Presas políticas no Cineclube ABI Macunaíma


01/11/2021


 

Macunaíma exibe Torre das donzelas

O Cineclube Macunaíma exibe amanhã, a partir das 10h e até segunda-feira, Torre das Donzelas (2018) de Susana Lira. O filme colorido de 97 minutos mostra um grupo de mulheres que revisita sua história durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), quarenta anos depois de serem presas no presídio feminino Tiradentes, conhecido como Torre das donzelas, ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff. A diretora colheu os depoimentos há sete anos e acredita que hoje sejam um alerta fazendo um paralelo com o Brasil de hoje.

Entre as visitantes da prisão estão a conselheira da ABI Rose Nogueira e a advogada Rita Sapahi que também  estarão no debate sobre a obra, amanhã, às 19h30, junto com o cineasta Silvio Tendler, a produtora Célia Freitas e a ativista de Direitos Humanos Ana Miranda. O jornalista Ricardo Cota será o mediador. Assista o filme e o debate pelo canal da ABI do YouTube.

Filme

Rose Nogueira, Rita Sapahi e Ana Miranda são três das 31 presas políticas que passaram pelo presídio feminino Tiradentes, em São Paulo, conhecido como Torre das donzelas. Rose foi presa quando seu filho Carlos tinha apenas um mês e foi obrigada a tomar uma injeção para secar o leite enquanto as companheiras a ajudavam a fazer massagem para que continuasse a produzir o alimento materno.

Todas elas se ajudavam e sobreviveram às torturas embora não conseguissem dormir ouvindo os gritos das presas sendo torturadas e também das presas comuns que estupravam as “carnes novas” que chegavam depois de darem dinheiro aos carcereiros para que as colocassem em suas celas.

O filme começa com a visita que um pequeno grupo fez ao presídio quando algumas das presas políticas como Ieda Seixas se emociona ao ouvir a Internacional. Há também depoimentos da ex-presidente Dilma Rousseff . O fundo musical na voz de Gal Costa e Flávia Tygel com músicas conhecidas como Vapor barato (Wally Salomão e Macalé) e Suíte dos Pescadores (Caymmi) aumenta a emoção dos depoimentos das ex-presas. E uma delas ao fim da visita escreve no quadro negro o nome do presídio Tiradentes, acrescentando com humor: “Devo dar o nome certo do presídio porque aqui não havia nenhuma donzela”.

Diretora

“Torre das Donzelas” causou comoção ao ser exibido no Festival de Brasília, em 2018, porque apresenta relatos perturbadores sobre a tortura vivida diariamente dentro do local. Mas, numa reviravolta surpreendente, também explica como as prisioneiras transformaram o confinamento num espaço de resistência, sororidade e sobrevivência.

Documentarista especializada em contar histórias de mulheres vítimas de opressão e violência — são dela obras como “Mataram nossos filhos” (2016), “Damas do samba” (2015) e “Legítima defesa” (2017) —, Susanna optou por um recurso incomum para extrair as histórias no documentário.

Presas

Estiveram presas na Torre das donzelas que elas tentaram desenhar na visita: a ativista de Direitos Humanos Ana Miranda; a advogada Maria Aparecida Costa; a trabalhadora aposentada Rita Sapahi; a artista plástica Riocco Kayano; a jornalista Rose Nogueira; a educadora Elza Lobo; a produtora cultural Dulce Maia (in memorian); a fotógrafa Nair Benedicto; a economista Leslie Belloque; a médica Eva Teresa Skafura; Robeni Baptista da Costa; a mediadora de conflitos Guida Amaral; a historiadora e dentista Marlene Soccas; a pedagoga Maria Luiza Bolloque (in memorian); a professora universitária Nair Kobashi; a trabalhadora aposentada Ieda Akselrud Seixas; a ex-presidente Dilma Rousseff, economista; a trabalhadora aposentada Lenira Machado; a professora Ana Mércia; a trabalhadora aposentada Ieda Martins da Silva; a professora de História Iara Gloria Areias Prado; a médica Ana Maria Aratangy; a advogada Darcy Miyaki; a pedagoga Vilma Barban; Telma Pimenta; a indigenista Serlene Bendazzoli; a pedagoga Nadja Leite; Leane Ferreira de Almeida; a professora Maria Aparecida dos Santos; e a professora universitária Lucia Salvia Coelho.

