PEN Clube do Brasil relança prêmio literário


30/08/2011


No ano em que comemora 75 anos de fundação, completados no dia 25 de abril, o PEN Clube do Brasil acaba de anunciar o lançamento da edição 2011 do seu Prêmio Literário que será oferecido nas categorias Poesia, Ensaio e Narrativa, incluindo também literatura infanto-juvenil. A cerimônia de abertura foi realizada na sede da entidade, na Praia do Flamengo, na última quarta-feira, 24 de agosto, durante o encontro mensal dos “Amigos do PEN” liderado pelo escritor Cláudio Aguiar, atual Presidente da Casa dos escritores brasileiros.
 
 
Os vencedores em cada categoria irão receber uma escultura em metal, denominada “PEN”, criada pelo artista plástico Cavani Rosas, uma quantia no valor de R$ 3 mil, além de certificado de participação. Na atual edição será permitida excepcionalmente a inscrição de livros mais recentes publicados entre janeiro de 2009 e 31 de dezembro de 2010. As editoras também poderão encaminhar obras de seus autores. As inscrições encontram-se abertas até o dia 30 de setembro.
 
 
Lançado pela primeira vez em 1938, dois anos após a fundação da agremiação, em 1936, o Prêmio Literário PEN Clube do Brasil em pouco tempo tornou-se um dos mais prestigiados certames literários do País. A sua revitalização foi recebida com muito entusiasmo pela categoria dos escritores: “É uma iniciativa muito boa que contribui com o diálogo do PEN Clube com a sociedade”, disse a cronista, ensaísta, poetisa e tradutora Luiza Lobo.
 
 
Cláudio Aguiar falou ao ABI Online sobre o significado dos encontros dos “Amigos do PEN” (realizados desde 1937 na última quarta-feira de cada mês) e da importância do Prêmio Literário. Ele disse que as reuniões dos autores serão aproveitadas para o anúncio de novidades do interesse do quadro social:
— Nessas reuniões sempre procuramos trazer uma novidade. Na vez anterior anunciamos a chegada à Casa de uma escritora importante, que foi a Clarice Lispector, que passou a integrar para sempre a lista dos “Amigos do PEN” (risos) representada por uma escultura em bronze da extraordinária artista plástica Dirce Cavalcanti Matos, que também é escritora, disse Aguiar.
 
 
 
Importância
 
 
Segundo Aguiar, apesar da sua importância e tradição, o Prêmio Literário estava adormecido há quase uma década. Somente agora foram criadas condições para que ele fosse retomado, em uma nova versão, fazendo referência inclusive ao elenco de premiados nas edições anteriores.
 
 
Com entusiasmo, Aguiar diz que a lista de escritores que conquistaram o Prêmio Literário PEN Clube do Brasil reúne um elenco extraordinário, “uma grande seleção da literatura brasileira”, segundo ele, que inclui nomes consagrados e muitas revelações. Ele lembra que no passado o prêmio não era um concurso para iniciantes, apenas os escritores mais conhecidos podiam participar.
 
 
Alguns desses autores foram lembrados pela jornalista e escritora Cecília Costa, Vice-presidente do PEN Clube, entre eles Guimarães Rosa e Brito Broca. Outros escritores renomados também foram contemplados com o prêmio, como Antonio Callado, Dinah Silveira de Queiroz, Josué Montello, Lygia Fagundes Telles e Barbosa Lima Sobrinho, ex-Presidente da ABI.
 
 
Barbosa Lima Sobrinho foi o segundo Presidente do PEN Clube do Brasil. Foi ele quem sucedeu o fundador e grande benemérito Cláudio de Souza, que morreu em 1954. Outras personalidades do mundo literário ligadas à ABI também fizeram parte do quadro de associados do PEN Club do Brasil, como Elmano Cruz e Celso Kelly, este último muito elogiado por Aguiar:
— O Celso Kelly foi um dos maiores presidentes dessa Casa como realizador. Foi muito atuante. Ele herdou do Cláudio de Souza um ambiente muito bem organizado e deu seqüência às atividades culturais, promoveu a publicação de boletins e a realização de um curso internacional, com o apoio do então Vereador Raimundo Magalhães Júnior, disse Aguiar.
 
 
Celso Kelly presidiu o PEN Clube do Brasil quando a sede da entidade ficava na Rua Nilo Peçanha, no Centro do Rio. Um conjunto de sete salas de com cerca de 200 metros quadrados, além de um teatro, com150 lugares, que mantinha uma agenda recheada de bons programas. O espaço tinha sido residência do fundador Cláudio de Souza e funcionou de 1954 ate 1971, quando então a associação foi transferida para o endereço da Praia do Flamengo.
 
