Em Foco: Eurico Dantas, A arte no olho do fotógrafo


16/08/2016


Repórter Rodrigo Caixeta

05/05/2006

eurico dantasA primeira foto de Eurico publicada foi a de um jogo do Campeonato Carioca de Juvenil no campo do Olaria. A segunda, em que usou uma máquina caixote, de uma praia lotada na Ilha do Governador: A trajetória de Eurico Dantas na fotografia teve um início curioso. Aos 15 anos, ele foi contratado como contínuo no jornal O Globo. Após algum tempo, trabalhou no Arquivo do jornal, quando nasceu o seu interesse pela fotografia, que funcionava numa sala ao lado de seu setor.
— Depois acabei indo para a Aeronáutica, onde passei dois anos, mas voltei para O Globo, novamente para trabalhar no Arquivo. Conheci alguns fotógrafos, me tornei amigo de alguns deles e, esporadicamente, usava as câmeras do jornal e fui aprendendo. Em 1962 começou a minha escalada.

— Aí não parei mais. Como eu trabalhava no Arquivo, mas sabiam que eu tinha algum conhecimento de fotografia, quando era preciso de alguém para fotografar um personagem, ou qualquer coisa rápida, me chamavam.

A contratação como fotógrafo aconteceu com a saída de um antigo profissional do Globo:
— Surgiu uma vaga na madrugada e me convidaram. Já era casado, tinha filho pequeno, mas agarrei aquela chance com unhas e dentes. Daí fui crescendo profissionalmente, viajei muito, fiz Copa do Mundo, cobri terremotos. Fiz de tudo, mas a minha preferência era por futebol. Porém, independentemente da editoria, o que eu gosto é de poder escolher um bom local para fazer a foto. Se aparece uma oportunidade, procuro fazer o registro, porque fotografia é um momento. Se você não o aproveita, não faz mais.

Eurico se aposentou quando tinha 40 anos de O Globo, mas a paixão pela fotografia o levou de volta ao batente, recomeçando suas atividades no jornal O Dia, onde ficou seis anos como fotógrafo e coordenador de Fotografia. Hoje — e também há seis anos — ele coordena a equipe de fotógrafos doExtra, mas, de vez em quando, vai para a rua fazer fotos ou acompanhar os jogos no Maracanã:
— O fotógrafo tem que estar atento a tudo. No futebol, por exemplo, é preciso estar ligado o tempo todo, porque, se você se descuidar, um colega faz o que você não fez. Se você está num local, cobrindo qualquer tipo de evento, e desvia sua atenção, corre o risco de perder a notícia. Nunca perdi um lance por bobeira. O momento é como um raio; depois que acontece, você não consegue vê-lo novamente nunca mais.

DSC00195Do período da ditadura, Eurico se recorda que saiu ileso das agressões comuns a jornalistas e repórteres-fotográficos:
— Fiz cobertura de todos os presidentes do regime militar, do Castelo Branco ao Figueiredo. Nunca cheguei a apanhar, embora minha câmera tenha sido quebrada diversas vezes. Foi um período em que era preciso estar mais atento que nunca, porque você podia ser vítima de um tiro, de uma pedrada, ou até de vasos de planta que eram jogados contra os policiais. Não sei como muita gente da imprensa sobreviveu, porque a pauleira era violenta.

Outra “pauleira” de que ele não se esquece é a cobertura do terremoto na Guatemala, em 1976:
— Estava no hotel revelando os filmes quando a terra foi sacudida e eu fiquei preso dentro do banheiro. Gritei para o repórter, que estava na saleta, para saltar pela janela — o apartamento era no primeiro andar —, mas ele disse que estava preso no chão. A tragédia acabou com mais de 20 mil mortos. Fiquei lá quase duas semanas e todo dia a terra tremia.

Segundo Eurico, “a arte de fotografar está no olho do fotógrafo, na mente dele”. Mas só a prática pode torná-lo um bom profissional:
— O aprendizado acontece no dia-a-dia. É no trabalho que ele pega teoria e une à prática, aprendendo também com a experiência dos colegas da redação.

E se o fotógrafo almeja viajar, o caminho está na editoria de Esportes:
— Aprendi que é preciso saber fotografar desde o buraco da rua até o Presidente da República, sempre procurando o melhor clique. Mas se o cara não fizer esportes, não sai daqui. A bola é o mestre do fotógrafo, que o leva a conhecer o mundo.

Adepto das evoluções tecnológicas, Eurico trabalha com câmera digital, mas foi com equipamentos analógicos que construiu a maior parte do acervo do qual tanto se orgulha:
— Tenho 2.362 gols fotografados, um recorde mundial, e tudo arquivado.

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