Vice Alencar na missa do JB


26/04/2010


foto: Bel Junqueira

Dom Orani celebra missa

O Vice-presidente José Alencar foi uma das autoridades que prestigiaram a missa gratulatória dos 119 anos do Jornal do Brasil, celebrada na Igreja da Candelária, a partir das 12h desta segunda-feira, 26 de abril, pelo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta. Na oração que proferiu, Dom Orani exaltou o papel cumprido pelo JB ao longo da História da República e pela democracia, nos dias atuais.

Compareceram à missa centenas de pessoas, entre as quais o ex-Presidente Itamar Franco, o Secretário-chefe da Casa Civil do Estado do Rio, Régis Fichtner, representando o Governador Sérgio Cabral, e os Senadores Paulo Duque (PMDB-RJ) e Marcelo Crivella (PRB-RJ), os Deputados Miro Teixeira (PDT-RJ) e Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), o Presidente de Honra da Fifa, João Havelange, o acadêmico Arnaldo Niskier, o professor Carlos Alberto Rabaça, autor com Gustavo Barbosa do “Dicionário de Comunicação”, os Presidentes da ABI, Maurício Azêdo, do Clube de Engenharia, Francis Boghossian, da Fundação Cesgranrio, professor Carlos Alberto Serpa, do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, Conselheiro Thiers Montebello, da Associação Comercial do Rio de Janeiro, José Luiz Alquéres, e da empresa Carvalho Hosken, Carlos Carvalho, o Deputado estadual João Pedro (DEM), e a Vereadora Aspásia Camargo (PV), e o Diretor do Projeto Música no Museu, Sérgio Costa e Silva. Encerrado o ato religioso, o Presidente do JB, Pedro Grossi, recebeu os cumprimentos dos presentes.

Comemorando seu 119º aniversário, o JB editou um suplemento de oito páginas em que mostra a resistência do jornal à ditadura militar. A edição especial traz na primeira página o título “Uma história de resistência”, fac-simile da capa da edição do jornal que circulou no sábado 14 de dezembro de 1968, um dia após a decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que deu início ao grave período de censura e violação dos direitos de liberdade de imprensa e de expressão, vividos pelo Brasil durante o regime militar (1964-1985).

Referindo-se ao período de exceção, um dos textos da capa do suplemento especial cita que a ditadura militar pôs à prova a capacidade de resistência do JB, destacando que a censura não foi impedimento para que o jornal persistisse “na defesa dos valores democráticos, característica marcante de uma história de 119 anos”.

Em outro texto da primeira página do suplemento, fica-se sabendo o que aconteceu na Redação do JB na noite de 13 de dezembro de 1968, data da promulgação do AI-5: “Às 10 horas da noite do dia 13 de dezembro de 1968, o JB estava com a edição fechada, quando, em cadeia de rádio e TV, foi anunciado o mais violento instrumento de arbítrio da ditadura militar: o Ato Institucional nº 5, que extinguia direitos constitucionais, abria caminho para o fechamento do Congresso e criava censura prévia à imprensa”.

Invasão

Poucos instantes depois, a Redação do jornal foi invadida por quatro capitães do Exército que se instalaram na sala dos editores, no prédio do jornal que funcionava na Avenida Brasil, nº 500. Os agentes da ditadura começaram a determinar a proibição de grande parte das reportagens que seriam publicadas. A saída para o jornal foi trazer anúncios do caderno de classificados para o noticiário.

E aí o JB encontrou uma saída para manifestar a sua primeira “resistência à opressão”, manifestada em dois pequenos retângulos na primeira página. O texto da previsão do tempo, colocado ao alto da primeira página, à esquerda dizia: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O País está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 18º, em Brasília, Min.: 5º, nas Laranjeiras”.

Na página 2 do suplemento, no artigo “Ironia dribla a censura”, o jornalista Ubirajara Loureiro conta que nem a presença dos censores fardados na redação do jornal conseguiu conter o espírito democrático que sempre imperou no JB.

Ubirajara recorda o comportamento dos militares no jornal: “Pouco familiarizados com a rotina de um grande jornal, os militares, pelo relato dos editorialistas que com eles mantinham contato, jamais assumiram qualquer atitude prepotente e sem polidez. A prepotência era do regime… Mesmo assim eram rigorosos no exame das reportagens e artigos de opinião”.

Segundo Ubirajara Loureiro, um anúncio de uma missa comum foi transformado em chamada de primeira página, com alusão ao AI-5, cujo texto dizia: “Ontem foi o dia dos cegos”. Foi dele a idéia da nota do tempo: “Nesse clima não tive dúvidas e escrevi: ‘ Tempo negro, ar irrespirável etc.’ Só lamento até hoje que um copydesk, designado pelo então editor Alberto Dines, que aprovara a idéia, tenha cortado o que considerava um fecho de ouro para a chamada da meteorologia: “Não há perspectivas de melhoria para os próximos anos”.

Soube-se depois que por causa da sua “ingenuidade e inexperiência” os jovens censores militares foram motivos de chacota dos seus companheiros de farda, porque não perceberam as ironias publicadas pelo JB na edição de 14 de dezembro de 1968.

Por causa da ousadia, o JB sofreu um duro golpe do regime, que mandou prender, no mesmo dia, o ex-embaixador José Sette Camara, que era diretor do jornal. Informada da prisão, a Presidente do JB, Condessa Pereira Carneiro, entrou em contato com os interlocutores do Governo militar, informando que enquanto o seu diretor fosse mantido preso o jornal não circularia. A edição de domingo já estava pronta, mas como ele só foi libertado na madrugada, o JB não circulou naquela data — 15 de dezembro de 1968.

Outro episódio que demonstra a firmeza com que o Jornal do Brasil encarou o regime da ditadura militar aconteceu em 1964, logo após o golpe que tirou João Goulart da Presidência. Uma tropa de fuzileiros navais invadiu o prédio do jornal, que à época funcionava na Avenida Rio Branco, nº 110, no Centro do Rio. A Condessa dirigiu-se ao comandante da tropa e disse: “Meu filho tome conta do jornal. Ele não me pertence, pertence a vocês, pertence ao País”.