Nosso Adeus a Atenéia Feijó


09/05/2023


Morreu na madrugada desta sexta-feira (5), a jornalista Ateneia Feijó, pelas complicações de uma doença neurodegenerativa conhecida como doença de Creutzfeldt-Jakob. Iogurte, coalhada e sorvete eram os únicos alimentos que ela estava aceitando. Ontem ela fez fisioterapia, ficou um tempo com seu filho, “jantou” e depois dormiu. De madrugada, a cuidadora percebeu que ela tinha partido. Ateneia esperou a madrugada do Dia Mundial da Língua Portuguesa e se foi. Em paz.

Ateneia Feijó trabalhou nos principais jornais e revistas do país – entre eles a extinta Manchete, o Jornal do Brasil e o Correio Braziliense.

O velório da querida Ateneia, que cumpriu muito bem seu papel aqui entre nós, será nesse sábado, dia 6 de maio, a partir das 10h00 na Capela A do Cemitério São Francisco Xavier, no Caju. O corpo irá para o jazigo da família às 13h00.

Amigos de Ateneia se despediram dela com carinho:

“Perdi a mais querida e a mais antiga das minhas amigas – Ateneia Feijó, que conheci em 1969 quando éramos repórteres da revista Manchete, ela no Rio, eu no Recife. Ela me ensinou muitas coisas, entre elas, o amor pela reportagem. Estou desolado”, escreveu Ricardo Noblat.

“Ateneia já estava na Manchete quando cheguei, foca total, com 18 anos, em 1967, na Fatos&Fotos, ainda na Frei Caneca. Como aprendi a ser jornalista com os colegas mais velhos e experientes, ela entrou como um dos primeiros da lista de mestre que tive na profissão, embora só um pouquinho mais velha que eu. Sentimentos aos amigos e família”, registrou José Paulo Kupfer, conselheiro fiscal da ABI.

Com larga passagem na imprensa, incluindo o JORNAL DO BRASIL, “O Estado de S. Paulo”, “O Dia” e “Manchete”, Ateneia era uma jornalista que tinha prazer em escrever

Por Gilberto Menezes Cortes, em JB

A jornalista e escritora Atenéia Feijó, que nos deixou na madrugada de sexta-feira, 5 de maio, após longa batalha contra a doença conhecida pelo nome de Creutzfeldt-Jakob, foi dos primeiros jornalistas brasileiros a fazer ampla reportagem, na então revista Manchete, sobre o povo yanomami. Em julho de 1976, ela publicou 12 páginas, fartamente ilustrada com fotos de José Moure, numa reportagem que antecipava o genocídio praticado no governo Bolsonaro contra os índios yanomamis.

Com o criativo título “Roraima: Viagem à terra de Macunaíma”, relatando o que viu na Terra Indígena Yanomami, a cobertura mostrou a cobiça desmedida de garimpeiros vindos dos mais diversos cantos do Brasil e que punham em perigo povos cujo contato com humanos era recente. Na época, o objeto da cobiça não era o ouro, mas o urânio e a cassiterita, matéria-prima para a fabricação do estanho que voltou à baila.

Vale recordar que a demarcação das terras da Reserva Indígena Raposa do Sul, identificada pela Funai em 1993, só ocorreu em 2005 no governo Fernando Henrique Cardoso e que a reserva só foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal em 2009. Mas no governo Bolsonaro o direito de posse dos índios voltou a ser contestado.

Com larga passagem na imprensa, incluindo o JORNAL DO BRASIL, “O Estado de S. Paulo”, “O Dia” e “Manchete”, Ateneia era uma jornalista que tinha prazer em escrever. Daí, o salto para a literatura foi um pulo. O contato com os índios da Amazônia motivou um dos seus primeiros livros: “O índio Aviador”, publicado em 1994, em parceria com Marcos Terena, da etnia Xané, de Mato Grosso, que se tornou um dos mais respeitados líderes indígenas do país.

A partir daí, não parou mais, em produção variada. A Ecologia, outra de suas paixões, foi tema de livros voltados para o público infanto-juvenil “A Múmia Verde” e “A Criatura da Mina”. O choque da experiência em Roraima levou Ateneia a escrever um romance policial, “O Jantar da Lagartixa”, que envolve a misteriosa morte de um jornalista que andou investigando coisas em Roraima.

Ela também escreveu, em parceria com Engels Maciel uma espécie de compêndio sobre a cachaça “Cachaça Artesanal. Do Alambique à Mesa”. Na área de gastronomia e culinária, escreveu ainda “Bolos. Preparo e Confeitos”, com parceria de Rosaly Bonfante, que ganhou edições em Portugal. Seu filho, Mário, observou que a mãe se despediu na “madrugada do Dia Mundial da Língua Portuguesa”.