“É forte a disputa pela vaidade e menos pela vontade de cumprir uma missão profissional” (William Waack)


10/02/2005


Para se cobrir uma guerra, o futuro correspondente precisa apresentar a sua candidatura. Pode parecer difícil de acreditar, mas a cobertura de conflitos é disputadíssima. Muitos jornalistas precisam se apresentar mais de uma vez até serem enviados. E não que as diárias pagas justifiquem. Em uma agência de notícias internacional como a France-Presse, por exemplo, paga-se entre US$60 e US$110 por dia numa cobertura como a guerra no Iraque. Algumas vezes, cabe ao próprio jornalista pagar suas despesas com alimentação e hospedagem e as seguradoras brasileiras não aceitam fazer seguro para jornalistas que cobrem guerras, devido ao risco de vida, de quase 100%.

As motivações, no entanto, são as mais variadas: idealismo profissional, prestígio e, algumas vezes, vaidade.

“É forte a disputa pela vaidade e menos pela vontade de cumprir uma missão profissional”, avalia o prestigiado jornalista William Waack, da Rede Globo, com uma vasta experiência após a cobertura de oito conflitos para jornais e televisão, seis no Oriente Médio e dois nos Bálcãs.

“Muitos colegas querem ir para a guerra apenas pelo que consideram valorização do prestígio pessoal, e fazem de conta que estiveram na cobertura do conflito para acrescentar ao currículo o título ‘correspondente de guerra’”, afirma Waack.

Soldados sul-vietnamitas fazem curativo em Luis Edgard de Andrade. Saigon, maio de 1968.

Para outros, como no caso do veterano jornalista Luis Edgard de Andrade, que foi cobrir a Guerra do Vietnã por conta própria, a motivação foi “a paixão e a aventura” que aquele conflito despertava na geração de 1968. 

“A guerra do Vietnã significou para os jornalistas, nos anos 60, o que a guerra da Espanha tinha simbolizado, nos anos 30, para a geração de Hemingway, Kostler e Malraux: um momento de paixão e aventura. Os jornais dedicavam uma página por dia a esse conflito”, explica.