Merval: “eleitores são analfabetos funcionais”


23/09/2010


Por Mário Augusto Jakobskind
 
Em palestra no Clube Militar sobre o tema “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de imprensa”, nesta quinta-feira, dia 23, o jornalista Merval Pereira, de “O Globo”, alertou os militares da reserva que no Brasil a liberdade de imprensa está ameaçada por investidas do atual Governo. Disse Merval que Lula se aproveita do fato de 60% do eleitorado ser composto de “analfabetos funcionais”, que não sabem “discernir o bem”, e, aproveitando-se desse fato faz proselitismo ao se dirigir a esses setores. Para Merval, somente oferecendo educação aos brasileiros poderá se superar essa deficiência de que Lula se aproveita. 

Outro palestrante, Reinaldo Azevedo, da revista “Veja”, também fez duras críticas ao Presidente Lula, a quem considera um “sujeito autoritário, mas não chega a ser um comunista”. Utilizando-se de uma linguagem radical e aplaudido pelos militares da reserva, Azevedo considerou a oposição “vagabunda” e “mixuruca” e por isso os meios de comunicação estão ocupando o lugar dos partidos. “O papel dos meios de comunicação, de revistas como a “Veja”, segundo Azevedo, é defender a Constituição, o que está sendo feito. “Não é oposição, mas defensor da Constituição.

Rodolfo Machado Moura, diretor de Assuntos Legais da Abert(Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), também alertou sobre o “risco” pelo fato de o atual Governo estar disposto a restringir a liberdade de expressão. Moura defendeu enfaticamente a decisão do Supremo Tribunal Federal contra o diploma para o exercício profissional do jornalismo, o que, para ele, é restritivo à liberdade de imprensa.

O seminário organizado pelo Clube Militar teve o apoio do Instituto Millenium, que distribuiu folhetos informando que o grupo, financiado por empresários, tem a “missão” de “promover a democracia, a economia de mercado, o estado de direito e a liberdade”. 

Os três palestrantes citaram como exemplo de manipulação do Governo contra a liberdade de imprensa a elaboração do Conselho Federal de Jornalismo, mas não informaram que a idéia do Conselho não foi do Governo, mas da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj). 

Merval Pereira e Reinaldo Azevedo também criticaram a exigência do diploma para o exercício profissional do jornalismo. Merval informou que não tem diploma nenhum, mas passou um ano nos Estados Unidos na Universidade Colúmbia, onde ministrou palestras sobre o Brasil e ainda num curso de doutorado em Standford. 

No entender de Merval, que também fez duras críticas ao “chavismo, que o Governo brasileiro segue”, a exigência do diploma é um viés corporativo e ainda associou isso à “tendência do Estado brasileiro em controlar a mídia”. 

O colunista de “O Globo” também fez críticas ao Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, afirmando que ele já disse que os Estados Unidos têm controle sobre a cultura no mundo e para enfrentar tal situação é necessário o Estado atuar. 

Do lado de fora do Clube Militar, estudantes promoveram uma manifestação contra o que consideram “golpismo da mídia conservadora”, fato que foi duramente criticado por Reinaldo Azevedo, por considerar os manifestantes autoritários e de não aceitarem quem não defende as mesmas idéias. 

*Mário Augusto Jakobskind é membro do Conselho Deliberativo da ABI e da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos