09/12/2016
Morreu, no último domingo (4/12), aos 86 anos, o poeta, ensaísta, crítico de arte, tradutor e jornalista Ferreira Gullar, era sócio da Associação Brasileira de Imprensa há 33 anos e membro do Conselho Consultivo. Ele estava internado no hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, há cerca de 20 dias devido a insuficiência respiratória. De acordo com a Folha de S.Paulo, jornal em que Gullar mantinha uma coluna, a amiga e editora do poeta, Maria Amélia Mello, informou que ele morreu de pneumonia.
O corpo do escritor foi levado num cortejo público da Biblioteca Nacional à Academia Brasileira de Letras, no centro do Rio. O caixão chegou por volta das 21h30, sob aplausos. Era um desejo dele ser velado na biblioteca. Parentes, amigos e autoridades, como o ministro da Cultura Roberto Freire, se despediram do imortal. O enterro está marcado para as 16h, no Mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.
Ferreira Gullar é considerado um dos maiores autores brasileiros do século 20 e foi eleito “imortal” da Academia Brasileira de Letras (ABL) há dois anos, tornando-se o sétimo ocupante da cadeira de número 37.
Segundo O Globo, além da família de Gullar, estiveram presentes no velório amigos e personalidades, como o político Fernando Gabeira, o poeta Armando Freitas Filho, o cantor Fagner, o jornalista Fernando Gabeira e a cantora Adriana Calcanhotto.
Fernando Gabeira esteve na sede da ABL assim que o corpo chegou ao local e lamentou a perda. “Foi um grande poeta, um grande brasileiro e um grande maranhense, muito devotado ao seu Estado. Simplesmente um dos maiores poetas que a Academia já teve. Recentemente foi um articulista muito lúcido sobre o país, além de ter feito parte da resistência na década de 60”, disse Gabeira.
“Ele não se apegava ao que fazia. Tinha um espírito de moleque. Quando ligava pra ele, ele dava um ‘alo’ de dar medo. É uma grande perda para a cultura brasileira. Acho uma pena não ter mais o Gullar na TV, dando entrevistas”, disse Calcanhotto.
Armando Freitas Filho disse que começou a ler Gullar com 16 anos e até hoje, com 76, continua a ler.
“Um poeta assim não se acaba nunca. É importante o Brasil ter um poeta como ele, forte. Ele viveu o Brasil como poucos. Sobreviveu à ditadura, a 72 horas de tortura. Mas sinto que até hoje estamos vivendo as marcas de 1964”, disse o poeta.
O cantor Fagner lembrou também o acidente com o avião da Chapecoense, lamentando a semana triste que o país enfrentou.
“A gente está na época das perdas. Falei com ele um mês atrás e ele parecia bem, animado. Há pouco tempo passei na porta dele e não quis entrar. Então quando soube da sua morte, fiquei chocado. Gullar foi um resistente, transformou todo o sofrimento em poesia. É um momento muito triste para o Brasil. O acidente com a Chapecoense, a morte de Gullar. Hoje o céu chora”, lamentou o cantor.
Nascido em 10 de setembro de 1930, o escritor maranhense José Ribamar Ferreira atuou praticamente em todos os campos da cultura, de poesia de vanguarda à canção popular, da teoria do jornalismo e ilustração de livros infantis.
O poeta decidiu que seguiria a carreira na adolescência. Aos 18 anos, passou a frequentar os bares da Praça João Lisboa e o Grêmio Lítero-Recreativo. Um ano mais tarde, descobriu a poesia moderna ao ler Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.
O filho do comerciante Newton Ferreira e da dona de casa Alzira Goulart, que inspirou o sobrenome literário, publicou seu primeiro livro em sua cidade natal, São Luís, “Um pouco acima do chão”.
Gullar foi o responsável por escrever o manifesto que marcou a aparição, em 1959, do movimento neoconcreto, do qual também foram expoentes artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica. Durante seu exílio na Argentina, na época da ditadura militar, ele produziu “Poema sujo” (1976), obra com quase 100 páginas e que foi traduzida para diversos idiomas.
O escritor retornou ao Brasil em 1977, quando foi novamente preso e torturado. Foi solto após pressão internacional e passou a trabalhar na imprensa do RJ. Em 1986, participou de um quadro no “Jornal da Globo” em que poetas, dramaturgos, romancistas e cineastas produziam textos inspirados em fatos relatados no noticiário.
Ferreira Gullar deixa dois filhos, Luciana e Paulo, oito netos, e a companheira Cláudia, com quem vivia atualmente. O último livro que publicou foi “Autobiografia poética e outros textos”, lançado este ano.
*Publicado em: 5 dez, 2016 às 16:13