Trump acusa CIA e FBI de vazar informações à mídia


15/02/2017


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Donald Trump

O presidente dos EUA, Donald Trump, acusou nesta quarta-feira os serviços de Inteligência de fornecer ilegalmente informações falsas à imprensa americana. As declarações no Twitter vêm após o “New York Times” ter relatado que a equipe de campanha do republicano conversou repetidamente por telefone com autoridades russas no ano anterior às eleições.

O jornal ouviu quatro fontes que trabalham ou já trabalharam no governo americano, que confirmaram as informações e aumentaram as dúvidas sobre a misteriosa relação do novo presidente e a Rússia.

“Informações estão sendo ilegalmente dadas aos fracassados New York Times e Washington Post pela comunidade da Inteligência (NSA e FBI?). Assim como pela Rússia”, escreveu Trump, em referência à Agência de Segurança Nacional e à polícia federal americana.

Poucos minutos antes, o presidente disse que os relatos são sem sentido e apenas uma tentativa de encobrir os múltiplos erros da campanha presidencial da sua ex-rival, a democrata Hillary Clinton. E, ainda, em seguida, Trump intensificou seus ataques contra a Rússia, numa aparente tentativa de afastar as suspeitas de que mantenha uma relação obscura com o Kremlin. O presidente citou novamente a polêmica sobre a Crimeia, anexada em 2014 pela Rússia, em tom crítico aos governos do presidente de Vladimir Putin e do seu antecessor, Barack Obama.

“A Crimeia foi TOMADA pela Rússia durante o governo Obama. Obama foi muito suave com a Rússia?”, escreveu.

Guerra contra a inteligência

Esta não é a primeira vez que Trump se coloca contra os serviços de Inteligência dos EUA. Recentemente, a CIA afirmou ter evidências de que os russos tivessem realizado ciberataques contra os democratas para influenciar as eleições americanas e favorecer o republicano. Em reação, Trump chamou o relatório do órgão de ridículo e negou que tivesse relações especiais com a Rússia.

As ligações telefônicas citadas nesta quarta-feira pelo “New York Times” teriam sido interceptadas por autoridades americana e agências de Inteligência. Segundo três das fontes anônimas ouvidas pela reportagem, o objetivo da investigação era descobrir se a campanha republicana do Trump participava dos esforços russos para hackear os democratas. Por enquanto, segundo as autoridades, não foram encontradas evidências de cooperação entre as duas partes.

No entanto, chamou a atenção da Inteligência os frequentes contatos entre a chapa republicana e os russos — sobretudo porque, enquanto isso, Trump repetidamente elogiava o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em sua campanha. Em um dos seus comícios, chegou a dizer que esperava que a Inteligência russa tivesse roubado os emails da sua então rival, Hillary Clinton, e os tornasse públicos.

Em reação, o Kremlin disse que os relatos da imprensa não são baseados em fatos concretos. Em uma conferência por telefone com jornalistas, destacou que as fontes ouvidas pelo jornal não foram identificadas, sugerindo que as informações deveriam ser colocadas em dúvida.

— Não acreditamos em informações anônimas — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. — É um relato de um jornal que não se baseia em fatos.

Momento sensível

A controvérsia vem num momento especialmente sensível na relação entre o novo governo que comanda a Casa Branca e a Rússia. Na terça-feira, o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, se demitiu por ter conversado ao telefone com um embaixador russo antes da posse do republicano. Eles teriam discutido o levantamento de sanções dos EUA à Rússia.

Pela lei americana, Flynn, como cidadão privado que ainda era antes da posse, não poderia ter tratado de diplomacia com outros países em nome dos EUA. Na carta de demissão, ele ainda admitiu que “transmitiu sem querer ao então vice-presidente eleito e a outros informações incompletas sobre suas conversas telefônicas” com o embaixador russo.
Segundo a Casa Branca, quem assume interinamente ao cargo será o general aposentado Joseph Kellogg. Ao lado de Flynn, ele aconselhou Trump em assuntos de segurança nacional e política exterior durante a campanha. E foi, inclusive, considerado para o cargo de Conselheiro de Segurança Nacional antes de Flynn ter sido oficialmente nomeado.

Até senadores republicanos pediram uma investigação sobre o caso, que complicou ainda mais o presidente, após o porta-voz da Casa Branca ter admitido que Trump sabia há algum tempo de que seu subordinado havia tido comunicações secretas com o governo de Putin. O episódio ainda expôs divisões importantes dentro do governo, com os principais assessores de Trump defendendo versões diferentes sobre o episódio.

De acordo com Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, Trump sabia há semanas que Flynn enganou o vice-presidente Mike Pence e outros funcionários do governo sobre o conteúdo de sua conversa com Sergey Kislyak, o embaixador russo nos Estados Unidos, durante a transição do governo. O advogado da Casa Branca, Don McGahn, havia informado a Trump num relatório de 26 de janeiro que Flynn, apesar de suas declarações em contrário, discutira as sanções dos EUA com o representante de Moscou, impostas por causa da anexação da Crimeia em 2014, e ampliadas após a espionagem russa nas eleições americanas de novembro.