga de Caetano, era a única com um câmera no aniversário de 40 anos do cantor. “São dois prazeres: ouvir e fotografar música.”

Hoje, ela clica muito pelas praias do Rio com um iPhone 6 e outro 7, que alimentam parte das fotos de seu perfil no Instagram. Thereza segue fotografando paisagens e artistas. “No ano passado, Marina me ligou para clicar o show dela No Osso. Alcione quis que eu fotografasse seu aniversário, Fafá de Belém me chamou para o Círio de Nazaré.”

Tereza fala de alguns amigos muito próximos como Guilherme Araújo.

– Guilherme (1936-2007) foi um grande empresário, trabalhou por 15 anos com Caetano e Gal. Tinha uma relação de amizade com os artistas. Adorava ser fotografado e eu era como se fosse sua selfie. Fiquei muito amiga dele, era como um irmão e me incluiu em seu testamento.  A máscara com o rosto de Gal foi uma invenção dele para o show Fantasia (1981). Mãe de Gal, Dona Mariah Costa ao ver a foto, disse: ‘A boca na máscara é semelhante a de Guilherme – conta.

Sobre Gal Costa no show Gal Tropical revela que em 1979, Guilherme quis dar uma virada na imagem dela, mostrando Gal elegante, vestida por Guilherme Guimarães. Ela entrava no palco descendo uma escada com todo esplendor, como se dissesse ao que veio. Este espetáculo foi ovacionado pela crítica e ficou um ano em cartaz. Estrelas de cinema como Liza Minnelli e Ursula Andress vinham para o Carnaval do Rio e assistiam ao show de Gal, iam ao camarim. Retrata muito bem uma fase muito importante na vida dela – relembra Thereza.

Sobre Caetano Veloso tem boas histórias e uma delas é de três apresentações no teatro João Caetano que ele fez quando ele chegou de Londres, em 1972. Só se falava disso, era o grande evento do Rio de Janeiro, mas houve um derrame de xerox de convites na praia e quando alguém entrou com o ingresso falso, Guilherme gritou: ‘Deixe entrar, o cara é amigo de Caetano’. Fui com Marina Lima e era a primeira vez que estava vendo o artista no palco, no seu primeiro show no Rio após o exílio. Ela diz: “Impressionada com seus movimentos ao cantar ‘O Que é Que a Baiana tem?’, fiz uma dupla exposição no mesmo negativo. Acho que foi o artista que mais fotografei.”

Revela que uma de suas grandes fotos foi de Wanderléa no espelho, “pois estava influenciada pela pintura pontilhista e tentei com um filme granulado um efeito parecido. Esta foi minha melhor foto neste estilo. Fui inspirada por uma capa de Miro (fotógrafo) da Rita Lee (o disco homônimo da cantora, de 1980), era uma experiência. Wanderléa é uma pessoa adorável, carinhosa.”

Thereza adora uma foto que fez de Maria Bethânia nadando na piscina de uma cobertura que morou. Mas acredita que sua melhor foto da cantora foi no palco durante o espetáculo Drama-Luz da Noite (início da década de 1970), a que assistiu várias vezes.

– Comecei a fazer fotos dela na sua casa. Até a década de 80, fotografei palco e plateia dos seus shows. E ela nunca criou nenhuma restrição ao meu trabalho – finaliza.