Jornalista americano pode ser condenado a 105 anos de prisão


12/07/2013


O jornalista investigativo norte-americano Barrett Brown, colaborador do jornal The Guardian e da revista Vanity Fair, pode ser condenado a 105 anos de prisão, informou a ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras-RSF, na última quinta-feira, 11 de julho. Antes de ser detido, em setembro de 2012, o repórter investigava o conteúdo de mais de cinco mil e-mails pirateados pela empresa privada de espionagem e inteligência StratFor. A companhia sofreu um ataque de hackers em seus servidores e os emails acabaram sendo publicados pelo WikiLeaks. Brown está detido pelo Governo dos EUA e o processo contra ele deve se iniciar em setembro.

As informações vazadas da Stratfor permitiram revelar as obscuras relações entre os serviços de inteligência governamentais estadounidenses e empresas de segurança privadas. Entre os conteúdos dos emails, estão conversas sobre “oportunidades de sequestro e de assassinato”, segundo a publicação The Nation. Em uma das mensagens, o vice-presidente de inteligência de StratFor, Fred Burton, inclusive sugeria “aproveitar o caos na Líbia para sequestrar Abdekbaset al-Megrahi, autor do atentado de Lockerbie, que havia sido posto em liberdade por razões humanitárias devido a sua doença terminal”.

“Barrett Brown não é um criminosos nem delinquente”, afirmou Christophe Deloire, secretário-geral de RSF. “Não infiltrou nenhum sistema e não parece ter o conhecimento técnico para isso. É um jornalista investigativo que simplesmente cumpre seu dever profissional investigando um caso de interesse público. A pena de 105 anos de prisão que pode receber é perigosa e absurda. Mesmo Jeremy Hammond, quem se declarou culpado pelo roubo de informação da Stratfor, poderia passar no máximo dez anos na prisão. Ameaçar um jornalista com uma condenação como essa se constitui um verdadeiro incentivo a autocensura para todos aqueles que se dedicam a investigação”, afirma Deloire.

Utilizando a informação de StratFor que estava na internet, Brown decidiu examinar os emails y compartilhá-los com os colaboradores do ProjectPM, um site que funciona como base de dados dedicada a investigar a colaboração entre setores público e privado norte-americanos em matéria de inteligência e vigilância na rede. O jornalista postou um link que redirigia até um documento em que apareciam informações dos cartões de crédito de clientes de StratFor, assim como os mais de cinco milhões de emails internos roubados da empresa.

Barrett Brown foi detido em 12 de setembro de 2012 pelo FBI. O jornalista foi detido sem ser informado das acusações e sem direito à fiança, além de ficar sem direito a tratamento médico apropriado durante duas semanas. Em 14 de dezembro foram apresentadas 12 acusações contra ele relativas ao roubo de informação de StratFor, e em janeiro desse anos, surgiram novas acusações contra Brown por “ocultamento de provas”.

“Cabe recordar que Barrett Brown já era objeto de atenção dos EUA por ter contribuído com a divulgação do Team Themis, projeto em que também participaram empresas privadas contratadas pelo governo federal, que buscava arruinar financeiramente o coletivo Anonymous e calar jornalistas que simpatizavam com ele. Representantes do Partido Democrata pediram a criação de uma comissão que investigasse o assunto. O caso de Barrett Brown se agrava ainda mais o preocupante clima que enfrenta a liberdade de informação nos Estados Unidos”, concluiu a RSF.

*Com informações da RSF.