O “Cristo Folia” e o Arcebispo


03/02/2011


 
Há poucos dias li em “O Globo” uma nota carnavalesca, sob título “Cristo Folia”, seguida por outra que a confirmava, referindo-se esta última à seqüência de motivações quais se inferia a primeira, intitulada “Aliás, e a propósito”.
 
Em se tratando de problemas contundentes no que tange aos aspectos que poderiam definir apenas a critica, ou não, da mídia, ao ressaltar, contudo, a imagem de padres cantores sobre trios-elétricos no trajeto do “Cristo Folia”, diz ainda a matéria publicada que o assunto ainda se acha na dependência  de  definição pela Arquidiocese.
 
Quanto ao convite enviado pelo Prefeito Eduardo Paes ao Reverendíssimo Arcebispo do Rio Dom Orani Tempesta, rogando-lhe abençoar  a Marquês de Sapucaí, rua  essa que recentemente recebeu uma lavagem simbólica  das baianas de várias escolas de samba  do Rio, diz a nota de “O Globo”, se me recordo,  de 28 do corrente, todavia, que o eminente Arcebispo Dom Orani ainda não havia aceito o convite.
 
Queremos crer que o assunto, em toda a sua extensão, venha a merecer senão repulsa, alguma ponderação, haja vista  que a denominação de “Cristo Folia “ a um bloco carnavalesco fere princípios não só religiosos como éticos, acrescendo-se ainda que, segundo a nota, tais folguedos serão animados com “músicas católicas em ritmo de axé”.
 
Quanto ao alto significado da bênção, acharíamos, por todos os seus ângulos, mais apropriado, no momento em que acabamos de atravessar a tragédia que envolveu as nossas cidades serranas, com muitos dos nossos irmãos ainda insepultos ou famílias enlutadas, que os senhores nobres dirigentes do Estado se preocupassem em pedir  a ajuda do Altíssimo  a fim de sanar as dificuldades por que passam as populações atingidas, mas essas questões fundamentais de como proceder podem estar ligadas a conotações estratégicas. Lembremos que Churchill e Roosevelt  nunca gostaram de Stálin nem do comunismo, mas no combate contra  Hitler tiveram  que aceitar a participação soviética.
 
Lavagens de igrejas e templos são sinais de devoção e respeito, mas abençoar uma rua por onde passará um trio-elétrico com o nome de “Cristo Folia”, a qual, durante os festejos, será conspurcada sem que se leve em consideração o nome aventado e o seu sentido espiritual, não faz sentido, nem tem fundamento ligado a religião.
                                                                                             
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Assim sendo, aguardamos o pronunciamento de Sua Eminência Arcebispo Orani Tempesta, fazendo votos de que o mesmo, fundamentado  evidentemente em razões  de ordem sacra, não  só  deixe de aceitar o indigitado convite como, aproveitando a oportunidade,  faça uma prédica  em torno do assunto, a fim de colocar em seu devido lugar a ação da Igreja que representa.
 
Lembremos, caros leitores, que devemos aproveitar oportunidades a fim de refazermos nossas crenças, porém sem admitirmos que estas estejam calcadas no inútil ou no supérfluo, atraindo, em princípio, hipóteses que possam transfigurar evidências.
 
A par dessa proposta desairosa a que nos referimos acima, cogita-se no Carnaval em distribuir aos foliões (O Globo) uma espécie de bolsa com grânulos congelados, para que possam urinar, presente esse que se destinaria quer aos homens quanto às mulheres, caso estas estivessem de saias! Acredita-se que as que não estiverem assim vestidas poderão vir a dar um espetáculo assás obsceno!
 
E por aí vamos meus, caros leitores, aceitando tudo da melhor forma, benevolentemente, durante os dias de Momo, figurante Rei do Carnaval.
 
Para finalizar, apresso-me a desculpar-me perante os leitores pelo fato de ter me desviado dos assuntos sérios que normalmente me impelem a escrever, mas prometo voltar a questionar quanto ao trajeto das nossas lides políticas e sociais, no aguardo de fatos novos que venham a representar a seriedade dos nossos compromissos com a Nação ou o malogro das nossas esperanças.
 
*Bernardino Capell Ferreira, sócio da ABI, é jornalista e economista.
 
 
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