 
 
Memória
 
 
 
Aguiar disse que no momento não está sendo cogitada a possibilidade de retomada do imóvel da Nilo Peçanha. Ele diz que os tempos mudaram e que deseja avaliar com mais cuidado suas decisões nesse sentido, pois verificou que durante muito tempo os espaços da associação foram utilizados com finalidades que não se afinavam com a proposta original idealizada pelo fundador.
 
 
Em 1945, quando Cláudio de Souza fez a doação do prédio do Centro foi um gesto para ajudar a instituição a garantir a sua sustentabilidade:
— Da mesma forma aconteceu com o imóvel da Praia do Flamengo. Mas, na realidade, os espaços vinham sendo subutilizados, servindo apenas para as reuniões, com o PEN Clube contraindo dívidas porque não soube explorar o patrimônio como receita, disse Aguiar. 
 
 
É essa mentalidade que o atual presidente do PEN Clube deseja mudar. Ele diz que a associação hoje não pode ser dar ao luxo de se perpetuar “como uma entidade pobre bancando uma riqueza que não tem condições de sustentar”. Cita organizações como a Academia Brasileira de Letras (ABL) e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) que utilizam seus espaços para gerar receita.
 
 
De acordo com Cecília Costa uma das marcas da atual administração do PEN Clube do Brasil é a luta para resgatar a imagem da Casa do escritor:
— Começamos com a recuperação da memória a partir da inauguração este ano da nossa galeria, em homenagem aos antigos presidentes. E continuamos com a idéia de que, assim como o fazem a ABL e a ABI, o nosso papel é defender o escritor, a liberdade de expressão e os direitos humanos, princípios que nos acompanham desde a fundação do PEN Clube Internacional, em 1921, e nosso PEN Clube, em 1936, declarou a Vice-presidente.
 
 
Tanto o presidente quanto a vice fazem questão de afirmar que a preservação da memória do PEN Clube do Brasil é uma das principais metas da atual diretoria:
— Uma das nossas preocupações é restaurar a memória da nossa instituição, pois uma entidade que se mantém viva aos 75 anos demonstra longevidade, embora com os problemas de saúde normais da idade (risos) está sobrevivendo por meio de uma nova dinâmica em dois pontos fundamentais: nas questões culturais e administrativas. Esses são os dois pilares da nossa gestão, um não pode existir sem o outro, pois corremos o risco de comprometer o nosso patrimônio, que é invejável, afirmou Aguiar.
 
 
 
Associados
 
 
Outra medida é o investimento no quadro social. Segundo Aguiar, o PEN Clube do Brasil tem um histórico muito curioso no que se refere aos sócios. Nos anos 60, no período em que Celso Kelly era o dirigente, a associação contava com mais de 500 escritores associados.
 
 
Há dez anos quando Aguiar chegou ao PEN Clube havia um mito de que este era uma entidade de culto às personalidades:
— Mas a nossa finalidade é outra, não é uma Academia, nem um sindicato de escritor. Somos uma associação de escritores integrada a uma rede. As nossas questões, a nossa bandeira e palavras de ordem obedecem a um contexto internacional, declarou.
 
 
Com um quadro social atualmente com 250 associados, o principal objetivo do PEN Clube do Brasil, de acordo com o seu presidente, é quebrar o estigma de uma agremiação que não consegue atrair novos autores para engrossar o quadro social. Ele confessa que o estatuto da Casa é engessado e acaba criando barreiras que dificultam o acesso de novos sócios. Uma situação que difere totalmente do que acontece em outros países.
 
 
Nesse contexto Aguiar cita como exemplo a Sérvia, ex-Iugoslávia, onde vai ser realizado o Congresso internacional da categoria, que tem uma população com cerca de 4 milhões de habitantes e a associação local contabiliza 1 mil sócios.
 
 
Para tentar atrair mais escritores, Aguiar disse que está sendo idealizada uma campanha que possa servir inclusive para que, internamente, o grupo possa entender que os tempos estão mudados e que a associação precisa “tomar as decisões adequadas, para defender as suas finalidades como uma associação de classe dos escritores”.
 
