Jornal boliviano sofre embargo de bens


10/06/2013


"El Diario" na Bolívia Foto: AIZAR RALDES / AFP

“El Diario” na Bolívia Foto: AIZAR RALDES / AFP

Funcionários do Serviço Nacional de Impostos (SNI) da Bolívia invadiram, com policiais, o prédio do jornal “El Diario” – fundado em 1904 e o terceiro no ranking de maior circulação em La Paz – para embargar as propriedades do grupo de comunicação devido a dívidas de 128 milhões de bolivianos (R$ 40 milhões) com o fisco. O jornal não nega a dívida, mas assegura que ela não chega a 10% do valor e que a ação teve motivos políticos.

A invasão ocorreu na quinta-feira, e o jornal circulou normalmente nesta sexta, pois os equipamentos continuam em posse do “El Diario”, que afirma ser o mais antigo jornal boliviano, com 109 anos de existência. Estimativas da imprensa local o colocam entre os três mais lidos do país. O gerente-geral, Jorge Carrasco, afirmou que a empresa está amortizando sua dívida. Segundo ele, o SNI não poderia ter entrado no jornal sem emitir uma notificação prévia. Ele questionou o embargo das propriedades do jornal, incluídas as máquinas de impressão, pois a lei protege equipamentos produtivos.

Parte do prédio do jornal já estava embargado antes, também por dívidas, então estão cobrando duas vezes pela mesma coisa. Eles cometeram vários erros legais, não nos notificaram antes e embargaram equipamentos produtivos, o que não é permitido pelas leis. Além disso, não recebemos um único ofício até hoje (sexta-feira) – disse Carrasco por telefone.

A ação, contou o executivo, foi feita pela manhã, com dezenas de pessoas, entre eles policiais. A equipe do governo entrou pela porta da frente e pelo subsolo sem consentimento dos seguranças do prédio, causando confusão, afirma Carrasco. O jornal tem cerca de 200 funcionários, entre os quais 50 jornalistas. Vendedores fizeram uma manifestação nesta sexta-feira em La Paz contra a medida do governo.

Segundo o gerente, os funcionários impediram que a equipe do SNI entrasse na sala de máquinas que imprimem o jornal, mas não houve uso da força. Além da confusão, contou, o embargo se resumiu a alguns adesivos colados na entrada e em duas máquinas que não pertencem à empresa.

O advogado do SNI, Carlos Herrera, afirma que o jornal está tecnicamente falido, pois todo seu patrimônio não cobre 10% da dívida com o Estado. Segundo ele, no ritmo atual, o “El Diario” “vai demorar 300 anos para pagar o que deve de impostos”.

Decisão da Corte Suprema

O presidente do SNI, Roberto Ugarte, declarou à imprensa boliviana que o jornal tem um histórico problemático na hora de pagar seus impostos.

– O “El Diario” sempre representou uma dor de cabeça para pagar seus impostos. Como empresa, como meio de comunicação, ele tem que cumprir com o pagamento – disse.

Em resposta às críticas de que não havia comprovado as dívidas do jornal, o SNI publicou uma nota em seu site afirmando que três autos da Corte Suprema de Justiça reconhecem dívidas de 84 milhões de bolivianos, além de 19 milhões em declarações juradas e 24 milhões em resoluções do próprio SNI. Na nota, Ugarde afirma que o embargo foi feito como cumprimento dos acórdãos do tribunal superior e que são “coisa julgada”. As dívidas do “El Diário”, afirma, não podem ser revisadas por nenhuma autoridade. “Só falta serem cobradas”, diz a nota do SNI.

O jornal, entretanto, sustenta que a ação foi ilegal e considera a possibilidade de entrar com uma ação contra o SNI para invalidar o embargo. Em nota no site, o “El Diario” afirma que se trata de uma perseguição política por parte do governo, que não toleraria críticas. Mas Carrasco nega que o jornal se caracterize por ser crítico ao governo de Evo Morales; e alega que apenas pratica o jornalismo.

– Querem nos intimidar e nos calar por fazermos um jornalismo isento. Não somos nem contra nem a favor. Trabalhamos com equilíbrio e isenção.

Texto: André Lobato / Com Agências Internacionais