Na primeira metade do filme, os relatos são desconcertantes.  Uma das entrevistadas diz que “parecia um campo de concentração”, ao descrever a prisão. Uma outra diz ter visto uma colega pesar 37 quilos. Cada uma desenhou a torre de um jeito. Ao final, os desenhos foram fundidos e pareciam a cenografia de Dogville (2003), de Lars von Trie.

Debatedores

Célia Freitas – é editora e realizadora e foi a montadora do filme Torre das donzelas e ainda de séries e longas documentais como Missão 115, Livre Pensar, Legítima Defesa, Condor(melhor documentário do FestRio 2007). Co-dirigiu o longa documental A Última gravação sobre o  ator Sergio Britto (2020), além de  curtas e a série documental Guardiãs da Floresta (2017).  Participou de exposições no Brasil e no exterior com videoinstalações de cinema e artes plásticas.

Rose NogueiraRosemeire Nogueira é jornalista, foi militante e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. Presa pela ditadura militar em 4 de novembro de 1969, mesmo dia da morte de Carlos Marighella. Na época, militava na Ação Libertadora Nacional (ALN) e trabalhava no jornal Folha da Tarde. No momento da prisão, Rose estava em seu apartamento com o marido, Luiz Roberto Clauset, e o filho Carlos Guilherme Clauset, que tinha apenas 33 dias de vida. O delegado Sérgio Fleury ameaçou entregar o bebê para o Juizado de Menores, mas Rose conseguiu convencê-lo a deixá-lo com os sogros. Levada ao Deops, Rose Nogueira foi torturada e transferida para o Presídio Tiradentes, às vésperas do Natal de 1969. Em 1972, foi julgada e absolvida. A jornalista retomou o trabalho e atuou na Editora Abril, TV Cultura, e Rede Globo, participando da criação do programa TV Mulher. Ao buscar nos arquivos do grupo Folha sua ficha funcional, em 1997, descobriu que havia sido demitida em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no Deops, por abandono de trabalho. Desde 2000, Rose Nogueira integra o Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo. Entre 2006 e 2009, presidiu o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP) e, em 2007, publicou o livro “Crimes de Maio”. Em 2011, recebeu o título de Cidadã Paulistana. Com a instalação da Comissão Nacional da Verdade, Rose Nogueira passou a contribuir para a investigação dos crimes da ditadura militar através da Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas. É conselheira da ABI.

Rita Sapahi – Ex-militante da Ação Popular (AP) e do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT). Atualmente é advogada de presos políticos e conselheira da Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça. Rita foi presa em 1971 e passou 11 meses no Presídio Tiradentes, onde conheceu seu marido, o também militante Alípio Freire. Lá, esteve presa na “torre das donzelas”, junto com Dilma Rousseff. Em março de 2014, em depoimento à Comissão Municipal da Verdade “Vladimir Herzog”, de São Paulo (SP), Rita falou sobre as torturas vividas durante sua prisão. Ela afirma ter sido torturada no DOI-Codi em maio de 1971, pelo delegado Dirceu Gravina, que tinha o apelido de JC, Jesus Cristo. Atualmente, Rita, em parceria com seu companheiro Alípio Freire, realiza o esforço de reunir obras artísticas de presos políticos. Juntos, possuem mais de 300 peças que pretendem expor de forma permanente.

Ana Miranda – a ativista de Direitos Humanos. A ex-presa política Ana Miranda, é integrante do coletivo RJ Memória, Verdade e Justiça. Foi presa com mais 300 estudantes, depois em Ibiúna, em São Paulo, no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) com mais 800 estudantes. A terceira vez ,em São Paulo, ficou de 1970 a 1974. Ela também passou pela Torre das donzelas.

Silvio Tendler – cineasta e documentarista com mais de 300 filmes em seu currículo.