Raoni, o direito dos povos indígenas e a questão ambiental


05/06/2022


Carlos Tautz*

Ropni Metyktire, que o Brasil conhece como Cacique Raoni, é uma das principais lideranças que este País produziu desde a segunda metade da década de 1980. Àquela altura, saímos da ditadura empresarial e militar de 1964, construindo frágeis pactos de convivência entre vencedores (os empresários e os militares) e os perdedores (todo o povo brasileiro) do golpe que derrubou João Goulart.

O principal desses pactos foi a Constitutição promulgada pelo Congreso Nacional em 5 de outubro de 1988. Com ela, tentávamos compreender o mundo em que a “questão ambiental” emergiu como novo paradigma articulador de uma hegemomônica cosmovisão global.

O kayapó Raoni percebeu, como poucos, aquele momento histórico. Manejou as oportunidades abertas pela emergência em nível global da “questão ambiental” e liderou uma geração de indígenas que incluiu na Carta Magna – uma ambiciosa tentativa de retomar e modernizar a conclusão de Brasil criminosamente interrompida no 1o de abril que derrubou Jango – direitos reivindicados por povos indígenas.

Aqueles pactos consolidados na Constitutição vêm sendo desfeitos por toda sorte de conjunturas políticas. A mais recente, abjeta e perigosa é protagonizada desde 2018 por este Jair Bolsonaro.

Tendo clara a ressonância global de sua voz, ele vem resistindo à clara estratégia de genocídio perpetrada por Bolsonaro e suas bases eleitorais.

Formal e/ou informalmente, essas bases são integradas pelo grande negócio agrícola, mineradoras ilegais e, até, pelo crime, como pode ser observado nas gangues de bandidos-garimpeiros que invadiriam terras Yanomami contíguas ao rio Palimiú (RR).

Por ter-se colocado publicamente contra este cenário, Raoni foi indicado em 2020 ao Prêmio Nobel da Paz.

A ABI escolheu entrevistar Raoni para marcar este 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Não foi possível fazê-lo a tempo. Raoni, além de ser uma pessoa idosa (tem incertos mais de 90 anos), que precisa de cuidados especiais com a saúde, vive no interior no Mato Grosso, na Terra Indígena Capoto-Jarina. Periodicamente passa por exames médicos – e, durante uma dessas passagens, gravou um depoimento histórico, em resposta às questões que lhe enviamos.

A entrevista que gravamos com o Cacique está sendo editada no momento em que você está lendo esse texto, e deve estar disponível aqui, com exclusividade no site da ABI, entre os dias 6 e 7 de junho. Para tanto, foi decisiva a ajuda do Instituto Raoni, criado e mantido por membros das comunidades Mẽbêngôkre/Kayapó em 2001, e sediado na cidade de Peixoto de Azevedo (MT).

*Jornalista e doutorando em História Contemporânea na Universidade Federal Fluminenses (UFF).

PS – Esse texto sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente marca a criação da Comissão de Meio Ambiente da ABI.

Ela é integrada pelos/as jornalistas Carlos André Osório Carneiro, Carlos Tautz, Dener Giovanini, Geraldo Cantarino, Inaê Amado, Lara Sfair, Maria Lucia Martins, Teresa Cristina Fazolo Freire e Zilda Cosme Ferreira.