Observação criteriosa para não perder uma boa foto


09/10/2007


Marcia Martins 
11/10/2007

A vontade de seguir uma profissão nem sempre é aliada a boas condições financeiras para o acesso à carreira. Mas a determinação pode ser um fator preponderante para o ingresso na profissão. E foram exatamente a força de vontade e a paixão pela fotografia que levaram Ricardo Costa a conseguir um espaço no tão concorrido mercado de trabalho.

Aos 16 anos, com o dinheiro que ganhava trabalhando na rede de lanchonetes Bob’s, Ricardo se matriculou com em curso de Fotografia e, ao assistir uma palestra de Alcyr Cavalcanti, se encantou com o fotojornalismo. Aos 17, com a ajuda do amigo Estefan Radovicz, conseguiu um emprego no Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Rio de Janeiro:
— Este foi o meu primeiro emprego na área, que acabou me ajudando a tirar o registro profissional e investir em equipamentos. Depois, consegui vários frilas e continuo fazendo o mesmo hoje, para o Extra, para a Câmara de Comércio Americana, para uma agência de comunicação de Belo Horizonte, entre outros lugares.

Como repórter-fotográfico, Ricardo conheceu ambientes de luxo e de pobreza no mesmo dia. Um contato marcante com a desigualdade social aconteceu quando fazia uma matéria para o jornal Educar, da Associação Beneficente dos Professores Públicos Ativos e Inativos do Rio de Janeiro, e foi a duas escolas: uma de alto poder aquisitivo no Recreio, Zona Oeste do Rio, outra em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Viu o desperdício de alimentos e a falta dele. E ambientes distintos, que deveriam ser mostrados em uma única pauta:
— Neste dia, a câmera pesou em minhas mãos e o espírito humano falou mais alto — recorda.

Momentos de aperto também já aconteceram nos 11 anos de carreira, como em uma reportagem na Cinelândia, no Centro do Rio, quando quase teve o equipamento roubado por um morador de rua. E viveu situações embaraçosas, como quando foi parar na delegacia como testemunha de uma agressão, num trabalho para o Sindicato dos Bancários. A pauta era uma greve geral da categoria, que fechou todas as agências bancárias da Avenida Rio Branco, no Centro do Rio. De repente, aconteceu um tumulto e Ricardo viu um homem agredindo outro bem mais robusto. O fotógrafo fez uma seqüência de imagens da briga, pensando ter registrado o Diretor do Sindicato apanhando. Na verdade, era o Diretor que estava batendo num cliente do banco.
— O pior foi que eu disse para o homem agredido que tinha feito as imagens. Fomos parar todos na delegacia. Para não perder o emprego, tive que entregar um outro filme, que estava na máquina.

Digital

Ricardo utiliza máquinas digitais para trabalhar. Para ele, é necessário que o profissional se adapte à nova tendência do mercado:
— A tecnologia está aí para ser usada. Quem está entrando agora no mercado tem que saber manejar bem a digital. Mas também é importante que o novato conheça o modelo analógico — acredita o fotógrafo..

No entanto, Ricardo destaca que nem tudo é uma maravilha no mercado digital. A nova tecnologia também tem o seu revés, acredita. Especialmente o de levar muitas empresas a não contratar profissionais, achando que qualquer pessoa pode fotografar:
— O que me espanta hoje é que muitos estão comprando “maquininhas” digitais e dispensando o fotógrafo. Como nem sempre isso dá certo, às vezes eles são obrigados a chamar profissionais para resolver o problema.

Ricardo, que só participou de uma exposição sobre moda em uma boate na Zona Sul do Rio, acredita que para fazer uma boa foto é necessário que o repórter-fotográfico pense apenas na imagem que o cerca:
— Tudo pode dar uma boa foto depois de uma observação criteriosa. A arte está no olhar do fotógrafo — conclui.


                                     Clique nas imagens para ampliá-las:

 

/TD>