Morre Fausto Wolff, “o último Quixote”


08/09/2008


O jornalismo brasileiro foi golpeado neste primeiro fim de semana de setembro com mais uma grande perda: a do jornalista e escritor Fausto Wolff, aos 68 anos, na noite da sexta-feira, dia 5. Juntamente com Ziraldo e Jaguar, Fausto foi um dos editores do Pasquim, um dos mais combativos e influentes jornais de oposição ao regime da ditadura militar que governou o Brasil entre as décadas de 70 e 80.

Fausto Wolff foi internado no São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, no último dia 31, com hemorragia digestiva. Segundo informou a assessoria de imprensa do hospital, o jornalista entrou em coma com quadro de insuficiência respiratória e morreu às 20h05, na sexta-feira, dia 5. O corpo do jornalista foi cremado no domingo, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju. A missa de 7º dia será celebrada nesta quinta-feira, 11, às 18h30, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em frentre à praça de mesmo nome, em Ipanema.

Fausto era casado com a psicanalista e escritora Mônica Tolipan e deixou duas filhas e dois netos.

Carreira

Fausto Wolff, cujo nome de batismo era Faustin von Wolffenbüttel, nasceu em Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, em 1940. Estreou na imprensa aos 14 anos de idade, como repórter policial do Diário de Porto Alegre. Em 1958, mudou-se para o Rio de Janeiro. Foi professor de Literatura nas universidades de Copenhague e Nápoles e atuou também no teatro e no cinema.

Além de vários romances, escreveu livros de crônicas, entre os quais “Cem poemas de amor e uma canção despreocupada”, “A imprensa livre de Fausto Wolff” e “O acrobata pede desculpas e cai”. Seu último título publicado foi “A milésima segunda noite”, lançado pela Bertrand em 2005. Ultimamente, era cronista do “Caderno B”, do Jornal do Brasil, para onde foi levado pelo amigo Ziraldo.

Amigos

Chico Caruso, cartunista do Globo, conheceu Fausto Wolff na sede do Pasquim e diz que, além de amigo, o considerava um grande brasileiro:
— Eu o conheci na redação, na Rua Saint Romain, em Copacabana, e nós nos dávamos muito bem. Ele era da tribo dos brasileiros que são os grandes, que me via com olhar paternal, a mim e ao meu irmão (Paulo Caruso). Era muito talentoso e criativo. E basta olhar os obituários dele para perceber que era sério e trabalhava o tempo todo, embora ele mesmo não se levasse a sério.

Aldir Blanc ficou muito abalado com a morte de Fausto, com quem também conviveu no Pasquim e mantinha uma relação bem próxima. Pela esposa Mari, mandou um breve e emocionado recado, dizendo que o jornalista “foi o último Quixote”.

O Conselheiro da ABI Sérgio Cabral conviveu com Fausto Wolff desde que este se transferiu do Rio Grande do Sul para o Rio, aos 18 anos. Para ele, o jornalista era uma figura extraordinária, além de grande companheiro:
— Era um tipo inesquecível. Uma figura irreverente, muito inteligente, além de criativo. Quando tinha 25 anos, dizia para as moças que tinha 45, e com isso fazia um sucesso tremendo junto ao público feminino, por ser um homem maduro com cara de jovem. Além disso, foi um homem muito combativo e de excelente formação política.

O jornalista e publicitário Francisco de Paula Freitas, membro do Conselho da ABI, também lamentou a morte de Fausto Wolff:
— O Fausto teve uma importância única no jornalismo brasileiro. Ele representava uma geração de jornalistas que tinham coragem, que não se vendiam e lutavam pelos excluídos. Fausto era inconformado com as injustiças do mundo, e, ao mesmo tempo, era uma criança, um infante, uma figura terna. Tive a honra de prefaciar o livro dele “Venderam a mãe gentil”.