 
Segundo Aguiar, o “engessamento” que envolve o PEN Clube do Brasil poderá desaparecer na medida em que seja divulgado e mostrado à categoria que uma associação de escritores tem finalidades específicas. Ou seja, quanto mais a classe estiver sintonizada e consciente de que os problemas que afetam os escritores são mundiais, não se restringem aos autores brasileiros, além de estarem acima de qualquer viés político, ideológico ou partidário:
– Respeitamos todas as correntes, tanto é assim que o PEN Clube Internacional mantém essa linha de ação em países islâmicos e em outros de regimes fechados como Cuba. Há escritores cubanos ligados à rede oficial, dentro da ilha, e outros filiados na sede em Miami, afirmou Aguiar.
 
 
Segundo Aguiar, o PEN Clube funciona como um guarda-chuva que abriga todas as correntes, sem que isso signifique algum tipo de acordo com os princípios mais radicais em detrimento de outros. “Todos os grupos têm o direito à liberdade de expressão, um tema muito discutível, mas que para a nossa entidade é encarado como um princípio fundamental”, afirmou Aguiar.
 
 
Cecília Costa compara o caminho trilhado pelo PEN Clube com a trajetória de outras entidades como a ABI e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro sempre atuando em defesa dos direitos e humanos e “da palavra livre”. Ela cita como exemplo o comportamento do PEN Internacional que mantém uma política de acompanhamento e auxílio a escritores que estão presos.
 
 
A escritora lembrou também que o PEN Clube desempenhou um papel importante na Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial:
– O Ionesco era membro do PEN Clube na Romênia e participou como integrante da entidade da Resistência na França, na Segunda Guerra Mundial. Ele esteve no Brasil, em 1973, durante a ditadura militar (1964-1985) e fez questão de visitar a sede da associação no Rio. Ele tinha sido convidado pela Academia Brasileira de Letras, mas quis nos fazer uma visita para tomar conhecimento das nossas propostas, e fortalecer o intercâmbio com a entidade internacional. O então General Lyra Tavares ficou inquieto querendo saber por que o Ionesco fez questão de vir ao PEN Clube brasileiro, disse a Vice-presidente.
 
 
 
Reconhecimento
 
 
O Brasil ainda está dando os primeiros passos para que o ofício de escritor seja considerado como uma atividade profissional, diz Aguiar.  Ele recorda que o fundador do PEN Clube do Brasil, antes da instalação do Estado Novo, em 1937, já tinha essa preocupação e preparou um anteprojeto para a criação de uma espécie de instituto de aposentadoria do escritor:
— Com a chegada do Estado Novo o projeto não pode ir adiante. O Cláudio de Souza tinha um apoio muito grande dentro do Congresso, mas este acabou sendo desmantelado pela ditadura do Getúlio. Eu encontrei boletins da nossa associação em que ele lamenta que isso tenha ocorrido. O Cláudio queria ter criado também uma rádio para divulgar as idéias do PEN, contou Aguiar.
 
 
Aguiar lamenta que as idéias de Cláudio de Souza não tenham ido adiante, e diz que a profissão de escritor no Brasil “está fragilizada”:
— Nos últimos anos tem havido um movimento no Congresso de reformular a lei de direito autoral, mas os escritores por falta de uma liderança que pudesse representá-los foram derrotados em relação aos seus direitos relativos ao chamado contrato editorial, que eu classifico como leonino. É feito com letra miúda, com imposições dos editores e nos obriga a aceitá-lo sem poder discutir as cláusulas. Muitas vezes fazendo concessões como a cessão de direitos para a terceira geração de empresários do setor editorial, reclama Aguiar.
 
 
Essas questões poderiam ser discutidas por meio de uma campanha para regulamentar a profissão de escritor, diz Aguiar, afirmando que o PEN Clube poderia ocupar um espaço nessa direção, assumindo uma parcela de responsabilidade nessa questão tornando-se porta-voz dos escritores, defendendo os seus direitos com base nas experiências bem-sucedidas realizadas em outros países.
 
 
Cláudio Aguiar espera que ainda na sua gestão possa contar com o apoio da categoria dos escritores para implementar todas essas medidas, que, segundo ele, inclusive estariam em sintonia com as propostas da Unesco, uma vez que o PEN Clube a nível internacional defende o direito à cultura e à liberdade de expressão.
 
 
Festa
 
 
A entrega dos prêmios aos vencedores de cada categoria será realizada no dia 12 de dezembro de 2011, no Terraço do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, durante a tradicional festa de confraternização de fim de ano do PEN Clube do Brasil.
 
 
O regulamento e a ficha de inscrição poderão ser acessados no portal do PEN Clube http://www.penclubedobrasil.org.br, solicitados por e-mail ou diretamente na sede social, na Praia do Flamengo, 172 – 11º andar. O telefone para contato é (21) 2556-0461.