Quanto mais movimentado, melhor


28/11/2007


José Reinaldo Marques
30/11/2007

“Fotojornalismo é sinônimo de ação; quando tem movimento, eu gosto.” A declaração é do paulistano Mauro Pedroso, que atualmente trabalha na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Diadema (SP). O fotógrafo pensava em ser jogador de futebol, mas abandonou o sonho na adolescência:
— Aos 15 anos, resolvi arranjar um emprego; queria ter dinheiro próprio. Então, fui levado por meu pai, fotojornalista hoje aposentado, para trabalhar como mensageiro do Departamento Fotográfico do jornal DCI Diário Comércio e Indústria.

O ambiente despertou seu interesse. Mauro passou a prestar atenção no trabalho dos fotógrafos do jornal e percebeu que a maioria tinha aprendido o ofício valendo-se da intuição e decorando tabelas de velocidade e abertura do obturador:
— Tecnicamente falando, eram bons profissionais. Apenas aprenderam a trabalhar olhando para o céu e intuindo o que usar para não perder a foto por causa da luz. Essa era a informação que eles reproduziam.

Para ele, isso era pouco:
— Comecei a buscar nos livros algo mais palpável. Amparado na pesquisa, carregava uma Pentax Spotmatic de um lado e um manual do outro, e ia tirando minhas dúvidas com os colegas. Quando comecei a clicar, foi como um passe de mágica! — exclama.

Chance perdida

Mauro não abandonou mais a câmera e logo começou a se imaginar como autor de fotos e furos sensacionais. No entanto, perdeu a primeira chance que se apresentou:
— Estava dentro de um ônibus quando um guarda de trânsito multou um taxista, que, indignado, revidou com três tiros à queima-roupa. Fiquei num tremendo conflito. Não sabia se sacava a câmera e fotografava ou me escondia como os outros passageiros. Até um PM que estava no ônibus hesitou em ajudar o colega baleado. Nunca tinha visto aquilo. No dia seguinte, os jornais publicaram o fato, mas sem fotos. Naquele momento, aprendi a diferença entre uma pessoa comum e um repórter-fotográfico.

Aos 17 anos, já era profissional. Até prestar concurso para a Prefeitura de Diadema, deu aulas no Senac-Jabaquara e trabalhou no setor de Documentação Científica do Hospital do Servidor Público, nos jornais Shopping News, City News e Jornal da Semana e na revista Íris Foto, onde estreou:
— Na época, já tinha conhecimento de iluminação para estúdio e cuidava dos editoriais de moda. Tudo isso com o aval do fotógrafo oficial, que me dava oportunidade de aprender. Outros, mais antigos, torciam o nariz.

Hoje, 27 anos depois, Mauro conseguiu montar um portfolio diversificado:
— Cheguei a pensar em fazer fotos de guerra, mas fiquei mais esperto e resolvi acompanhar esportes como o surfe, que tem tudo a ver comigo. Gostaria de fotografar para a National Geographic ou qualquer veículo que me permita o desafio de transformar tudo, até o que é feio, em belas imagens.

Criatividade

Depois que a banda em que tocava se desfez, “deixando um grande vazio”, há pouco mais de três anos, Mauro desenvolveu o gosto pelos ensaios:
— Uni o útil ao agradável e jogo toda a criatividade nos documentários, que são vários ensaios sobre o mesmo tema. Como ainda não dá para sobreviver de arte no País, faço “casamentos artísticos”, pesquiso o que acontece na Europa e nos Estados Unidos. As pessoas que me contratam conhecem meu trabalho e me dão liberdade para criar.

Foi com esse espírito que realizou o ensaio “Craques da bola”, em que traduziu sua paixão pelo futebol em imagens das peladas disputadas nas várzeas da Grande São Paulo:
— Eu jogava muita bola na infância e na adolescência. Comecei na escolinha de futebol do bairro e mais tarde joguei com o César Sampaio (ex-Palmeiras e seleção brasileira), que é meu amigo até hoje. Por conhecer bem o tema, quando migrei do sistema analógico para o digital decidi testar o equipamento nos campos próximos à minha casa. Foi meu primeiro e mais completo documentário. Resgatar as origens tem tudo a ver não só com a profissão, mas com a vida.

No momento, Mauro Pedrosa se prepara produzir, para pela Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, o livro “Ibira”, sobre o Parque do Ibirapuera, tendo como convidado o poeta José Geraldo:
— Foram três anos registrando imagens sempre aos domingos, quando o parque é mais freqüentado e se torna mais pulsante. Escolhi o local porque ali acontecem várias atividades, com pessoas de todas as partes e classes sociais. As imagens são alegres e interessantes, têm movimento, cor e emoção. Trata-se de um trabalho em que o documentarista e o poeta fazem uma declaração de amor à cidade. 


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