Al-Qaeda reivindica assassinato de jornalistas franceses no Mali


Por Cláudia Souza*

06/11/2013


Ghislaine Dupont e Claude Verlon (Foto: AFP/RFI)

Ghislaine Dupont e Claude Verlon (Foto: AFP/RFI)

O grupo terrorista Al-Qaeda, no Magreb Islâmico, (Aqmi) assumiu, nesta quarta-feira, dia 6, a autoria do assassinato dos jornalistas franceses Ghislaine Dupont e Claude Verlon, da Radio France Internationale (RFI), ocorrido no dia 2, em Kidal, na República do Mali. De acordo com Abdallah Mohamedi, da agência de notícias Sahara Medias, o comunicado da Al-Qaeda foi enviado por militantes leais a Abdelkrim al-Targui, um dos líderes rebeldes.

O grupo terrorista informou que a ação ocorreu “em resposta aos crimes cometidos pela França contra o povo do Mali, e ao trabalho das forças africanas e internacionais contra os muçulmanos”. O texto informa ainda que o duplo homicídio “constitui uma parte da fatura” que o presidente francês “deve pagar em contrapartida pela nova cruzada.”

Os jornalistas foram sequestrados após realizarem uma entrevista com Ambeiry Ag Rhissa, morador de Kidal e representante do grupo separatista local MNLA Tuareg.

Segundo a AFP, Ag Rhissa disse que escutou um barulho suspeito fora de casa e ao abrir a porta viu os sequestradores empurrando os jornalistas para dentro de uma caminhonete bege:

— Os criminosos usavam turbantes e falavam tamachek, a língua dos Tuareg. Eles me forçaram a entrar em casa e fizeram o motorista deitar-se no chão, afirmou Ag Rhissa.

O prefeito da cidade de Tinzawaten, baseada em Kidal, Paul-Marie Sidibe, também comentou o caso:

— Alguns minutos após a busca pelos sequestradores dos franceses, fomos informados de que os corpos dos jornalistas, crivados de balas, haviam sido localizados por uma patrulha francesa, a 12 km de Kidal.

Operação

O chanceler francês, Laurent Fabius, disse, nesta terça-feira, 5, que seu país vai cumprir o calendário para a retirada das tropas do Mali, apesar do assassinato dos jornalistas. Fabius já adiou por dois meses a retirada, mas pretende reduzir o número de soldados de 3.200 para 1.000 até o final de 2013.

França, Mali e a Minusma, força de paz da ONU no Mali, colocaram em andamento uma operação conjunta no país para evitar o ressurgimento dos movimentos terroristas.

Indignação

O presidente da França, François Hollande, manifestou “indignação” com a morte dos dois jornalistas, e afirmou que o caso não ficará “impune, sejam quais forem os autores”.

Ibrahim Boubacar Keïta, presidente do Mali, apresentou ao colega francês, François Hollande “as condolências do povo do Mali diante do assassinato dos jornalistas da RFI Ghislaine Dupont e Claude Verlon.

O Alto Conselho para a Unidade do Azawad (HCUA, notáveis tuaregues) condenou “com a máxima energia o assassinato dos dois jornalistas da RFI.

A diretora-geral da UNESCO, Irina Bokova, descreveu os assassinatos dos profissionais de imprensa como “um crime hediondo que é condenado por todo o mundo”. Bokova afirmou que os dois jornalistas franceses “pagaram o preço mais alto possível por fazerem o seu trabalho, por defenderem a liberdade de expressão e o direito das pessoas à informação; por contribuírem – com as suas reportagens – na luta do Mali contra a violência e o extremismo e no seu esforço de reconstrução”.

O Conselho de Segurança da ONU também prestou condolências aos familiares das vítimas e ao governo francês. No mesmo comunicado, o Conselho apelou ao governo do Mali para que “investigue rapidamente o crime” e relembrou a necessidade de todas as partes envolvidas no conflito de respeitar a lei humanitária internacional.

Determinação

Ghislaine Dupont tinha 57 anos e trabalhava na Rádio França Internacional (RFI) desde 1990. Ela iniciou a carreira na RFI apresentando jornais, mas logo depois começou a fazer reportagens como enviada especial, principalmente na África. Entrevistou os guerrilheiros da Unita, em Angola, descreveu o drama da população durante a guerra civil em Serra Leoa, e chegou a ser ameaçada de morte por um policial à paisana em um hotel de Ruanda, mas nunca se intimidou e continuou a trabalhar em vários países africanos.

Sua determinação em ouvir todas as partes envolvidas irritou o governo do Congo, que decidiu expulsá-la do país em 2006, antes do primeiro turno das eleições presidenciais no país.

— O maior talento de Ghislaine era a investigação. Ela era perseverante, não se cansava de aprofundar suas matérias e nunca se contentava com as declarações de apenas uma fonte, ressaltou o editor-chefe do serviço África da RFI, Laurent Chaffard.

Claude Verlon tinha 55 anos e trabalhava na RFI como técnico de som desde 1982. Era ele quem garantia a qualidade das reportagens e transmissões ao vivo durante as coberturas especiais em outros países. Ele acompanhou os jornalistas da RFI nos quatro cantos do mundo e essa era a segunda vez que fazia matérias com Ghislaine em Kidal. do Mali.

De acordo com Elcio Ramalho, da redação brasileira da RFI, Claude Verlon sabia dos riscos da missão, mas tinha determinação para o trabalho.

*Com agências internacionais.