Hoje é Dia de Livro


13/09/2022


Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI

Não foi em vão

História real de Joana, moça pobre e preta, moradora da região periférica do Rio de Janeiro. Em 2017, ela prendeu o pé na porta do vagão quando entrava no trem e foi arrastada por mais de 20 metros. Não resistiu. Joana Bonifácio tinha 20 anos e voltava da aula do curso de Biologia da Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO), localizada em outro subúrbio carioca a 44 quilômetros de sua casa. A concessionária Supervia disse se tratar de suicídio, mas a prima Rafaela Albergaria, a primeira universitária da família e Mestre em Serviço Social pela Escola de Serviço Social da UFRJ, recusou a explicação e deu início à pesquisa sobre Segurança e Mortes nos Trens e a Segregação Socioespacial do Rio de Janeiro. Descobriu que Joana não era um caso isolado e, sim, mais uma vítima da política discricionária de mobilidade urbana. Entre 2008 a 2018, na Região Metropolitana, aconteceram 368 homicídios culposos por atropelamento ferroviário nos ramais e estações de trem de passageiros do Rio de Janeiro. Eram as vítimas da realidade isolada de direitos e privilégios devido à cor, classe social e acesso às oportunidades. “Se é recorrente, não é acidente”, alertou Rafaela. A causa foi ganha. O livro digital gratuito pode ser baixado nos sites https://br.boell.org/sites/default/files/2020-03/Nao_foi_em_vao.pdf e https://naofoiemvao.casafluminense.org.br/

As duas mortes de Francisca Júlia: a semana antes da semana

Resgate da poetisa paulista, figura central do parnasianismo e do simbolismo brasileiro, feita pelo sociólogo e professor emérito da USP, José de Souza Martins. Francisca Julia da Silva tirou a vida aos 49 anos, em 1920, logo após a morte do marido vítima de tuberculose. Desfecho romântico para quem se notabilizou pela poética formal, objetiva e descritiva. A respeito da segunda morte de Francisca, o autor aponta como decorrência a mudança de paradigma estético trazido pelo modernismo que tomou forma na Semana de Arte de 1922 e varreu do cenário outras formas artísticas e intelectuais. Editora Unesp.

Quer que desenhe?

Uma questão inspira o livro: por que as pessoas estão lendo textos, especialmente na internet, e muitas vezes não conseguem compreender o que está escrito ou até interpretam o exato oposto do que foi dito? A hipótese que se segue é de que todas as produções midiáticas da contemporaneidade, incluindo os textos escritos, estão sendo lidas como se fossem imagens. Segundo o autor, Vinícius Souza, “no pensamento mágico-imagético-circular, os preconceitos e emoções mais básicas, como ódio, desejo e medo, valem mais do que o raciocínio de causas e consequências, e isso é um campo fértil para as fake news e o fascismo. Mas sempre podemos imaginar e esperançar saídas”. Editora Casa Flutuante.

 Sobre perdas e danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil

Coletânea de artigos produzidos entre 2019 e meados deste 2022 pelo jornalista Cesar Calejon, sobre a destruição que o bolsonarismo vem empreendendo no país por meio de políticas econômicas e sociais. O objetivo da reunião dos textos publicados em diferentes órgãos de comunicação, como GGN, Le Monde Diplomatique, UOL, Carta Capital e Focus, foi concentrar a informação em um único suporte para facilitar a consulta sobre as perdas e os danos causados no emprego, nos preços dos alimentos e dos combustíveis, no descaso com a saúde coletiva em tempo de pandemia que já resultou na morte de milhares de brasileiros, e alertar para que essa barbárie possa ser contida, ainda mais neste oportuno ano de eleição. Editora Kotter.

Adeus, Senhor Portugal – Crise do absolutismo e a independência do Brasil

Exame crítico das abordagens sobre a independência brasileira neste ano de bicentenário, a parceria entre o jornalista Rafael Cariello e o economista Thales Zamberlan Pereira, professor da Escola de Economia de São Paulo, resultou na interpretação do processo emancipatório brasileiro relacionando as tensões políticas e sociais com a questão fiscal e a crise econômica, trazendo como um dos exemplos o aumento do preço da farinha que teria contribuído para deflagrar a revolução de 1817, em Pernambuco. O livro evidencia o duplo movimento do impacto de impostos e inflação crescentes, que pioram a vida da população e motivam a ação social necessária para o fim do absolutismo, e a crise orçamentária causadora de tais problemas econômicos que já seria reflexo do desgaste das instituições do Antigo Regime, incapaz de zelar pelo equilíbrio do tesouro. Editora Companhia das Letras.

Escravidão e trabalho forçado: das abolições e século XIX às abolições contemporâneas

O trabalho compulsório não é efeito colateral, mas fator necessário e constitutivo do capitalismo para o desenvolvimento do próprio sistema, é o que afirma esta obra de   Norberto Ferreras. O historiador investiga a relação de dependência das sociedades capitalistas com o trabalho forçado no período que vai do início do século XIX e segue ao longo do XX, caracteriza essa categoria trabalhista não apenas como um crime, mas também como forma de organizar a força produtiva, e mostra como se deram as abolições do trabalho compulsório, tanto o legal quanto o ilegal, em diferentes países do mundo. Discute, ainda, como o tema abolicionista foi tratado nos organismos internacionais no século XX e como foi incorporado pelos movimentos de descolonização nas lutas independentistas e emancipatórias. Editora Mauad X.                                                      

Menino Movimento

Literatura para criança recomendável para adultos, o livro conta de modo lúdico a infância de Anísio Teixeira, professor baiano considerado um dos responsáveis pelo projeto educacional baseado na ideia do ensino público, gratuito e de qualidade para todas e todos os brasileiros. Nascido em Caetité, sertão da Bahia, Anísio foi um educador em eterno movimento. Inteligente e curioso como um menino numa escola-parque, percorreu o Brasil desenhando e desbravando caminhos por onde ciência e arte se encontram.  Sandra Santos e Denise Calasans, professoras do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, ISERJ, assinam a obra que expressa a valorização da educação nos espaços escolares e não-escolares e o direito da criança ao aprendizado na sua formação cotidiana. Anísio Teixeira participou e é um dos formuladores da criação da Universidade de Brasília. Chiado Editora Kids.

Doação

Segue a campanha ‘Vire a página’ de doação de livros para as unidades prisionais do Rio de Janeiro. A campanha é promovida pela Universidade Candido Mendes com o objetivo de colaborar com o programa de ressocialização dos presos. Os livros podem ser entregues na biblioteca da unidade Ipanema da própria universidade, que fica na rua Joana Angélica 63. De segunda a sexta, das 10h às 19h, com Daniel, Franciele ou Marcelo.