05/07/2022
Por Maria Luiza Busse, diretora da Cultura da ABI
“Dupla delícia. O livro traz a vantagem de a
gente poder estar só e ao mesmo tempo
acompanhado”. (Mario Quintana)
Uma medalha para Sergio Paulo Rouanet. São mais de 100 livros produzidos pelo intelectual, pensador, tradutor, professor, diplomata e criador da lei de incentivo à Cultura, que faleceu domingo aos 88 anos. O leitor sempre foi sua maior condecoração. Nossos sentimentos à Barbara Freitag, intelectual e companheira da vida inteira.
O espectador noturno: a Revolução francesa através de Rétif de la Bretonne
A produção de Sergio Paulo Rouanet é uma viagem pelo pensamento do século XVIII até o nosso. Em 2007 lançou Riso e Melancolia, análise literária sobre a escrita de diversos autores, entre eles Machado de Assis, em que identifica a interpenetração de riso e melancolia. Mas nossa dica é O espectador noturno: a Revolução francesa através de Rétif de la Bretonne. em que Rouanet trabalha sobre as impressões do romancista francês que observa os acontecimentos e se faz cronista retratando os primeiros anos revolução. Editora Companhia das Letras.
Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet
Julien Assange sabia do que estava falando quando escreveu Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet publicado no Brasil em 2013. O livro também leva a assinatura dos companheiros ativistas cypherpunks Jacob Appelbaum, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmermann. A questão principal abordada pelo grupo é: a comunicação eletrônica vai nos emancipar ou escravizar? A previsão de Assange foi de uma futura onda de repressão na esfera on-line. O assédio ao WikiLeaks e as tentativas de introduzir uma legislação contra o compartilhamento de arquivos indicavam que as políticas da internet chegaram a uma encruzilhada. De um lado, um futuro que garantiria privacidade para os fracos e transparência para os poderosos; de outro, a ação da parceria público-privada sobre os indivíduos permitindo a governos e grandes empresas saberem cada vez mais sobre os usuários e de esconderem as próprias atividades sem precisar prestar contas de seus atos. Assange está detido na Inglaterra, aguardando extradição para os Estados Unidos aonde está condenado a 175 anos de prisão por vazamento de documentos sobre as guerras no Iraque e Afeganistão. Editora Boitempo.
Guerra híbrida e neogolpismo:geopolítica e luta de classes no Brasil (2013-2018)
Hoje, às 18h, tem debate sobre as táticas e os mecanismos que movimentaram as forças políticas nas jornadas de junho de 2013, no golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, prisão do ex-presidente Lula e eleição do de Jair Bolsonaro em 2018, assunto analisado no livro Guerra híbrida e neogolpismo:geopolítica e luta de classes no Brasil (2013-2018). A partir dos conceitos de guerra híbrida e seu desdobramento, o neogolpismo, Mateus Mendes, professor da rede municipal de Duque de Caxias e doutorando em Economia Política das Relações Internacionais na UFRJ, avalia a influência da elite brasileira nas pautas amplificadas pela mídia hegemônica que interromperam o processo democrático sem a conhecida violência explicita das Forças Armadas. O autor traz, ainda, o papel da ideologia neoliberal da elite nacional alinhada com o imperialismo estadunidense, identificação que facilitou a implantação da guerra híbrida e do golpismo no Brasil. Uma publicação da editora Expressão Popular. O debate é no Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e aberto aos interessados.
Astrojildo Pereira, o PCB em obras completas
Em comemoração aos 100 anos do Partido Comunista do Brasil, lançamento das obras do fundador Astrojildo Pereira. São seis livros com edição revisada e atualizada. No conjunto estão URSS Itália Brasil, de 1935, Interpretações, de 1944, Machado de Assis: ensaios e apontamentos avulsos, de 1959, Formação do PCB:1922-1928, de 1962, e Crítica impura, de 1963. Completa o conjunto a biografia de Astrojildo, O revolucionário cordial, assinada por Martin Cezar Feijó. A publicação é da Boitempo.
O cavaleiro, a mulher e o padre
A instituição do casamento que ainda hoje rege a união de indivíduos e famílias é examinada com detalhe e graça pelo historiador Georges Duby. De um contrato profano estabelecido entre famílias nobres para seus herdeiros se manterem no poder, até a instauração de ritual litúrgico que autoriza a relação carnal na sociedade cortesã europeia, é possível conhecer a noção de casamento que vai se estruturando entre os séculos X e XIII tendo que lidar com questões como incesto, poligamia, concubinato, direitos das mulheres e dos herdeiros, oficiais e bastardos. No entanto, o estabelecimento do que vale ou não no casamento não se dá apenas a respeito da moral e da ordem, mas também nas articulações políticas que as alianças familiares podiam promover ou barrar. Editora Unesp.